Jonet ao espelho

Nacional

Já comecei e apaguei o início deste texto demasiadas vezes. Custa-me ter tanta coisa para dizer que nem que diga. Jonet voltou ao ataque. Isto, por si só, deveria fazer-nos tremer não de medo, mas de nojo. Jonet, profissional da caridadezinha desde 1994, quando deixou de trabalhar. Recordemos quem Isabel Jonet casou com um jornalista da Lusa destacado em Bruxelas para acompanhar a adesão portuguesa à CEE. Curiosamente, esse jornalista passou a integrar a missão portuguesa como responsável pelas relações com a imprensa. Simultaneamente e por acaso, certamente, Jonet passou a trabalhar também na missão lusa, com as funções de tradutora. Em 1994, voltou a Portugal e decidiu deixar de trabalhar. Coisa que continua sem fazer em 2014.

Desta vez, Jonet denuncia – denuncia, assim mesmo – que há profissionais da pobreza em Portugal, numa espécie de auto-retrato, esperava eu. Jonet vive mediaticamente da pobreza.Não há mais nada que Jonet tenha feito de relevante que não seja propagandear a caridadezinha e, depois, cobrar por isso nos jornais.

Dos desempregados que passam demasiado tempo no Facebook em lugar de procurar emprego, passando pelos bifes a que estávamos habituados a comer, sem esquecer a notável participação numa reportagem do Linha da Frente, da RTP, em 2012, que surge ali mais abaixo.

Jonet, “Bli” para os amigos, precisa urgentemente de se calar e de arranjar outra ocupação. Pode dedicar-se ao ponto-cruz, como era conhecida na sua juventude. Pode dedicar-se ao que quiser, mas não pode continuar a falar da pobreza e dos pobres como criminosos.

Os números do JN pecam por defeito, há bem mais de 20% de pobres em Portugal. Mas recordemos que, para Jonet, só há fome em África – que é um país, segundo a própria. Aqui, em Portugal, há carência alimentar. Jonet é o rosto da caridadezinha praticada e propagandeada pelo governo PSD-CDS. Estigmatizar até ao tutano quem é pobre e precisa de assistência para viver, porque não há trabalho, passando essa ideia para os jornais através de notícias como esta e de fazedores de opinião que mais não fazem do que propagandear a inevitabilidade da miséria em que vivemos. Às vezes lá se arranja um emprego, mal pago e sem direitos. Mas, para quem vive no mundo das Jonets, só tem é que aceitar, porque “ao menos têm trabalho”. Como se trabalhar não fosse um direito – que Jonet conhece mal, é certo. As alarvidades que Jonet brota são uma espécie de retrato deste país-manicómio que nos estamos a tornar. Isto vai ter de acabar, mais tarde ou mais cedo, seja de que forma for.

A mão estendida a que Jonet se refere na notícia será, certamente, a dela própria, com o braço esticado e a palma da mão virada para baixo. Que nunca se entale com um bife.

Em 14 de Dezembro de 2012, a propósito de uma reportagem do Linha da Frente, na RTP:

Isabel Jonet: “Eu penso que é mais correcto falar-se em carências alimentares, porque há que relativizar até a situação que se passa nos países mais desenvolvidos e o que se passa nos países subdesenvolvidos, como África. E, portanto, temos que relativizar e falarem carências alimentares”.

Jornalista: “Mas estas mães que encontrámos nas escolas falam-nos em fome…”

Isabel Jonet: “Pois, porque é tudo um olhar relativo sobre a situação que tinham previsto ter. Se for para África, há pessoas que não comem mais do que uma tigela de arroz por dia. De facto, esses têm fome. Há muitas famílias cá em Portugal que não têm uma refeição completa por dia. Há muitos idosos, nomeadamente idosos, que vivem sozinhos, que não comem uma refeição completa todos os dias”.

Jornalista: “Mas isso não é fome…”

Isabel Jonet: Isso não é fome. Mas são os idosos. No caso das crianças, todas aquelas crianças que podem ir às cantinas escolares ou que são apoiadas… que frequentam ATL, Instituições de Solidariedade Social, ATL, creches, etc, é-lhes garantida uma refeição na, na , na instituição durante o dia. Muitas chegam a casa e já não jantam.

Jornalista: “Mas isso é uma carência alimentar, não é fome…”

Isabel Jonet: Não é. Eu acho que é uma carência alimentar.