Os índios da Pradaria

Internacional

Os Lakota, também conhecidos como índios da pradaria, são um povo indígena da América do Norte, cujas terras originais se estendiam pelos actuais estados norte-americanos do Dacota do Sul e do Norte. Formados por sete tribos vizinhas, entre as quais se encontram os Sioux, os Lakota imigraram para o Norte, oriundos do baixo Mississipi, e ali se fixaram vivendo da agricultura e da caça do búfalo, actividade iniciada após a introdução do cavalo na vida das comunidades, no século XVIII. É em parte da vida dos Lakota que falam grandes produções de Hollywood, como “Dances with wolves” (“Danças com lobos”), filme realizado a partir do romance homónimo, de Michael Blake.

É sabido que as tribos Lakota resistiram ao processo de violenta invasão e colonização branca dos seus territórios, e que essa resistências lhes valeu uma sucessão de massacres, guerras e outros actos de violência brutal por parte do exército norte-americano, que no final do século XIX dizimou populações inteiras de búfalos, de forma a vergar os Lakota, obrigando-os a aceitar a vida em reservas e a dependência de rações alimentares fornecidas pelo governo federal.

Em 1890 dá-se o tristemente célebre massacre de Wounded Knee, na reserva de Pine Ridge (Dacota do Sul), no qual foram mortos centenas de índios, incluindo mulheres e crianças. Depois de várias guerras, traições, promessas quebradas e imposição da fome e do sangue, as autoridades federais obtiveram por fim domínio sobre a Nação Lakota, que em todo o caso é coisa diferente de se dizer que os Lakota foram submetidos à vontade dos seus colonizadores.

Insubmissão em Pine Ridge

A memória de Wounded Knee encontra-se bem viva no seio dos Lakota, e ao longo do século XX muitos foram os incidentes que, com maior ou menor gravidade, maior ou menor visibilidade, mostraram aos norte-americanos e ao mundo que a Nação Lakota se encontra bem longe da domesticação desejada pelo imperialismo.

No início dos anos 70 é criado o American Indian Movement (AIM), assistindo-se a um reforço da luta dos ameríndios Lakota contra as imposições federais. As tensões acumuladas tiveram grave desfecho em Junho de 1975, quando um tiroteio ocorrido na reserva resultou na morte de dois agentes federais e um activista do AIM. Os agentes federais responsáveis pela morte do activista ameríndio foram absolvidos, mas Leonard Peltier, o bem conhecido activista acusado pela morte dos agentes federais caídos, foi condenado a duas penas de prisão perpétua, encontrando-se actualmente na penitenciária federal Coleman, na Florida.

Petróleo na pradaria

O Dakota Access Pipeline Project é um projecto em concretização, que visa construir um enorme “pipeline” para transportar petróleo ao longo de mais de 1.000 quilómetros entre o Dacota do Norte e o Illinois. O tubo atravessa vastas áreas naturais, que incluem territórios que os tratados reservam à Nação Lakota, colocando em risco sítios arqueológicos considerados sagrados pelos Lakota, reservas e cursos de água, terras que as tribos ameríndias vêem como a raiz da sua cultura e identidade.

Os Lakota afirmam, e as evidências parecem confirmar os seus argumentos, que as rupturas de pipelines no Dacota do Norte têm sido frequentes, contaminando as suas terras e dizimando a vida que nelas procura encontrar a tranquilidade aniquilada noutras paragens.

A luta dos Lakota contra o Dakota Access Pipeline tem sido intensa, violenta e olimpicamente ignorada pela imprensa norte-americana e internacional. É precisamente por isso que deste espaço lanço aos índios da pradaria o meu grito de solidariedade e apoio à defesa da sua cultura, das suas terras, memória, identidade e forma de vida. Porque a luta dos Lakota pode não fazer parte dos espaços de entretenimento-informativo a que chamamos “telejornais” (e afins), mas não pode deixar de receber, nos espaços de comunicação livres dos “critérios editoriais” do sistema, o apoio e a divulgação merecida.