Autor: Miguel Tiago

Houve quem tivesse votado contra o relatório. Alguém deu por isso?

Um senhor que desconheço, de nome João Vieira Pereira, escreve no expresso diário um texto em que direcciona à Comissão de Inquérito do BES/GES um rol de queixas de ataques, usando, como é tão habitual no rebanho de comentadores que nos (en)forma, da táctica “meter tudo no mesmo saco”.

Não podendo, por não terem sido dadas as bases, continuar o bluff em torno do BE, decidiu João Vieira Pereira atacar todos por igual.

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Chafurdar na lama para enlamear os outros.

Na sua opinião, porque é que os partidos não se reformam?

Porque foram tomados por grupos de poder. Os partidos tornaram-se aparelhos organizados de poder e quem está organiza as suas procissões.(…)”

José Ribeiro e Castro, em entrevista ao jornal i.

Ribeiro e Castro sabe que está no lodo, que está num dos partidos do arco da desgraça e da corrupção e sabe que nós sabemos. A sua melhor opção não é dignificar o seu partido, porque essa é uma batalha perdida, é salpicar os que estão à sua volta com a porcaria que CDS, com o PS e o PSD, fazem.

Um saco de plástico pago não polui?

Actualmente quando faço compras, recebo três ou quatro sacos de plástico para as levar até casa. Geralmente não pago pelos sacos, excepto num ou outro supermercado. Mesmo quando pago, o preço do saco fica em torno de 2 cêntimos. Depois de utilizar os sacos para transportar as compras, geralmente uso os sacos para transportar coisas na moto, incluíndo a roupa suja, para colocar o lixo e para transportar o lixo.

A partir de dia 15 de Fevereiro, uma nova lei entra em vigor, para supostamente diminuir o consumo de plástico. Então vejamos: eu continuarei a ir às compras e, eventualmente passarei a utilizar uma alcofa para transportar as compras. Contudo, continuarei a precisar de sacos do lixo. Como tal, das duas uma: ou compro os sacos de transporte das compras por 10 a 12 cêntimos ou compro sacos de plástico para o lixo que são maiores, mas mais baratos.

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QALY é a tua, ó meu?

Mário Amorim Lopes, que pelos vistos dá aulas de microeconomia numa faculdade qualquer, escreveu a título de convidado um texto no “sentinela” na direita portuguesa, o “observador” que é uma peça política capaz de fazer parecer uns meninos alguns dos mais sanguinários fascistas. O facto de este Mário ser professor na Universidade do Porto e doutorando em economia da saúde prova que de facto, Alexandre Homem Cristo, do CDS, tinha razão quando escrevia que “temos maus professores”, pelos menos no que toca a este Mário Amorim Lopes. Mas pior, mostra que temos o ensino capturado pela doutrina dominante do neo-liberalismo mais bárbaro e ordinário.

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Juros da dívida, um vírus mortal.

Por cada dia que passa, incluindo sábados e domingos, o país paga cerca de 21 milhões de euros de juros da dívida. Religiosamente.

Portugal gasta cerca de 71 milhões de euros com complicações de saúde desenvolvidas nas fases finais da infecção crónica por HepC. O mesmo que gasta em 3 dias e meio com juros da dívida.

Morrem cerca de 1.117 pessoas por ano em Portugal devido a complicações com origem na infecção por HepC.

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PSD e CDS determinam “ring-fencing” ao Presidente da República

Antes mesmo de a Comissão de Inquérito realizar qualquer contacto com a Presidência da República, Cavaco Silva já anunciava que não divulgaria conteúdos sobre as conversas que teve com o então Presidente do BES, Ricardo Salgado. Que não tinha nada a acrescentar, que o conteúdo das audiências é privado, que tem de preservar o espaço de privacidade e a confiança de quem recorre àquelas audiências.

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As focas e o pragmatito que destruíram o BES

Finalmente foi lançada luz sobre o colapso do BES. O BES emprestou quase mil milhões de euros à ESCOM, a tal empresa dos submarinos que trabalhou para os alemães e distribuiu uns milhões pelos empreendedores Espírito Santo a título de bónus, e essa empresa não pagou 60% do empréstimo. Significa que pagou menos de 400 milhões de euros por um total de quase 900. É mais ou menos o mesmo que dizer que recebeu 410 milhões de borla.

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Somos todos …

A frase, sem dúvida bela, do sub-comandante Marcos – pesem as dúvidas sobre a personagem e quem é e o que foi – que se espalhou por tantos cantos do mundo, tem tido hoje um novo fulgor.

“Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer nesse mundo. Marcos é todas as minorias não toleradas, oprimidas, que resistem, exploradas, dizendo Já Basta! Todas as minorias na hora de falarem e as maiorias na hora de se calarem e aguentarem. Todos os não tolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos.”

Hoje, a frase do sub-comandante está nas páginas sociais de muita gente e a sua forma afirmativa de dizer que está na pele dos oprimidos tornou-se moda de tal forma que quem não for Charlie, ou quem não for Grego, ou quem não foi alguma coisa, merece reprovação imediata. Na verdade, Marcos falou figurativamente. Claro. Tal como todos os que são Charlie, e os “somos todos Gregos” e os “somos todos Palestianos” ou o que quer que sejam. Figurativamente. O tom lírico faz parte do romantismo revolucionário, apesar da assustadora realidade que nos convoca para uma abordagem o mais realista possível.

O lirismo é um recurso que uso e alimento. Mas o lirismo não pode ser a capa sob a qual escondemos o nosso comodismo, a nossa conformidade. Quem dá a vida pela revolução, quem se confronta com a morte (como não sei se Marcos alguma vez fez), tem certamente uma margem de tolerância para o uso das figuras de estilo muito além da minha. Eu não sou Marcos, não sou Charlie, não sou Grego, nem sou nenhuma das vítimas mortais das guerras, nem sou um operário desempregado, nem um professor mal-pago, nem um enfermeiro emigrado, nem um doutorado atrás de uma caixa de supermercado, nem sou um manifestante espancado ou um grevista ameaçado. Não sou um estudante sem dinheiro para propinas, nem um velho a morrer às portas das urgências dos hospitais. Não sou um artista que mendiga para comer, nem um homossexual a querer adoptar um filho. Não sou uma mãe solteira nem uma criança que ficou sem abono de família. Eu não perdi o rendimento social de inserção, nem sou vítima de violência doméstica. Não sou sequer um trabalhador explorado no momento em que escrevo.

A hipocrisia de querer ser tudo deixa-nos, por vezes, apenas o papel de não sermos nada. Ou de sermos pouco. Ou de sermos menos do que podemos ser. Porque juntos somos uma massa de seres humanos, todos diferentes, de condições diferentes, num sistema que nos separa pelo individualismo ao mesmo tempo que nos une pela exploração. O mesmo sistema, a mesma organização social que nos divide para nos enfraquecer, está a educar-nos para a revolta inexorável.

Eu não sou tudo e mais alguma coisa. Mas sou comunista. Integro a luta, como posso, como sou e não como Charlie, nem como Grego, nem como espécie ameaçada de extinção. Os meus princípios e o meu comportamento não são, apesar de poderem ser ampliados por essa forma, metáforas. A nossa luta, a dos revolucionários, a dos comunistas, não é uma metáfora, nem uma fotografia de perfil no facebook. A nossa luta, a dos revolucionários e comunistas não é um acto simbólico, é uma marcha diária, plena de derrotas e desânimos, como assinalada pelas maiores vitórias e conquistas que a Humanidade já construiu. É por isso que os comunistas não são toda a gente ao mesmo tempo, mas são gente que luta pela Humanidade a todo o tempo. A Humanidade será vitoriosa sobre o seu passado, como até aqui tem sido.

Ser Charlie na redacção, ou ser indígena em Chiapas, gay em S. Francisco ou trabalhador explorado ou desempregado em Portugal não me habilita mais a ser consciente sobre o que me rodeia. Ter consciência do que sou e de que é aqui, no meu espaço, no meu país, que mais posso contribuir para a libertação de todos em qualquer parte do mundo, não é tão lírico, nem tão cómodo. Porque ser tudo em toda a parte não me daria tempo para ser coisa em alguma em espaço nenhum. Aqui, onde estou, comunista, é onde a luta diária me chama e convoca. É aqui e é hoje que damos o testemunho do que somos, por que lutamos, o que fazemos por um mundo melhor. É aqui e é hoje que nas acções, sem ser outra pessoa, nos libertamos daquilo que nos prende a todos.

E aquilo que nos prende a todos é o domínio de uma classe sobre outra. Se a inversão desse domínio ou até mesmo a sua extinção terminariam todas as injustiças? Talvez não. Mas será certamente o passo fundamental para que as possamos eliminar. Quando eu me sentir compelido a ser um cartoonista assassinado que não sou, posso sempre usar essa força para que ninguém seja. Se eu for o que não sou, luto onde não estou?

Porque, apesar de tudo, eu não sou. Nem tenho de ser. Tal como ante o assassinato de 38 sindicalistas ucranianos não fomos todos sindicalistas, nem ante o massacre de mais de 2 milhões de comunistas na Indonésia fomos todos comunistas.

Ainda bem que Marcos não disse: sou um czar na Revolução de Outubro, mas aquela frase dava para tudo.