Andrajosos Tempos

Internacional

José António Saraiva (JAS), com a boçalidade que caracteriza os seus textos decidiu inaugurar o novo ano, revelando, novamente, ao que vem, qual o seu papel e a sua visão da sociedade.

JAS no seu corriqueiro tom simplista, demonstra não só a profunda admiração pelo milionário(omitindo a forma como se construiu a fortuna e as suas consequências) como o seu desprezo pelos “pobres”.

Em face deste texto (e doutros que se vão lendo por aí), importa desde já anunciar a necessidade imperiosa de denunciar esta gente, esta elite intelectual burguesa, para quem tudo vale, que se passeia de uns jornais para outros servindo os interesses políticos, intelectuais e mediáticos das mesmas elites que se governam à custa da desgraça do povo português.

O Fascismo foi, é, e provavelmente será no futuro, a ditadura terrorista do grande capital monopolista, a imposição pela força do capitalismo. Mas o fascista é mais do que isso.
O fascista não é apenas a criatura que beneficia com o fascismo (com as suas opulências e privilégios), ou aquele que o defende por ignorância, pura imbecilidade ou até desespero… O fascista é aquele que olha o outro, que considera diferente de si e dos seus, o diverso, o diferente (seja por razão de género, etnia, ideologia, condição económica ou social…), não apenas com desdém, mas com desprezo e ódio. Não perdendo qualquer oportunidade para assinalar essa diferença, vincar fronteiras, procurando reprimir, ofender e humilhar(com as armas que tenha à mão), ou até eliminar como a História demonstrou.

JAS na sua crónica ofende e humilha. Considera os “pobres” como imberbes, incapazes de gerir, não confiáveis, ingratos, a quem nada deve ser entregue sob pena de desaparecimento, infelizes por natureza e destino. Provavelmente JAS temia que os seus “100 milhões de euros” fossem esbanjados em vinho e telemóveis. Já nas mãos dos seus “poderia fazer num ano outros 100 milhões”, apenas nas mãos dos capitalistas JAS deposita a confiança na prosperidade e inteligência. Isto, assumindo que JAS tenha o pudor de considerar que gente como Zeinal Bava ou Ricardo Salgado já não façam parte dos seus.

Apenas não fica claro, se os “pobres” e os ricos, no mundo de JAS, o são ou não por predestinação natural, filiação ou por obra e graça do Senhor… Ou ainda a dúvida, se admite, que um pobre um dia deixe essa condição pelo seu mérito(renegando assim a definição de “pobres” de JAS).

Andrajosos tempos estes, em que a comunicação social é de tal forma dominada por uma despudorada burguesia que haja sempre espaço para servos desta desfaçatez. Mas muito ambiciosos se auguriam os dias em que os “pobres” ajustem contas com os seus torcionários.

Iech ananáci

Iech ananáci, riábtchicov jui,
Dienh tvoi posliédnii prihódit, burjui.

1917

Come Ananás

Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.

(Vladímir Vladimirovithc Maiakovsky(1893-1930)

* Autor Convidado
Filipe Guerra