Russofobia

Internacional

A actual russofobia e uma forma indirecta de anti-comunismo. Ela nasce da percepção – errada – de que a actual Federação Russa é um prolongamento da antiga URSS por via de Putin e do seu passado ligado ao КГБ (KGB). Na verdade a actual Federação Russa é, no essencial, naquilo que é caracterizador da natureza de uma sociedade, a negação daquilo que foi a URSS.

O clima de nova guerra-fria está todavia instalado. Admitir por um segundo que a Rússia possa ter justificações razoáveis para a sua política externa, nomeadamente no que à Ucrânia e à Crimeia diz respeito (deixemos a Síria fora deste debate, para não o tornar ainda mais complexo e potenciador da activação de pré-conceitos) é para a esmagadora maioria dos comentadores uma não opção, sob pena de estarem assinando – com as suas palavras – uma condenação duradoura no que diz respeito à sua continuidade nos palcos do circo mediático reinante.

De resto o que sobre a Rússia se diz eleva o debate a patamares inigualáveis no que ao disparate diz respeito. O ex-ministro da defesa e dos negócios estrangeiros, Luís Amado, referiu no passado dia 19 (no programa “Pares da República”, na TSF) que a “anexação” da Crimeia por parte da Rússia é “o mais grave atentado à ordem europeia do pós-guerra”. Mais: acrescentou que “desde a segunda guerra mundial que não se via um acto de anexação com esta brutalidade e com esta crueza” (sic). Faltou ao senhor-voos-ilegais-da-CIA explicar no que se baseia para qualificar como brutal um processo que decorreu, tanto quanto se sabe e até à data do acto eleitoral que conduziu à separação da Crimeia relativamente à Ucrânia, sem uma única vítima mortal a lamentar.

A verdade é que não se tolera à Rússia uma centésima parte daquilo que se considera lamentável mas não mais do que isso relativamente ao polícia-do-mundo norte-americano. E que, por outro lado, se fecham os olhos relativamente ao verdadeiro farwest em que se tornou Kiev, quando uma centésima parte dos atropelos aos direitos democráticos ali verificados conduziria a repressão sangrenta num qualquer país da europa ocidental.

A russofobia existe, sim senhor, e há quem faça gala em a mostrar como um género de demonstração militante de vinculação aos “valores” do “Ocidente”.