A insinuação

Nacional

Foi por mero acaso que apanhei o final do programa “Este sábado” transmitido pela Antena1 no passado fim-de-semana. Quando liguei o rádio iniciava-se a intervenção de Raul Vaz, personagem do comentário político que a Antena1 insiste em apresentar como especialista em questões de política nacional.

Raul Vaz iniciou a sua intervenção comentando o tema da colocação dos professores e insinuando que o “erro administrativo” do Ministério da Educação (MEC), que resultou neste início de ano lectivo calamitoso para alunos, professores, directores de escola e encarregados de educação, tem a mão do PCP e dos Sindicatos. Dizia Raul – e passo a citar – que “ao longo dos anos, pós 25 de Abril, houve partidos, nomeadamente o PCP e os sindicatos, que têm uma influência muito grande no interior da máquina administrativa do Ministério da Educação. E este chefe de governo sempre foi avesso a substituir algumas chefias. (…) os resultados muitas vezes não são os melhores. Neste caso são péssimos“. A insinuação fica no ar e a única coisa que Vaz não explica é se acredita que “comunistas e sindicalistas” sabotaram o processo, ou se apenas considera que nele influíram por mera incompetência. Seja qual for a conclusão de Vaz, a tese é em si mesmo um insulto ao PCP e aos sindicatos. Ou então uma peça de mau humor, que deveria envergonhar a rádio pública.

A cereja no topo do bolo seria Vaz sugerir que Jerónimo de Sousa e Mário Nogueira deveriam demitir-se devido a responsabilidades no “erro” da colocação dos professores. Não foi tão longe, é certo, mas pouco faltou.

Os comentadores do regime tudo têm feito para transformar este assunto, que é sério, numa mera questiúncula administrativa e de responsabilidade alheia. Um erro de fórmula, como aquele do Excel da austeridade (eventualmente resultado da acção de um comunista escondido dentro de um aparelho de ar condicionado FNAC). Pobre Crato, que paga pelos erros dos outros (ainda por cima comunistas e sindicalistas…). Azar do caraças haver gente a sofrer por via dele… A estratégia é esta e o salto qualitativo que a insinuação de Vaz comporta não surpreende, apenas diverte. Se convence alguém é outra história. E se a rádio pública está na disposição de continuar a dar cobertura à estratégia de comunicação da direita é outra, bem mais relevante.