UGT a voar baixinho

Nacional

Foi conhecida ontem a decisão do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC)de desfiliar-se da UGT. O SNPVAC era um dos sindicatos com maior peso dentro daquela central e, após referendo, os associados decidiram deixar a estrutura liderada por Carlos Silva. Recordemos que Carlos Silva, antes de ser eleito representante de uma estrutura que alegadamente defende os interesses dos trabalhadores, foi pedir autorização a Ricardo Salgado, ex-Dono Disto Tudo, para pertencer à direcção daquela organização. E ficou desde logo claro a quem Carlos Silva presta contas.

O SNPVAC bateu as asas e foi para longe da UGT, ao que parece, por considerar que central é a favor da privatização da TAP e quebrou a solidariedade ao firmar um acordo com o governo que culminou com o cancelamento da greve agendada por aqueles trabalhadores em Dezembro passado.

Objectivamente, o que espanta é ainda haver sindicatos que depositam qualquer confiança na UGT. Depois do impoluto Torres Couto, Carlos Silva é o rosto da continuidade do trabalho – ou falta dele – de João Proença, dirigente do PS que até foi a estrela das jornadas parlamentares do PSD, estando, por coincidência, a trabalhar na AICEP. Proença e Silva, Lda. tentaram preparar outros caminhos e vão piscando o olho à presidência do Conselho Económico e Social, para render Silva Peneda. O primeiro nome a ser avançado no início do ano foi o de Silva, que não terá agradado a todos, seguindo-se Proença, que também não deverá ser o senhor que se segue. Ofereceram-se os dois mas nenhum deverá assumir o cargo.

Ao longo dos anos, a UGT foi fazendo o seu caminho e cumprindo a missão para que foi criada: dividir os trabalhadores e caucionar as políticas mais miseráveis dos sucessivos governos. No entanto, as coisas iam sendo mais ou menos dissimuladas, funcionando assim: o governo/patrões lançam para a opinião pública que se preparam para tirar 100 mas, na verdade, sempre pensaram em tirar 95. Assim, a UGT faz de conta que negoceia e concorda, dizendo que perder 95 é melhor do que perder 100. Foi assim durante anos e continua a ser assim. O governo sai como dialogante e a UGT como conciliadora dos interesses dos trabalhadores e patrões.

Não há muito a dizer sobre uma central alegadamente sindical que, nos piores anos depois do 25 de Abril, dos maiores ataques aos trabalhadores por parte do PSD/CDS, tantas vezes com o apoio do PS, pretende “um grande entendimento entre PS, PSD e CDS para mais do que uma legislatura“.

O alarido mediático que seria feito caso um sindicato da CGTP ponderasse, sequer, deixar a Inter também merece nota, comparado com as notícias tímidas que vão saindo em relação ao SNPVAC, agora sindicato independente.

A UGT pretende assim a continuidade dos baixos salários, da exploração, da indignidade, dos sacrifícios para os mesmos de sempre. Não é novidade. Mas é sempre bom relembrar.