Autor: Alexandre Hoffmann

Cultura: um conceito em (des)construção

Cultura é um conceito proeminentemente metafórico, que desliza recorrentemente entre contextos, sobretudo os idealistas e morais, grandemente voláteis, contribuindo para a edificação de uma acepção puramente abstracta ao serviço da hegemonia ideológica do capital. A conceptualização contemporânea da cultura está, quase sempre, desatrelada de uma análise materialista, científica e histórica, promovendo a institucionalização de um anti-conceito que arruína a possibilidade de uma discussão racional. Ademais, tal instrumentalização retira a capacidade de compreensão colectiva sobre algo que nos parece simultaneamente tão próximo e simples como distante e complexo, mas sempre presente na retórica política e social e, sobretudo, determinante na construção burguesa dos itinerários legislativos, reforçando a arduidade da superação do capitalismo.

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Isto não é um país

A realidade política dos tempos hodiernos lembra ser retirada das páginas de uma novela distópica, surreal, mediocremente escrita e de categoria inferior, mas perturbadora que baste para se querer saber o que vai acontecer no seu final.

A narrativa actual é a de uma classe dominante embrutecida num país que parece não saber encontrar-se, que abandonou o pensamento crítico e científico, que se expressa formalmente de uma forma infantilizada e estupidificada, que rejubila pateticamente na sua indigente servidão e aplaude enfaticamente um conjunto de frases pobremente articuladas aos urros. Vendemos a alma e a pátria, somos senhores de destino nenhum, escravos absolutos de determinações alheias e em degradantes reverências a esses tiranos transatlânticos e europeístas chamamos de amigos, aliados, parceiros, mesmo perante o abismo da guerra, do genocídio e da miséria, e só aos povos que se querem livres os olhamos como infestos. Como tolos esperançamos dobrados a uma vida melhor, enquanto os nossos pretensos donos nos cumprimentam com uma saudação fascista.

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Encruzilhada Histórica

É inegável o momento histórico que se vive, revestido por um lado de uma relativa iteração de vários processos económicos, sociais e políticos e por outro com elementos que se configuram em características ímpares, determinadas pela roda imparável das transformações das sociedades, que exigem novas reflexões e subsequentes abordagens, partindo do materialismo dialético para a sua total compreensão.

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Foi bonita a Festa, pá!

É Sexta-feira, 6 de Setembro, Lisboa ficou nas costas e pela ponte 25 de Abril aproximamo-nos do nosso-chão. A sensação é de mais gente e de mais vida nas ruas seixalenses que confluem às entradas da Festa do Avante!, sem certezas, porém, de que há uma certa pressa que nos impele a olhar pouco, e a ver menos, este estacionamento está lotado, avisam-nos e seguimos para o da entrada pela Quinta da Princesa, afinal é mesmo por ali que sempre entramos e a informação não ajuda a dissipar dúvidas, que na verdade ainda não existem. É ainda cedo, anunciamo-nos aos camaradas de turno junto ao portão de acesso, e logo ali, sim, está mais gente este ano, declaramos animados, não tanto como poderia ser de esperar, por alegria e militância, é que há que espertar os sentidos, estão carros estacionados desde a entrada até lá abaixo, e o que nos últimos anos tem sido, naquele estacionamento, tarefa relativamente simples e veloz torna-se um desafio que ameaça não entrarmos a tempo do nosso próprio turno, os camaradas da organização regional procuram saber de nós, a entrar, dizemos, está efectivamente muita gente na Festa, confirmam-nos. Boa Festa, camarada, recebem-nos nos pórticos de entrada e estamos, por fim, na terra dos sonhos, na terra libertada.

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Quantos pobres são precisos para fazer um excedente?

O canto do cisne socialista aí está: um excedente orçamental entonado com altivez e vaidade, com pompa e circunstância, tamanhos números nunca vistos em democracia, mas bem sentidos na pele, ora não fosse essa folga arrancada do suor dos trabalhadores portugueses e do assalto aos serviços públicos e com o seu desmantelamento.

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Kissinger, um sacana sem lei

Mother Jones illustration; Fairchild Archive/Penske Media/Getty; Alexis Duclos/Gamma-Rapho/Getty; Boris Spremo/Toronto Star/Getty

Não há mal que sempre dure, nem as figuras que o preconizam são eternas. Morreu Henry Kissinger, famigerado belicista, criminoso de guerra, responsável por várias das maiores atrocidades da história contemporânea, que se contam em milhões de mortos. Os portões férreos do inferno estão franqueados para o receber.

Kissinger, como Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, foi mentor, estratega e executador das políticas externas norte-americanas, que resultaram numa mortandade de milhões pelo mundo fora.

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A crónica de um (anunciado) Inverno argentino

A estupidificação de parte das lideranças mundiais tem resultado, sobretudo, de dois processos distintos: o esvaziamento da social-democracia na construção de soluções capazes, face à heterogeneização de um mundo convulso, social, política e economicamente falando, e à mediatização, carregados em ombros pela imprensa, dos movimentos, e de seus líderes, que agrupam em sua órbita as correntes políticas populistas e fascistas.

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A cultura é uma arma

A cultura não é uma santa de altar, ultraterrestre ou uma concepção divina, é a memória identitária dos povos e, portanto, não se configura na sua materialização concreta ou abstracta como um objecto imparcial. A arte, que expressa a tradução cultural de uma sociedade, resulta de estímulos e experiências individuais e/ou colectivas, tem como proponente o Homem, que por sua vez é produto das suas próprias circunstâncias e do modelo de organização colectiva que lhe dá origem, social, política e cultural entenda-se.

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