Um caminho escorregadio

Nacional

O PCP escolheu ser cúmplice de Putin. Enquanto um povo estava a ser invadido e massacrado, decidiu pôr-se com enquadramentos, contextualizações, racionalizações e outras formas inaceitáveis de contemporizações. Numa guerra contra o mal só há dois lados e quem não está contra o inimigo está com Putin. Sim, porque é muito fácil racionalizar e contextualizar a guerra quando não é a nossa terra que está a ser invadida. A racionalidade dos que, a meio da invasão, pedem o fim da guerra, é própria dos traidores. Sim, os comunistas condenaram Putin, explicitamente até, mas sempre condenando também a NATO; sempre fazendo comparações históricas; sempre invocando golpes de Estado; sempre a pedir-nos para ler o texto de qualquer coisa! Sempre fazendo o jogo de Putin!

Só um avençado de Putin é que viria, neste momento, falar em “paz”. O mundo livre sabe que nem se negoceia com um agressor nem se faz a paz com um louco. Numa guerra mata-se ou morre-se. Matemos e morramos, pois, pela glória de defender o bem contra o mal absoluto! Como disse o presidente-herói Zelensky: “os russos são um vírus”. E com um vírus não se dialoga: um vírus extermina-se. A nossa liberdade depende disso.

Mas atenção, portugueses! Os piores aliados de Putin não andam por aí a defender abertamente as suas posições. Estão escondidos entre nós. A nossa mãe, o nosso tio, o nosso colega, o motorista de Uber, o empregado do restaurante… todos podem ser pró-Putin até apoiarem a NATO e a sua agenda. Não, não basta fazer listas de comunistas. É preciso ilegalizá-los, vandalizar-lhes as sedes, espancá-los e enfiá-los no Tarrafal outra vez. Mas não podemos ficar por aí: é preciso saber quem andou a ver ou ler a RT antes da sua suspensão e quem, hoje em dia, continua a referir-se a essa suspensão como uma “censura”. É preciso saber quem já foi à Rússia e quem fala russo e quem tem livros russos em casa. É preciso que os nossos filhos vão para a escola fazer com que os filhos deles paguem pela invasão.

A única forma da democracia vencer esta guerra contra o totalitarismo é convertermo-nos num bloco monolítico contra a sua máquina de propaganda. Quaisquer referências a supostas “guerras” no Iémene, na Palestina, na Somália, na Síria, na Jugoslávia, no Iraque ou no Donbass não passam de mentiras russas que não podem ser toleradas numa sociedade que luta para salvar a liberdade. Neonazis ucranianos? Não existem. São propaganda russa. 15 000 mortos desde 2014? Propaganda russa. Acordos de Minsk? Propaganda russa! Lembrem-se, só os cúmplices do inimigo atribuem pecados ao lado dos bons da fita.

Só os cúmplices de Putin é que chumbam implacáveis sanções económicas contra o país do ditador! Só amigos de Putin é que se recusarão a pagar com mais pobreza o preço que essas sanções implicam. Do mesmo modo, só um cúmplice de Putin é que acha que perante um genocida deste tipo não faz falta uma corrida ao armamento.

Já não há lugar para meias-tintas: só os cúmplices de Putin é que se recusam a lançar imediatamente um contra-ataque da NATO contra a Rússia. Ou será que não aprendemos nada com a ascensão de Hitler? Primeiro foi a Ucrânia, a seguir seremos nós. Só o arsenal nuclear da NATO pode travar o tirano totalitário e só um aliado de Putin é que o tentaria proteger das nossas ogivas nucleares, ou qualquer acusação que lhe façamos. É preciso, sejamos claros, declarar imediatamente a III Guerra Mundial. É preciso tirar dinheiro aos orçamentos da educação, da cultura e da saúde para engrossar a nossa contribuição para a NATO. E mais, que tudo, é preciso identificar os amigos de Putin que, entre nós, se opõem a estas medidas.

Em nome da liberdade vai ser preciso fechar muitos jornais e canais de televisão. Em defesa de democracia, é urgente proibir Dostoievsky, Tolstoy, Tchaikovsky, Tchekov e Tarkovsky. E só os amigos de Putin levantarão a voz para defender os atletas paralímpicos russos impedidos de competir ou os trabalhadores russos despedidos ou os gatos russos, ou a salada russa. Eles, os russos, são fundamentalmente diferentes de nós: eles têm oligarcas, nós temos empreendedores; eles fazem invasões, nós intervenções humanitárias; eles censuram, nós suspendemos; nós somos civilizados, eles são bárbaros; nós somos bons, eles são maus.

Perante a dimensão dos crimes contra a humanidade a que assistimos, não há lugar para cinzentismos: é preciso confiscar a propriedade dos cidadãos russos e proibir a língua russa. Qualquer imigrante russo é um potencial espião do Kremlin, pelo que é preciso retê-los em campos de confinamento até ao fim da guerra. A liberdade reclama que os cúmplices de Putin, estejam onde eles estiverem, tenham muito medo. A solidariedade com o povo ucraniano exige que alastremos ao resto do mundo a guerra, a morte e a barbárie. A democracia pede-nos que só esta opinião seja ouvida.

5 Comments

  • José Mendes

    6 Março, 2022 às

    A tradição do PCP é a solidariedade com todos Povos do mundo em luta pela sua autodeterminação, independência total, liberdade e socialismo.
    Essa tradição mantêm-se para com os Povos da Ucrânia e da Rússia apesar do confronto militar.
    É tradição do PCP a luta pela erradicação dos Imperialismos, fatores de exploração e guerra.
    É tradição do PCP estimular a intensificação da luta de classes exigindo cada dia mais equidade na distribuição da riqueza até à igualdade material.
    A igualdade material não deixa orçamento para guerras, nem para imperadores ou Impérios.
    A igualdade material é determinante para a erradicação de todas as desigualdades sociais.
    A luta pela paz faz-se na trincheira da luta de classes até à erradicação da exploração do Homem pelo Homem.
    Essa luta é de sempre, é de hoje e de amanhã.

  • Jorge Nunes

    6 Março, 2022 às

    De tanta propaganda e mistura de propaganda com propaganda, até dão o prémio do festival da canção à representante da Ucrânia, cujo o título da canção é “1944”, ano em que os ucranianos ligados ao simpatizante nazi ou pró-nazi, Stepan Bandera, ajudou os ucranianos a matar russos, polacos e judeus. A canção menciona «que nos vêm matar a todos». A sério? Será essa a missão do exército russo na Ucrânia? Ou será essa a mensagem daqueles ucranianos que estão com o batalhão Azov ou com os agrupamentos nazis «Aidar» e «C14», cujo líder, Yehven Karas declara que o propósito do nacional-socialismo na Ucrânia não é ser parte da União Europeia, mas constituir a grande Ucrânia para depois acabar a tarefa que estava a ser começada há setenta anos?

    O ressurgimento nazi na Ucrânia é algo muito sério, tão sério que a maior parte de todos aqueles que andam a escrever e a dar a opinião não o mencionam, porque nunca sofreram na pele aquilo que os povos da União Soviética sofreram e nestes últimos oito anos os povos da região do Donbass suportaram.

    Para além da tentativa de alargamento da NATO, do genocídio no Donbass, o nazismo na Ucrânia constituiu uma realidade, ao ponto que os seus simpatizantes já estavam a fazer deste país um chamariz para mais nazis na Polónia, Turquia e Inglaterra, afim de preparar qualquer agressão à Rússia.

    Nestes últimos dias, ouvimos falar em mercenários que foram lutar para a Ucrânia, para ajudar na luta contra o agressor russo. Quais eram alguns desses mercenários? Colombianos, pertencentes a fações militares que andam a matar líderes sociais no seu próprio país; Ingleses de agrupamentos fascistas e polacos ligados à «Narodowe Odrodzenie Polski» (Renascimento Nacional da Polónia).

    Ouvimos também falar em agrupamentos de soldados chechenos que estavam a ser treinados para serem enviados para lutar no Donbass contra os russos e os separatistas. Ouvimos também que alguns mercenários estavam a ser ajudados para sair da Síria e continuar a sua luta na Ucrânia.

    Aquilo que não ouvimos, foi que a Rússia, em conjunto com a Síria, estão a reconstruir a cidade de Palmira que esteve nas mãos de bandidos ou mercenários do chamado «ISIL» e que a própria Rússia ganhou maior experiência militar após a ajuda e cooperação com a Síria numa guerra horrível e sem quartel.

    A Europa e os EUA não querem ter nada a ver com o nazismo na Ucrânia. Parece que o papel de exterminar o nazismo na Ucrânia foi dado à Rússia e uma coisa é certa: vai ser feito! Quando Putin disse que iria «desnazificar» a Ucrânia, falou honestamente. Se existisse algum conceito de moral na Europa ou nos EUA, estes já estariam a ajudar a Rússia nesta difícil missão. Infelizmente, estão ao lado dos bandos armados que usam suásticas e que ainda cercam a cidade de Mariupol não deixando ninguém sair.

    • Fernando Oliveira

      9 Março, 2022 às

      Subscrevo integralmente.

      Trata-se de uma análise objectiva, dialética, sem concessões ou cedências às pressões mediáticas de sentido único – o reccionarismo e imperialismo dos EUA e da sua NATO, já que os palermas da UE não jogam, nem dão cartas. Excepção feita à Alemanha, há muito ciosa de voltar a ser uma potencia militar e nuclear e que, de imediato, mais ou menos em surdina, decidiu duplicar o orçamento destinado à defesa. E não se pode esquecer, por um único segundo, que foram os ditos que provocaram as Guerras Mundiais.
      A primeira questão que um comunista deve colocar numa situação destas é encontrar a resposta para a pergunta :

      A guerra foi CAUSA para…….ou CONSEQUÊNCIA de…… ????

      Basta ter presente e usar sempre o (em minha opinião) maior legado de MARX – o materialismo dialético e as suas 3 inseparáveis leis.

  • Luís Santos

    4 Março, 2022 às

    O jeito que aparece a publicação no Facebook acentua e favorece tudo o que é ironizado no resto do texto que merece todo o meu apoio !!! Dá para corrigir?

  • Tânia Cardoso

    4 Março, 2022 às

    Muito bom! É mesmo isto

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