Sim à Escócia Independente!

Internacional

Celebra-se hoje na Escócia o referendo que deposita nas mãos do seu povo a soberania perdida há quatrocentos anos. Mas não nos iludamos, se o sim ganhar, o povo escocês continuará oprimido. A liberdade verdadeira só virá com o socialismo e, como se perguntava Connolly, de que serve substituir a Union Jack, por outra qualquer bandeira, se quem continuará a governar serão outros representantes da mesma burguesia?

Com efeito, embora o respeito pelo direito à auto-determinação dos povos seja apanágio dos comunistas, o critério para apoiar ou combater um processo secessionista deve ser sempre guiado pelos interesses que o proletariado aí encontra no caminho da sua libertação social e política. Por outras palavras, a História é generosa com argumentos a favor da independência da Escócia e a sua cultura justifica lapidarmente um Estado próprio, mas o que ganhariam com isso os trabalhadores? A verdade é que ninguém sabe. O que estão em causa são riscos e potencialidades para os trabalhadores escoceses, os britânicos e os do mundo inteiro.

Para compreender o que está em causa, devemos primeiro observar a reacção do grande capital e das potências imperialistas. De Barack Obama a Hillary Clinton e Durão Barroso, e atravessando hordas de representantes da NATO e da UE, todos se manifestaram contra a independência. Porque, nas palavras de Obama, “queremos os nossos aliados fortes e coesos”. Também a alta finança se mostrou apreensiva, com ameaças de deslocalizações e desinvestimento, e activa, financiando a campanha do Não com milhões de libras. Para além de qualquer dúvida, para uma fatia substancial do grande capital e para o imperialismo europeu e estado-unidense, a independência da Escócia não é positiva. Para além de fracturar uma potência imperialista histórica, a independência da Escócia é uma ameaça real às armas nucleares do Reino Unido, deixa em aberto a permanência na NATO e promete abertamente o fim da participação escocesa em mais guerras imperialistas no Oriente Médio.

O nervosismo do capital ficou patente na diversidade das ameaças: O Royal Bank of Scotland ameaçou mudar-se para Londres; a UE disse que a readmissão seria muito difícil; a NASA disse que a Escócia ficaria exposta a ataques… vindos do espaço. É que, apesar do futuro de um eventual Estado Escocês estar noivo do social-democrata Partido Nacionalista, o sentir político escocês está à esquerda do RUK (resto do Reino Unido) e a correlação de forças não tem qualquer correspondência com o espectro partidário inglês.

Quando visitei Edimburgo há alguns anos, constatei que os escoceses são capazes de articular com clareza ideias importantes, que ainda são estrangeiras para parte considerável dos ingleses: que o Estado deve assegurar o bem-estar da população, que os imigrantes são bem-vindos, que as guerras imperialistas são injustas, que o Estado deve controlar sectores estratégicos da economia, etc. Independentemente de hoje o SNP capitalizar estes sentimentos, eles podem viabilizar um futuro cenário político impossível no RUK durante os próximos anos. Ou seja, os tímidos desenvolvimentos em direcção ao socialismo que são possíveis na Escócia, não são possíveis no RUK e a continuação da política neoliberal que é possível no RUK não é possível na Escócia.

Por outro lado, os que acusam o independentismo de “querer dividir a classe operária britânica” não compreendem uma coisa: os escoceses não são britânicos. Quem tece esta acusação sofre de um nacionalismo jingoísta, que lembra os que perguntavam “Porque é que os Angolanos não querem construir o socialismo em Portugal?” ou “Porque é que os irlandeses querem dividir o proletariado do Reino Unido?”. É necessário compreender que o Reino Unido e a Commonwealth são o sucedâneo de um império que conquistava e assimilava novas terras e culturas pela força. A natureza anti-democrática do Estado britânico está ridiculamente plasmada na sua monarquia feudal: embora a independência não signifique imediatamente a república, são muitos os escoceses que rejeitam a autoridade de um chefe de Estado e chefe das forças armadas não eleito cujo poder é herdado. Sucintamente, nenhuma parte do Reino Unido está historicamente legitimada à partida e todas as uniões podem ser questionadas quando

Por fim, a independência da Escócia é um exemplo importante para a Europa. Como justificar, depois deste referendo, que se proíbam os catalães de votar? Como explicar aos bascos e aos galegos que não podem decidir? Como manter a Irlanda do Norte e a Córsega ocupadas? Como continuar a colonizar Ceuta, Melilha? Os exemplos são intermináveis. São todos úteis para destruir a Europa do capital.