Stand-up government

Nacional

“A esquerda grega chama-me ‘alemão.’ Ó não!”. Foi às 10h28m do dia 29 de Novembro que o Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, nos presenteou com esta deliciosa piada sobre a impressão que a sua passagem pela Grécia causou. E o ponto final antes de fechar as aspas, Bruno? Estás aqui estás a levar com a palmatória do Crato.

Mas não se encolerizem contra a fina ironia, ele está só a seguir o guião do governo – não é o da reforma do Estado, esse também tem piada. O governo pode roubar salários e pensões, pode limpar o cu à Constituição, pode matar a esperança de voltarmos a ser um país produtivo, mas oferece-nos barrigadas de riso a uma velocidade impressionante. É como “O Aeroplano”, com Leslie Nielsen, ainda não parámos de rir de uma e já estamos a rir de outra. A intenção é essa, dizer o maior absurdo possível para centrar a discussão nas palavras. Os actos ficam em paz e fazem o seu caminho. O stand-up do governo é genial, a chatice é que no meio das gargalhadas já 200 mil pessoas se foram rir para outras paragens…

E esta é mesmo a obra-prima: a emigração. Na stand-up comedy há a apresentação da situação, o seu desenvolvimento através de algumas piadas de grau médio e depois uma punch line que nos deve sufocar de riso. O governo começou por dizer para sairmos da zona de conforto, que devemos perceber que estamos num mundo global e que portanto quem está mal, muda-se, até porque o desemprego deve ser encarado como uma oportunidade – nesta fiquei 3 dias de mãos a segurar a barriga. Depois de mais uma quantas piadolas sobre o assunto, o Coelho chegou à punch line: dói ao governo que a malta qualificada tenha de emigrar para trabalhar ou ter estágios.

Está certo e bem feito, nota 10 para a imaginação, para o rendimento da piada – mais de 2 anos – e para o poderoso final que cumpriu o seu papel. Além disso é refinado, é como aqueles comediantes que passam o tempo todo a fazer piadas sobre gays, judeus ou sportinguistas mas depois no final desconstroem tudo e dão-nos um soco no estômago que nos solta gargalhadas, mas que lá no fundinho nos deixa pensativos, tipo George Carlin. Afinal o governo não gosta que a malta emigre, malandros, a fazerem-nos pensar o contrário.

Mas voltemos ao Maçães. Ele tem andado lá por fora, tem estudado nas melhores escolas e tidos as melhores companhias. Percebe porque é que na Grécia ficaram tão chocados quando ele afirmou que em Portugal temos um governo que ama a troika de paixão e que por ela até vende a mãe.

Os governos gregos da era-troika, de forma mais ou menos aberta e/ou combativa, sempre disseram que era necessário haver sacrifícios, mas que discordavam de muitas medidas que a troika lhe impunha. No fundo não escondiam que os tinham bem apertadinhos e que se não cumprissem o próximo passo era mesmo uma extracção violenta dos ditos. Por aqui lançaram-nos aquele hit de Verão que afirmava que iríamos para além da troika, um must!

Mas eu percebo o Coelho e sus muchachos, do outro lado de Elvas vive um Rajoy muito apreciador de Saramago e da sua metáfora da “Jangada de Pedra”. Acharam os dois que podiam, finalmente, separar a Ibéria do resto da Europa ocupada pela troika. No Estado Espanhol Rajoy ainda fez melhor e nem precisou de memorandos e pactos com o diabo, e toca de piar baixinho e de tirar o capuz da tola.

Mas em Portugal sempre foi assim, sempre. A grande maioria da burguesia – ou senhores feudais – sempre praticou a doutrina internacionalista de uma forma tão abnegada que o mais ferrenho dos trotskistas coraria de vergonha. Não deve haver fronteiras que oprimam o amealhar de avultados lucros. A cor da bandeira da burguesia nacional é a aditiva cor do dinheiro.

Bruno Maçães recusou qualquer tipo de aliança entre os países ocupados do sul da Europa, e por isso ganhou o germano e honroso epíteto dado pelos gregos. Bruno Maçães só estava a exportar o stand-up luso para outras paragens, mas por lá não têm o sentido de humor apurado, é pena.

E depois temos mais anedotas: os estaleiros de Viana, o BPN, os swap, as PPP, a PAC dos professores, a venda dos CTT, da TAP, dos transportes públicos, da REN…vá, já chega.

Coelho e Portas, lda, estimulam a economia, pelo menos a do riso, quer pelo que lhes sai da boca quer pelo período de ouro a que obrigam a comédia nacional a passar. No final do seu mandato, terão um brilhante futuro se Balsemão recolocar o Levanta-te e Ri nas noites de segunda feira da SIC, e Passos Coelho até já tem estaleca e treino, ou vão-me dizer que aquela “entrevista” na RTP com perguntas da plateia era mesmo para levarmos a sério?

Já agora, e pôr falar em comediantes, alguém me sabe dizer onde andam o Relvas e o Gaspar? O Álvaro sei que foi visto no Pavilhão Atlântico – ou na MEO Arena do genro do Cavaco (olha outra piada) – a ver o concerto dos “The National”, mas o Relvas e o Gaspar…

Autor Convidado *
André Albuquerque