Ser democrata em Portugal

Nacional

Um dos bloggers do blasfémias insinua que eu pareço um “segurança de discoteca”, como se o aspecto físico de uma pessoa pudesse servir de argumento para coisa alguma. Sobre isso, duas coisas: i) já fui sim, com muito orgulho; ii) que dirás de Carlos Abreu Amorim?

Um outro senhor, que escreve no público, compara o fascismo com o comunismo. É assunto mais relevante que o meu aspecto físico e merece alguns comentários, atalhando a componente histórica que dita que este João Miguel Tavares não passa de um ignorante ou de um deliberado manipulador e revisionista da História.

Então, deixando de lado as considerações que faz sobre comunismo e fascismo, vejamos efectivamente o que defende JMT: “Tristemente, pelas razões históricas conhecidas, a Constituição portuguesa não trata o fascismo e o comunismo da mesma forma. A palavra “fascista” aparece três vezes, a palavra “comunista” nenhuma, e a palavra “socialista” uma só vez, no famoso preâmbulo que propõe ainda hoje que o país abra “caminho para uma sociedade socialista”. Como não se cansaram de nos relembrar aqueles que tentaram impedir Jaime Nogueira Pinto de falar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, só a ideologia fascista está proibida de se organizar em Portugal. No artigo 46º da Constituição, dedicado à liberdade de associação, é dito no ponto 4 que “não são consentidas organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista”. No entanto, aqueles que apareceram a tentar justificar o injustificável com a Constituição na mão esquerda e as convicções ideológicas da Nova Portugalidade na mão direita, esqueceram-se deste pormenor: para alguém ser fascista não basta gritar “fascista!” à sua passagem, e até o PNR é legal e concorre às eleições em Portugal.”

Vamos usar um bocadinho a lógica. Portanto, “tristemente” a Constituição não trata de forma igual “fascismo” e “comunismo”, de que podemos depreender que o autor do texto defende que assim deveria ser. Em que sentido? Ambos legalmente organizados ou ambos ilegalizados e proibidos? O teor do seu texto apresenta um estranho sentido: o de insinuar que as organizações fascistas devem ser permitidas desde que disfarcem a sua natureza, como o PNR e a Nova Portugalidade. Já os comunistas, que não são de disfarçar, antes de assumir com orgulho a sua história e o seu presente, deviam ser ilegalizados. Sobre o carinho deste JMT pela democracia está tudo dito.

A forma como se tenta demarcar do fascismo enquanto ideologia e prática cai por terra quando acha que a Nova Portugalidade, o PNR e as conferências de fascistas devem ser consentidas no âmbito da convivência democrática, mas os “comunistas”, esses, “tristemente” não foram proibidos no texto constitucional.

Objectivamente, JMT assume que as organizações comunistas deviam ser proibidas, enquanto que as nacionalistas não, fingindo ignorar que o nacionalismo de que fala é exactamente o mesmo que “fascismo” porque isto é válido para tudo, caro JMT: “para alguém ser fascista não basta gritar “fascista!” à sua passagem”. Tal como para fazer do PNR, ou do Nogueira Pinto ou do Rafael democratas, não basta vires gritar “democrata! à sua passagem.

JMT compara-me a Rafael, o tal que ajoelha na campa do ditador fascista português – concedes que lhe chame assim, JMT? Ou era um corporativista (já agora, o próprio Mussolini deu o nome corporativismo à forma de organização do Estado fascista)? Ou um democrata com défice de atenção? Mas na verdade, os mais perigosos fascismos não são os da bota cardada e das peregrinações a Santa Comba, mas os que armados da democracia na mão esquerda e da comunicação social na mão direita, vão medrando nas suas fragilidades e alimentando a serpente, como faz JMT.

JMT é um liberal e finge não saber que o Estado fascista é precisamente o modelo económico que o próprio defende, conseguido à lei da bala quando os trabalhadores não colaboram:

“Lo Stato ci dia una polizia, che salvi i galantuomini dai furfanti, una giustizia bene organizzata, un esercito pronto per tutte le eventualità, una politica estera intonata alle necessità nazionali. Tutto il resto, e non escludo nemmeno la scuola secondaria, deve rientrare nell’attività privata dell’individuo. Se voi volete salvare lo Stato, dovete abolire lo Stato collettivista.” (Mussolini, Primo discorso alla Camera, 1921).

JMT não diria melhor e subscreve o projecto económico dos fascistas, bem como os seus métodos legais de alienação da propriedade pública, como as privatizações – de que Mussolini foi pioneiro e acérrimo defensor, levando a cabo um dos mais. senão o mais ambicioso plano de privatizações do século XX.

E, sendo JMT um liberal, não gosta de doutrinas “iliberais”, como os comunismos e os fascismos, apesar de não conseguir disfarçar uma simpatia ideológica pelos segundos e seus filhos nacionalistas. Mas, JMT, para não seres fascista não basta gritar “democrata!” à tua passagem.

A tua vontade de proibir o meu partido, as organizações comunistas, coloca-te exactamente no mesmo patamar dos Rafaeis com que tentas comparar-me, sem perceber que com isso me estás ao mesmo tempo a comparar contigo. Mas, JMT estás enganado. Felizmente, eu não sou como tu.

E que sorte tens tu por eu não ter nada a ver com as organizações que tu tão candidamente toleras e com quem me comparas… os métodos deles são bem mais agressivos.