Autor: Alexandre Hoffmann

O Tempo da Indecência

O Tempo da Indecência

Sob a máscara do conservadorismo democrático a extrema-direita política em Portugal está implementada bem para lá das fronteiras dos partidos ou organizações populistas, esticando a sua influência ideológica para as estruturas neoliberais e social-democratas. Neste cenário, um tanto ou quanto aceleracionista, o fascismo é ressurgido e institucionalizado, os seus caciques estão em roda solta e o patronato esfrega as mãos, às aranhas só o pobre, sem saber quem o maltrata.

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If I must die

Mohammed Abed/AFP

“If I must die” é um poema de 2011, originalmente escrito em inglês, pelo escritor, poeta, professor e activista palestiniano Refaat Alareer, assassinado por Israel em 2023, num dos incontáveis bombardeamentos que têm vindo a terraplanar Gaza. O poema, que agora faz parte de uma colectânea póstuma – If I Must Die: Poetry and Prose, recuperou voz e vigor pelas mais óbvias razões, e reveste-se de uma intemporalidade trágica, porque perante o desaparecimento da humanidade canta a esperança, porque é, contra todas as evidências em contrário, a dignidade que resta dessa humanidade ausente.

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Os Índios da Meia Praia

Foto: Festa do Avante

Zeca Afonso ajuda-nos a introduzir neste texto a temática incontornável dos vários processos eleitorais deste ano, e de tudo que faz falta compreender haverá algo desde já a reter: o PCP é a única força política que propõe a transformação da sociedade e a CDU a coligação, que em contexto eleitoral, responde aos anseios da larga maioria da população.

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Cultura: um conceito em (des)construção

Cultura é um conceito proeminentemente metafórico, que desliza recorrentemente entre contextos, sobretudo os idealistas e morais, grandemente voláteis, contribuindo para a edificação de uma acepção puramente abstracta ao serviço da hegemonia ideológica do capital. A conceptualização contemporânea da cultura está, quase sempre, desatrelada de uma análise materialista, científica e histórica, promovendo a institucionalização de um anti-conceito que arruína a possibilidade de uma discussão racional. Ademais, tal instrumentalização retira a capacidade de compreensão colectiva sobre algo que nos parece simultaneamente tão próximo e simples como distante e complexo, mas sempre presente na retórica política e social e, sobretudo, determinante na construção burguesa dos itinerários legislativos, reforçando a arduidade da superação do capitalismo.

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Isto não é um país

A realidade política dos tempos hodiernos lembra ser retirada das páginas de uma novela distópica, surreal, mediocremente escrita e de categoria inferior, mas perturbadora que baste para se querer saber o que vai acontecer no seu final.

A narrativa actual é a de uma classe dominante embrutecida num país que parece não saber encontrar-se, que abandonou o pensamento crítico e científico, que se expressa formalmente de uma forma infantilizada e estupidificada, que rejubila pateticamente na sua indigente servidão e aplaude enfaticamente um conjunto de frases pobremente articuladas aos urros. Vendemos a alma e a pátria, somos senhores de destino nenhum, escravos absolutos de determinações alheias e em degradantes reverências a esses tiranos transatlânticos e europeístas chamamos de amigos, aliados, parceiros, mesmo perante o abismo da guerra, do genocídio e da miséria, e só aos povos que se querem livres os olhamos como infestos. Como tolos esperançamos dobrados a uma vida melhor, enquanto os nossos pretensos donos nos cumprimentam com uma saudação fascista.

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Encruzilhada Histórica

É inegável o momento histórico que se vive, revestido por um lado de uma relativa iteração de vários processos económicos, sociais e políticos e por outro com elementos que se configuram em características ímpares, determinadas pela roda imparável das transformações das sociedades, que exigem novas reflexões e subsequentes abordagens, partindo do materialismo dialético para a sua total compreensão.

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Foi bonita a Festa, pá!

É Sexta-feira, 6 de Setembro, Lisboa ficou nas costas e pela ponte 25 de Abril aproximamo-nos do nosso-chão. A sensação é de mais gente e de mais vida nas ruas seixalenses que confluem às entradas da Festa do Avante!, sem certezas, porém, de que há uma certa pressa que nos impele a olhar pouco, e a ver menos, este estacionamento está lotado, avisam-nos e seguimos para o da entrada pela Quinta da Princesa, afinal é mesmo por ali que sempre entramos e a informação não ajuda a dissipar dúvidas, que na verdade ainda não existem. É ainda cedo, anunciamo-nos aos camaradas de turno junto ao portão de acesso, e logo ali, sim, está mais gente este ano, declaramos animados, não tanto como poderia ser de esperar, por alegria e militância, é que há que espertar os sentidos, estão carros estacionados desde a entrada até lá abaixo, e o que nos últimos anos tem sido, naquele estacionamento, tarefa relativamente simples e veloz torna-se um desafio que ameaça não entrarmos a tempo do nosso próprio turno, os camaradas da organização regional procuram saber de nós, a entrar, dizemos, está efectivamente muita gente na Festa, confirmam-nos. Boa Festa, camarada, recebem-nos nos pórticos de entrada e estamos, por fim, na terra dos sonhos, na terra libertada.

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Quantos pobres são precisos para fazer um excedente?

O canto do cisne socialista aí está: um excedente orçamental entonado com altivez e vaidade, com pompa e circunstância, tamanhos números nunca vistos em democracia, mas bem sentidos na pele, ora não fosse essa folga arrancada do suor dos trabalhadores portugueses e do assalto aos serviços públicos e com o seu desmantelamento.

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