Sobre o “enquadramento internacional do PCP nestas eleições”

Internacional

Vi a edição desta noite do espaço de comentário que Francisco Louçã ganhou na SICn. Nele Louçã entendeu dar a sua opinião – legítima, naturalmente – sobre os “pontos fortes” e os “pontos fracos” das diferentes listas de candidatos ao Parlamento da União Europeia, nomeadamente aquelas que correspondem a partidos ou coligações com representação no actual parlamento.

Sobre a lista da CDU Louçã referiu como ponto forte a presença activa do PCP na luta contra a austeridade. Interessa-me em todo o caso explorar aquilo que referiu como ponto fraco já se baseia numa falsidade absoluta.

Segundo Louçã o ponto fraco é a ausência de um enquadramento internacional do PCP nestas eleições. Misturando alhos com bugalhos falou então das relações entre o PCP e do PC da China e referiu-se à participação deste último nas privatizações em Portugal.

Comecemos pelo fim: as relações do PCP com o PC da China são antigas e conhecidas. Tal como conhecidas são as diferenças de projecto e análise que, desde há muitos e muitos anos, os dois partidos têm sobre muitos e diversos temas. O PC da China não participa aliás nos regulares e relevantes Encontros Internacional de Partidos Comunistas e Operários de que o PCP é membro e dinamizador empenhado. É por outro lado sabido que tem participado, na condição de observador, em encontros da chamada “Internacional Socialista”, de que faz parte por exemplo o PS português.

Seja como for, a “participação do PC da China” nas privatizações em Portugal é uma circunstância irrelevante relativamente ao posicionamento do PCP sobre a questão de fundo, que é o processo de privatizações e as suas consequências imediatas e futuras para a economia e a soberania nacional. Se quem compra os seguros da CGD são chineses, argentinos, brasileiros ou islandeses é coisa lateral e secundária perante o essencial do tema que a despropósito Louçã entendeu misturar com o “enquadramento internacional do PCP nestas eleições”.

No que diz respeito ao dito – ao “enquadramento internacional do PCP nestas eleições” – é se calhar bom lembrar Francisco Louçã (que não se esqueceu de referir que o grupo político a que pertence o BE no Parlamento da União Europeia deverá duplicar a votação…) que este é conhecido: o PCP é membro desde há muito tempo membro do GUE/NGL (Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica), o mesmíssimo grupo a que se referiu quando falou da candidatura do BE nestas eleições. E que é membro do GUE/NGL há muitos e bons anos, mais anos aliás do que aqueles que o BE tem de “vida”.

Como membro do Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, de que aliás é vice-presidente através de João Ferreira, o PCP mantém um rico, diversificado, franco e competente “enquadramento internacional nestas eleições”. Um enquadramento que não limita as suas posições no Parlamento da União Europeia nem impede o PCP de manifestar quando entende divergências com organizações com quem mantém relações há pelo menos tanto tempo como aquelas (com o PC da China) a que se referiu demagogicamente o ex-líder do BE.

O anti-comunismo de Louçã manifesta-se sempre que se refere aos comunistas portugueses, é um facto. No que me diz respeito é coisa que não lamento nem festejo. Constato, sem surpresa.