Quo Vadis, Europa?

Nacional

42 mortos, centenas de feridos e o silêncio absoluto.

É este o resultado da cooperação securitária entre as monarquias facínoras de Espanha e Marrocos que à porta do enclave de Melilla concretizaram em sangue e vida imigrante as políticas da União Europeia. Um episódio mais a juntar à crise humanitária do caldo de carne do Mediterrâneo e à infame e mortífera colaboração entre Espanha e Marrocos no que toca a dar fim a quem por intervenção directa e indirecta do imperialismo procura dar um sentido de dignidade à vida.

Espancados, asfixiados ou esmagados, agonizando durante horas, os imigrantes, na sua maior parte subsarianos, muitos requerentes de asilo, que tentavam passar para Melilla, foram cercados pelas forças de segurança marroquinas e espanholas resultando neste trágico desfecho. O silêncio ensurdecedor das autoridades europeias e dos países que compõem a muy nobre e feudal união europeia demonstra a cumplicidade perante a acção coordenada entre espanhóis e marroquinos, silêncio só interrompido pelas loas de Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, às forças policiais dos dois países e à cooperação entre estes. Aliás, não é novidade que para a monarquia espanhola outros valores se sobrepõem aos humanitários, quando há três meses Pedro Sánchez manifestou o apoio do estado castelhano às pretensões marroquinas sobre o destino da República Saaraui, num claro alinhamento colonialista.

As entidades portuguesas, em beneplácito com este comportamento não se pronunciaram, nem mesmo Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda fazendo pouco tempo de ter alargado as fronteiras portuguesas para todo o espaço da união europeia e mais além, se achou no dever de condenar a tragédia e os respectivos responsáveis, aos seus olhos acontecimentos que tiveram lugar nas nossas fronteiras. A tragédia aprofunda o etnocentrismo das políticas europeias, que prosseguem o seu caminho fascizante a toque de caixa do imperialismo americano e do ressurgimento do militarismo e da externalização das fronteiras. Sabemos bem que para o actual projecto europeu há vidas humanas que contam mais que outras, e ainda outras que não contam sequer, mas humanistas e progressistas continuarão nestas piores horas da histórias da humanidade e nestes velhos tempos novos, a prosseguir luta e a dar combate a este modelo político e económico inumano e desprovido de solidariedade.

 

Melilla foi um crime, um crime que não se perdoará.