1914, 100 anos depois.

Internacional

2014 marcará 100 anos sobre o início da grande carnificina imperialista que foi a guerra 1914-1918, uma disputa bélica entre blocos imperiais que conduziu a Europa a uma destruição sem precedentes e vitimou milhões de seres humanos de muitas proveniências e nacionalidades, incluindo dos territórios que eram então colónias das potências em conflito. Muita água passou debaixo da ponte entre 1914 e 2014. Muitas foram as alterações e revoluções feitas e desfeitas, construídas e destruídas, impulsionadas e traídas. É assim a história da humanidade, feita de avanços e recúos, numa lógica não linear que a tanta gente custa compreender.

Se é certo que o mundo (e dentro dele os homens e a sua história) é feito de mudança, parece-me igualmente certo que existem aspectos comuns entre 1914 e 2014, parte dos quais são estruturais (e estruturantes) do momento que vivemos no processo histórico. A sociedade permanece dividida em classes sociais com interesses antagónicos e em permanente luta; a burguesia mantém-se como classe dominante, aquela que controla recursos, meios de produção e aparelho repressivo; a exploração do homem pelo homem conhece novos desenvolvimentos, acrescenta novas às velhas formas, mas mantém-se.

É neste quadro que a ressurreição de velhos chauvinismos e expressões de racismo e xenofobia, durante muito tempo latentes e/ou adormecidos, se apresenta como um risco acrescido e um desenvolvimento do processo que cabe aos trabalhadores e às suas organizações de classe contrariar e combater. Para o fazer é fundamental que situações como aquela que se vive em Inglaterra sejam enquadradas no processo histórico, no quadro da luta de classes que se agudiza, ao invés de serem abordadas sob um ponto de vista meramente idealista (no sentido filosófico-ideológico da expressão) e fora da complexa teia de relações sociais que deve estar sempre presente na análise produzida por organizações de trabalhadores.

Que papel desempenha o racismo, a xenofobia e o chauvinismo no mundo actual? Que valor instrumental desempenham para a perpetuação da dominância da burguesia nas suas várias expressões? Que riscos comportam para a paz (e esta paz a que me refiro não é a treta da “paz social” mas a paz entendida como ausência de conflito militar de larga escala)? E sobretudo, que desafios colocam às organizações anti-racistas, anti-fascistas, anti-imperialistas e operárias?

Eis um debate que vai longo, conhece desenvolvimentos interessantes, mas que importa continuar a manter e enriquecer. Sugiro, no seu âmbito, a leitura dos textos que V.I.Lénine produziu a propósito da guerra de rapina e destruição de 1914-1918. Estão lá várias pistas e análises essenciais para a compreensão deste contexto que vivemos, um século mais tarde.