75 anos depois, nova aproximação à fronteira russa.

Internacional

Passam hoje 75 anos sobre a data que marca o início da invasão hitleriana da Polónia, dia normalmente considerado o primeiro da chamada Segunda Guerra Mundial. A data deve ser lembrada, não como mera efeméride que amanhã será imediatamente esquecida, mas como momento cujo significado histórico não pode ser ignorado.

Muitos lembrarão que se os alemães invadiram pelo ocidente, os soviéticos avançaram por oriente. A coisa, assim posta, gera as mais precipitadas conclusões. Sobre o assunto aconselho vivamente a leitura de “1939-1945: uma guerra desconhecida”, de Paul-Marie de la Gorce, em boa hora editado pela antiga Editorial Caminho. O autor refere os esforços soviéticos para concertar posições com França, Inglaterra e Polónia, bem antes do muito referido (mas pouco compreendido) pacto germano-soviético, o tal que só foi assinado depois de em Munique franceses e ingleses terem acordado com a Alemanha a desgraça da Checoslováquia.

Paul-Marie de la Gorce refere, sobre o avanço soviético sobre solo polaco, que o Exército Vermelho procurava sobretudo ganhar o tempo e o espaço (físico) que a Polónia nunca lhe quis conceder, negando assim aos nazis uma aproximação inaceitável às fronteiras da URSS. Tratou-se pois de uma manobra defensiva, por oposição à invasão hitleriana, que teve objectivos ofensivos declarados, e que se enquadrava na estratégia de guerra do alto comando fascista.

Não forçando paralelismos, sempre perigosos e não raras vezes forçados, tenho-me lembrado muito do tema a propósito do avanço da NATO em direcção à fronteira russa, um movimento provocatório e de consequências imprevisíveis, que países como a Polónia, a Geórgia e agora também a Ucrânia muito têm feito por explorar.

A NATO, da qual Portugal faz parte (contrariando o artigo 7º da Constituição da República Portuguesa, que refere explicitamente que “Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de
quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações
entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a
dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um
sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem
internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os
povos.”), sente-se dona e senhora de um mundo que – fora das fronteiras etnocêntricas do “Ocidente” – a começa a deplorar profundamente.

No dia em que se evocam os 75 anos do primeiro passo hitleriano em direcção à fronteira da URSS, a NATO aponta baterias directamente ao mais sacrificado dos povos da Guerra 1939-1945, avançando as fronteiras da sua influência imperial até ao Donbass. Fá-lo procurando aprisionar a Ucrânia dentro da teia que tem na Rússia (embora não apenas a Rússia) o seu alvo principal. Ao lado da NATO os nazis da Praça Maidan [1] [2]. A história tem caprichos deste calibre.

Notas:
[1] “Azov, o batalhão neonazi que vai defender Mariupol – É um dos batalhões mais ferozes de entre as dezenas que lutam ao lado do Exército oficial da Ucrânia. A sua missão é “liderar as raças brancas do mundo numa cruzada final pela sua sobrevivência”.”