Algures no ano de 2015, a Juventude Popular, organização da juventude do CDS, avançava com o cartaz que ilustra este artigo. A mensagem é clara e não é nova, tem décadas. A culpabilização do trabalhador desempregado e a estigmatização de que quem necessita de receber apoios sociais. A legenda não podia ser mais clara. A típica tirada dos “subsídios para quem não quer trabalhar”. A par disto, as declarações de Nuno Melo sobre refugiados, Assunção Cristas ou Paulo Portas sobre Bolsonaro. O que levará, então, várias pessoas ligadas à esquerda, a acharem que o fim do CDS é uma perda para a democracia, como o eurodeputado do Bloco, José Gusmão?
O que não se vê não existe?
O primeiro argumento que se vai lendo, com alguma insistência, é que o fim do CDS abre as portas ao crescimento da extrema-direita. Não creio que tal se verifique e parece-me haver uma inversão nos argumentos. A extrema-direita não cresceu porque o CDS desapareceu, foi antes o CDS que desapareceu porque a extrema-direita cresceu. Porque vários dirigentes, militantes e votantes do CDS encontraram um espaço onde podem dizer em voz alta aquilo que, em surdina, eram os seus sonhos húmidos. O surgimento de um partido abertamente fascista, fortemente mediatizado e com espaço noticioso que mais nenhum partido com um deputado único tem, apenas permitiu relocalizar uma parte substancial do eleitorado do CDS no local onde sempre esteve: na extrema-direita. Outros preferirão o glamour neoliberal a que a imprensa foi abrindo caminho ao longo dos últimos 30 anos, agora devidamente organizados na IL.
Não vejo, por isso, grande perda para a democracia com a transformação do CDS num partido residual. A menos que haja, à esquerda, quem ache que, por não se ver a extrema-direita, ela não existe. Que é melhor que esteja acantonada numa ala de um partido, mesmo que esse partido tenha sido governo há bem pouco tempo.
Lugar cativo nos media
Há não muito tempo, aquela esquerda das causas únicas, que consegue separar o o racismo, a xenofobia e o machismo da luta de classes, exultava com a presença de uma mulher como uma das novas colunistas do Diário de Notícias. A mulher é Assunção Cristas. A líder do CDS que, “entre Haddad e Bolsonaro, escolhia não votar”, como afirmou numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença, a 25 de Outubro de 2018. A narrativa estava criada por Assunção Cristas e Portas não ficou atrás, pelo que, a 29 do mesmo mês, dizia, também ao Público, que não via nada “eticamente reprovável” no atual presidente do Brasil.
Há de haver aqui uma diferença substancial com o que é o posiconamento externo da extrema-direita relativamente ao Brasil, mas confesso que me escapa. Enquanto isso, Paulo Portas vai fazendo o seu caminho na TVI, como epidemiologista encartado, todas as semanas. Nuno Melo e Anacoreta Correia convidados para comentarem a entrevista do atual líder do CDS a Miguel Sousa Tavares, na TVI 24, dando mais um exemplo de pluralismo mediático. Telmo Correia, Nuno Magalhães e outros dirigentes e ex-dirigentes do CDS sempre com espaço para dizer tudo e mais alguma coisa, seja sobre futebol, política ou, no caso de Portas, Saúde Pública e Epidemiologia.
Se há, à esquerda, quem tenha saudades de quem continua, todos os dias, a entrar-nos pela casa dentro, alguma coisa deve estar baralhada nessa esquerda.
10 Fevereiro, 2021 às
Excelente artigo.
Só não vê quem não quer ver…
10 Fevereiro, 2021 às
…esquerda essa que não tem uma palavra sobre a indecorosa marginalização e censura a que é votado, na designada comunicação social, o PCP e os VERDES .