Autor: Ivo Rafael Silva

Das falácias do Sr. Governador

Carlos Costa, o homem-estátua do Banco de Portugal, o governador que ficará na história por nunca ter tido a coragem nem competência para afrontar, denunciar ou retirar a idoneidade aos grandes obreiros do desastre financeiro do BES apareceu agora, muito ufano e cheio de moral, para mostrar o quão forte e corajoso afinal sabe ser para com os trabalhadores e os desempregados. Em declarações a vários órgãos de comunicação social, no momento em que ainda se sente no ar o odor fétido de anos de inabilidade e inépcia do organismo que continua a dirigir (sem que se saiba ainda muito bem porquê), Carlos Costa pede uma “reforma laboral” que mais não é que um apelo à radicalização da austeridade e à diminuição dos já escassos apoios sociais.

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Direita «observadora» e Constituição

Não é novidade para mim – já o tinha escrito algures – que a próxima grande batalha da direita portuguesa – que não resume aos partidos mas também e sobretudo aos interesses e corporativismos dominantes – consistirá, invariavelmente, na tentativa de derrube da Constituição da República Portuguesa. Como sabemos, para «suavizar» as pancadas, a direita especializou-se em atribuir designações falaciosas aos seus intentos mais macabros. Da mesma forma que, entre muitas outras coisas, o «ajustamento» nunca foi ajustamento nenhum, nesta questão em concreto também não é de «revisão» do texto constitucional que estamos aqui a falar. É mesmo de derrube, de destruição, de subversão, de completa capitulação de o que resta da democracia e da vontade do povo às leis «modernas» da finança, do economicismo e da ditadura do capital. E este “grande desígnio” é aliás uma questão de elementar lógica: se a Constituição foi, de forma muito particular nos últimos meses e anos, a grande salvaguarda e o último bastião da defesa daqueles que menos têm e menos podem – dos trabalhadores, dos reformados, dos pensionistas –, importa portanto eliminar essa «pedra no sapato» daqueles que, hoje como ontem, exploram, usam e abusam daqueles que, no fundo, à custa dessa exploração – cada vez maior e mais acentuada – lhes deram e dão o pão a ganhar.

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Cofres cheios e barrigas vazias

“Portugal tem os cofres cheios”. Foi com esta tirada insultuosa, perversa, ignóbil, que a ministra das finanças encerrou as jornadas do PSD. Com a sua habitual pose altaneira, almejando o júbilo de uma plateia certamente inebriada pela gloriosa revelação, a responsável política que não foi senão “carrasco” de milhões de portugueses e portuguesas, vem gabar-se de que, afinal, o país “tem os cofres cheios”. Cofres cheios “para honrar os seus compromissos na eventualidade de surgirem perturbações no funcionamento do mercado”, claro está, não vá haver qualquer tipo de dúvidas. E eis-nos então perante o país sonhado por PSD e CDS: um país “de cofres cheios”, mas que obriga crianças a irem à escola nas férias para terem direito a uma refeição digna.

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A «Telmice»

O PCP propôs ontem na Assembleia da República uma lei que, no fundo, tinha como objectivo contribuir para a transparência do exercício do cargo de deputado. São, aliás, conhecidas e já várias vezes denunciadas, situações de promiscuidade gritante entre deputados que são simultaneamente políticos e agentes de interesses privados na sede onde se decidem as leis deste país. Como seria de esperar, PS, PSD e CDS votaram e rejeitaram o referido projecto do PCP. E o mais elucidativo é que, tratando-se de matéria de transparência, quem mais acusou o toque e quem mais vociferou contra a proposta foi precisamente o partido dos sobreiros, dos submarinos e de Jacinto Leite Capelo Rego.

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A Cobertura de Cavaco

Cavaco Silva decidiu vir a terreiro fazer a cobertura e o branqueamento da fuga declarada de Passos Coelho à Segurança Social. Pelos vistos, sua equívoca excelência já terá tomado conhecimento dos contornos do incumprimento e já terá inclusive aceitado a respectiva justificação. Reagiu como seria expectável. Fê-lo em nome do PSD. Aliás, corrijo, Cavaco conseguiu ir muito mais longe do que aquilo que o próprio PSD alguma vez se atreveria a ir em defesa da sua honra. Ao colocar uma fuga descarada e assumida aos impostos no plano da disputa meramente eleitoral, ao reduzir dessa forma um assunto de enorme gravidade de uma alta figura do estado ao nível da básica troca de galhardetes entre candidatos, ou até ao nível da colagem de cartazes e da distribuição de panfletos, Cavaco dá ele próprio, com parcialidade e total comprometimento, o tiro de partida na campanha do PSD às próximas legislativas.

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A «boa imagem externa» que é ser-se um servil rastejante

Há cem anos, a subserviência a uma potência externa (no caso, a Inglaterra) atirou-nos para a frente de combate da maior das guerras até então travadas no tabuleiro europeu e mundial. Um século decorrido, o mesmo sentimento de bajulação e servilismo de quem nos governa face a uma outra grande potência externa (neste caso, a Alemanha), atira-nos em sacrifício, rotos e famintos, para as trincheiras da batalha pela defesa da ideologia da austeridade. Num caso como noutro partimos impreparados, com uma mão à frente outra atrás, sem vontade de exigir o que quer que fosse ou o que quer que seja, mas em ambos os contextos com a mesma predisposição e o mesmo objectivo: ser um cão-de-fila exemplar, elogiado “pela dona” enquanto serventuário fiel, bem domesticado e obediente.

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Crispado Silva

O homem não era visto nem ouvido há meses, e agora que aparece, surge-nos crispado. Motivo? Indignado com as inusitadas mortes nas urgências? Indignado com a incompetência do governo na Justiça, na Educação? Nada disso. Alguém tocou, mais uma vez – malditos sejam – no pelos vistos muito aborrecido e incómodo tema da ligação de sua excelência ao grupo Espírito Santo. Isso é que é preocupante. Já não o víamos tão exaltado desde a sua associação à SLN e ao BPN do seu amigo Oliveira e Costa. O dito senhor enervou-se, fez triste figura aos microfones e câmaras dos jornalistas, empalideceu e tremeu o queixo, deu-lhe o verbo para a lamentável postura do costume.

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O Macedo que ainda não se demitiu

Sem que até aqui se tivesse percebido muito bem porquê, Paulo Macedo, à data e hora de redacção deste post “ainda” ministro da Saúde em Portugal, veio gozando na comunicação social dominante de uma invulgar «narrativa» que o «vendeu» – ou tentou «vender» – à opinião pública como «ministro bom» ou «ministro competente». A ocorrência verdadeiramente criminosa – não há outra forma de a classificar – de dois casos de extrema gravidade, no espaço de poucos dias, em que dois doentes acabam por morrer após horas de espera nas urgências de dois hospitais distintos – Lisboa e Santa Maria da Feira – só veio demonstrar aos olhos dos mais ingénuos ou dos mais distraídos acerca da verdadeira situação do sector da saúde neste país, o quão nefasta, fria, arrogante, desumana, indigna e criminosa pode ser a política do corte cego que norteia e perpassa todos – repito – todos os ministros e ministérios deste governo.

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