Armando Cañizales na Puente Llaguno

Internacional

A peça da Antena1 comovia. Invulgarmente longa para um noticiário de rádio começava por contextualizar a intervenção pública de Dudamel. Referia a sua página no facebook pintada a negro, tendo como imagem de capa um rectângulo preto sobre o qual se podia (e pode) ler o nome do jovem músico assassinado: Armando Cañizales Carrillo. A voz da jornalista alternou com a voz do próprio Dudamel, extraída de uma declaração pública divulgada dias antes da morte de Armando Cañizales. Em fundo música, creio que interpretada por uma orquestra do projecto “El sistema” no contexto do qual Dudamel e Cañizales se haviam encontrado. Como conclusão a ideia da inutilidade e da injustiça do crime, o assassinato de um jovem músico durante uma manifestação pacífica contra Maduro e o governo do PSUV.

Acontece que, como acontece frequentemente a notícias divulgadas por cá sobre o que se vai passando na Venezuela, a morte de Armando Cañizales Carrillo pode não ter sido bem como nos foram contando por cá. E quem o escreve é o insuspeito jornal conservador espanhol “La Vanguardia”

“Cañizales fue homenajeado por líderes de la derecha opositora por su valentía ante la “represión brutal de la dictadura”. “Mataron a un chamo de 17 años mientras Maduro bailaba”, tuiteó el diputado de derechas Freddy Guevara que horas antes había animado a los jóvenes a ser más atrevidos con la policía. “El gas lacrimógeno no hace daño”, dijo.

Sin embargo, al igual que en otros momentos en esta crisis, la narrativa de una juventud heroica masacrada por la dictadura bolivariana no se atiene a los hechos en el caso de Armando Cañizales. Pronto trascendió que la realidad de la muerte del músico ha sido mucho más compleja.

El ministro del Interior Néstor Reverol, comunicó el jueves que la causa de la muerte no era una bomba lacrimógena sino que se había descubierto una rolinera –una pequeña esfera metalica cromada ocho milímetros de diámetro- empotrada en el cuello del violinista. Con casi toda seguridad el proyectil no fue disparado por la policía, sino por los propios manifestantes. Ya se sabe que algunos de estos han fabricado armas caseras para su enfrentamiento diario contra la policía. El Cuerpo de Investigaciones Científicas, Penales y Criminalísticas (Cicpc) descubrió seis rolineras iguales en el lugar de las manifestaciones aquel día “Esos seis plomos fueron disparados contra la policía nacional con una arma no convencional que podría ser una arma de fabricación casera”, explicó el vicepresidente venezolano el viernes. Un fotógrafo de Reuters ha publicado imágenes de una de estas armas caseras en el momento de ser disparada en la manifestación del primero de mayo.

Existen ya multiples pruebas de manifestantes que van armados a las protestas asi como de colectivos pro gubernamentales que llevan armas de fuego. En cambio, el Gobierno insiste en que no se autoriza el uso de armas de fuego contra manifestantes que intentan controlar las protestas con agua de propulsión, bombas lacrimogenas y contención fisica”. 

A peça citada do jornal catalão tem cinco dias, quase uma semana, e no entanto ninguém lhe deu em Portugal voz ou letra escrita, pelo menos que me tenha apercebido. Acontece muito: notícia inicial – quase sempre falsa, ou mal explicada – para sedimentar percepções (neste caso sobre a Venezuela e a “crueldade” do seu governo) com posterior silêncio sobre notícias que desmentem a versão inicialmente divulgada.

Armando Cañizales Carrillo não caiu em 2002, tão pouco na célebre Puente Llaguno de Caracas, epicentro de um bem montado embuste mediático que procurou responsabilizar militantes chavistas – entre os quais o actual presidente venezuelano, Nicolas Maduro – pela morte de manifestantes atingidos por balas que não foram disparadas nem daquele local, nem àquela hora.

O que relativamente à Venezuela vamos vendo e ouvindo já não é bem pós-verdade, é mentira pura e simples. Informação descontextualizada, informações não verificadas, propaganda com origem num único centro dispensador.

Cuidado. Cautela. Sentido crítico.

3 Comments

  • Paulo

    14 Maio, 2017 às

  • Paulo

    14 Maio, 2017 às

    Aconteceu o mesmo na Síria, em 2011, ou desde 2011.

    https://www.youtube.com/watch?v=oryBYTwBKTw

  • Nunes

    14 Maio, 2017 às

    As mentiras que circulam na comunicação social (quase todos os dias e interrompidas com futebol, Fátima e concurso da Eurovisão), escondem os propósitos da oposição venezuelana. Esta é dada como pacífica e libertária, quando aquilo que se passa nas ruas é violência gratuita desencadeada por grupos formados por delinquentes, alguns recrutado em colégios privados. Muitas armas foram apreendidas, algumas roubadas à polícia venezuelana. A própria oposição incentivada pelos deputados da oposição (como por exemplo, Freddy Guevara e Henrique Capriles) arremessam com um novo tipo de arma contra a polícia: as «puputov» (ideia importada da Colômbia; trata-se de uma espécie de bomba «molotov, misturada com excremento humano).
    A ideia que os venezuelanos passam fome (repetida por um padre português), é outra mentira, há pouco tempo desmascarada pela «Telesur».
    As chamadas «CLAP» ou comissões locais de abastecimento popular, já chegam a levar comida a cerca de 6 milhões de venezuelanos.

Comments are closed.