W: Wuhan

Teoria

W: Wuhan

Wuhan: o nome da cidade chinesa ficou inscrito na certidão de nascimento da COVID-19, uma certidão emitida pelo imperialismo ocidental e carimbada com o selo do racismo sinofóbico. O mito do “vírus chinês” cunhado por Trump é uma reedição do “perigo amarelo” do século XIX: mais uma vez, o chinês é apresentado como uma ameaça existencial ao mundo civilizado. Quer seja por comerem morcegos (nós comemos caracóis e tripas), quer seja pelo “regime totalitário” que confinou milhões de pessoas (mais tarde nós fizemos o mesmo), a China, qual judeu internacional, é o bode expiatório da pandemia global.

A maioria dos cientistas que hoje estuda a origem do SARS-CoV-2, incluindo a Organização Mundial de Saúde, aponta para a origem natural e zoonótica do vírus. A China, menos desenvolvida que a UE e os EUA, teve de lidar com um vírus novo sobre o qual não se sabia nada. Durante essas primeiras semanas de confusão e incógnita, foram cometidos erros pelos quais o governo da China pediu desculpa publicamente: é o caso Li Wenliang, o  médico comunista admoestado pelas autoridades locais por ter avisado para a existência da epidemia. Postumamente, Li seria condecorado como “mártir”, a maior honra civil da República Popular da China.

Quando compreenderam o que enfrentavam, as autoridades chinesas não olharam a meios para deter o vírus. A China pôs a vida dos seus cidadãos acima do lucro: mais de 40 mil médicos foram enviados para a linha da frente; hospitais foram construídos do zero em poucos dias; o governo disponibilizou gratuitamente alimentos e produtos de primeira necessidade às populações confinadas; a indústria foi reorientada para a produção de máscaras e ventiladores. Os hospitais públicos chineses trataram 95 por cento dos pacientes com Covid. Alguns estudos sugerem que a resposta da China pode ter salvado mais de 10 milhões de vidas: nenhum outro Estado do mundo teve tanto êxito no combate à pandemia.

Sérvia. Filipinas. República Checa. Camboja. Itália. Rússia. Espanha. Portugal. Venezuela. Palestina. Libéria. França. Bélgica. Irão. Iraque. Vietname. Etiópia. Portugal. Estados Unidos da América. Todos os países desta lista, que não pretende ser exaustiva – são já mais de 90 os países apoiados – receberam nos últimos tempos apoio material e humano da China: Ventiladores, fatos protetores, máscaras, medicamentos, médicos, plasma de doentes recuperados.

Há uma guerra pelas nossas palavras. Elas são os instrumentos com que explicamos o mundo e a história ensina-nos que só o consegue transformar à sua vontade quem o consegue explicar. Da mesma forma que os negreiros tinham o cuidado de separar os escravos em grupos que não falassem a mesma língua, o capital verte milhões em campanhas de confusão conceptual, na promoção de novas categorias, na erradicação de certos vocábulos e na substituição de umas palavras por outras, aparentemente com o mesmo sentido. Este dicionário é um breve contributo para desfazer algumas das maiores confusões semânticas, conceptuais e ideológicas dos nossos tempos.