Estima-se que a cada 36 horas um afro-americano seja assassinado nos EUA por alguém pertencente às diversas forças de segurança.
A acompanhar o número de assassinados, surgem muitos outros números que revelam uma situação de impressionante discriminação racial na aplicação de penas legais, seja o número de condenados a sentenças de prisão, a sentenças longas ou de condenações a pena de morte. (aqui)
Quase tão grave como a brutalidade dos assassinatos que ocorrem quase diariamente é a impunidade dos seus autores, que gozam do privilégio da “credibilidade” que se tem por se fazer parte do Estado, do poder e confiança que este lhe confere.
O esclavagismo primeiro e a segregação racial depois, foram peças absolutamente essenciais para o desenvolvimento do capitalismo norte-americano, para a rentabilização máxima da riqueza conquistada aos nativos(saque ou apropriação primitiva, como se prefira). A desumanização dos homens e a sua repressão(esclavagismo e segregação) foram legalmente extintas após décadas e décadas de luta de sucessivas gerações de afro-americanos(e de outros, que não o sendo e que corajosamente se lhes juntaram e que não devem ser esquecidos).
A violência do presente apresenta-se como sucedânea, sub-produto, desses outros tempos. E se por um lado esta violência resulta do desprezo resultante de gravíssimas deformações culturais de sectores vastos da sociedade dos EUA, por outro a violência é por si própria uma necessidade presente para o capitalismo americano, como mecanismo de intimidação e repressão social interna. Ainda se poderia referir também o enorme conjunto de negócios associados à violência e repressão, como a privatização do próprio “trabalho”(pago como no apanha do algodão no tempos do Django) realizado pelos presos nas prisões americanas.
Talvez o fim da animação que inicia este texto dê uma pista para que o futuro não continue a ser um derivado do esclavagismo.
* Autor Convidado
Filipe Guerra