#thisislisbon

Nacional

A., 50 anos, encontrou trabalho num hotel há dois meses. O filho, segurança, paga metade da renda. Recebeu o aviso prévio para sair de casa daqui a dois meses. Ia ver uma casa, 700 euros. O salário é de 580 brutos. Tem três filhos, dois em idade escolar e o outro que a ajuda. Vão todos ser despejados. Chorou porque acha injusto que o filho suporte o valor da renda que ela como mãe devia assegurar. Mas perdeu o emprego. E agora que recuperou e procura um segundo emprego não tem casa para onde ir.

B., mulher. Deve ter 67 anos. A casa ardeu, não tinha seguro. Irrecuperável. A Santa Casa arranjou um quarto pelo qual paga 250 euros. Obrigada a deixar o cão num canil (a sua única companhia) por não autorizarem animais ainda o visita pelo menos uma vez por semana. No quarto onde vive conta que há ratos e baratas.

Mulher, 60 anos, vai visitar os filhos 1 mês a França. Regressa o prédio foi vendido e mudaram a fechadura. Nunca recebeu nenhuma carta. Está desempregada faz horas em casa de pessoas. Vive numa sala emprestada por uma amiga, com uma puxada de luz e toma banho nas casas onde trabalha. Vivia no prédio desde os 15 anos.

Mulher sozinha. 86 anos. Paga 550 euros de renda. O senhorio, proprietário de uma das agências Remax quer 1100 euros. Mas como sabe que a senhora não pode pagar, despejou-a. “Tenho muita pena mas eu quero ganhar dinheiro. Dava-me jeito que saísse este mês”.

68 anos. Há 68 que vive na mesma casa. Nasceu ali. Está dependente de oxigénio. Recebeu uma carta de umas miúdas alemãs donas do prédio para sair porque querem transformar em alojamento local. Vive com a mulher de 72. Tem o contrato antigo e já beneficiou dos 5 anos da impossibilidade de aumento de renda.

Isto é Lisboa. Predadora, vendida ao capital estrangeiro, submissa ao dinheiro, com cartazes a valorizar esta nova cidade que cospe os seus habitantes e se transforma em condomínio de luxo.

As soluções? Tímidas. Uma moratória anti-despejos até março de 2019 para quem vive há mais de 15 anos na casa e tenha mais de 65 (e todos os outros? Os mais novos? Os que vivem em quartos? Os que têm contrato de um ano?).

Uma lei que aguarda promulgação (e aguarda mesmo, apesar da Presidência se mostrar tão divorciada da realidade que nem sabe que foi aprovada) e que apenas protege o direito de preferência de quem pode comprar. E quem não pode?

Tardam as soluções embora estejam à vista:- fim dos vistos gold;- revisão do regime dos estrangeiros não residentes (que compram cá para não pagarem impostos..);- revogação da Lei Cristas;- Duração mínima de, pelo menos, 5 anos para os contratos de arrendamento para habitação própria e permanente;- Impossibilidade de alteração de licença de habitação própria e permanente para alojamento local;- Quotas de alojamento local e de arrendamento para famílias com baixos rendimentos;- Expropriação da banca e das financeiras do património imobiliário para atribuição a famílias com carência de habitação;- Limite ao aumento de rendas.

Mas nada será possível sem a organização e luta necessárias. Contra a política da Câmara Municipal de Lisboa e de todos os municípios que violam o direito à habitação. Contra a política do Governo que permite que haja tanta gente sem casa ou em condições sub-humanas. Basta. E nós somos mais.

(todas as histórias aqui contadas são verdadeiras)

3 Comments

  • Nunes

    3 Agosto, 2018 às

    José exprime a voz do fascismo em tons amenos.

  • Nunes

    30 Julho, 2018 às

    Falta um Ministério da Habitação para tratar destes e outros problemas.
    Enquanto os políticos do PS, PSD, CDS-PP continuarem a enveredar pelo discurso populista e a não querer ter a responsabilidade de tomar conta desta área, vamos ver em Lisboa uma cidade fantasma, despejada de moradores, cheia de recheios abandonados nas ruas e tendas de campismo no parque de Monsanto.
    A solução também não será o discurso desonesto de quem tem propriedades e contratos de 8 anos para idosos (com rendas de 170 euros) para depois vir a público tentar ajudar os inquilinos que precisam de habitação melhor e a preço mais justo. Nesta matéria, há que ser honesto e ter princípios.
    A habitação não é um negócio. É algo que todos precisamos para viver.
    Se deixarmos a habitação nas mãos de especuladores e senhorios gananciosos, a sociedade cairá na miséria.

  • Mário Reis

    30 Julho, 2018 às

    Muito bem.
    Um texto que livros de estilo, imprensa do dinheiro (e do crime!) não acolheria mas se impõe seja amplamente publicado e debatido.

Comments are closed.