Autor: Alexandre Hoffmann

Assim se faz um pobre

Com cara fechada sobre uma solenidade que denuncia o compromisso umbilical e político com os senhores da alta finança, lançou assim António Costa, nossa nova Dona Abastança, o anúncio de várias medidas paliativas que passam certidão de óbito a qualquer laivo de socialismo desta maioria parlamentar.

Numa altura em que se percebe que a inflação e a carestia de vida só paulatinamente voltarão a valores considerados dentro da normalidade, cenário confirmado por Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e ex-ministro das finanças de António Costa, as medidas anunciadas pelo governo, de carácter extraordinário e temporário, não configuram um conjunto de soluções e respostas ao que enfrentam o povo e os trabalhadores portugueses. De facto, o anúncio resulta, em larga medida e em boa análise, num financiamento dos lucros do grande capital e dos sectores estratégicos, nomeadamente os energéticos e agro-alimentares, através do erário público, subsidiando de forma extraordinária o poder de compra dos trabalhadores, mantendo intocável a posição de privilégio económico e fiscal destes grupos.

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Palestina vencerá!

Pela sombra do eclodir de vários cenários de conflito e tensão da geopolítica mundial, Israel prossegue o genocídio do povo palestino perante uma assombrosa indiferença da comunidade internacional. Os últimos dias foram marcados pelo recorrente bombardeamento de Gaza por parte da força aérea israelita, que provocaram dezenas de mortos, crianças incluídas, e muitos mais feridos. Aos olhos da nova ordem mundial, fascista e fascizante, que se esquece que para existir uma ordem mundial é condição inerente que haja também um planeta, bombas que caiam em solo europeu são más e cruéis, as que caiam longe do seu conceito racial e ideológico, são democracia e progresso.

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Quo Vadis, Europa?

42 mortos, centenas de feridos e o silêncio absoluto.

É este o resultado da cooperação securitária entre as monarquias facínoras de Espanha e Marrocos que à porta do enclave de Melilla concretizaram em sangue e vida imigrante as políticas da União Europeia. Um episódio mais a juntar à crise humanitária do caldo de carne do Mediterrâneo e à infame e mortífera colaboração entre Espanha e Marrocos no que toca a dar fim a quem por intervenção directa e indirecta do imperialismo procura dar um sentido de dignidade à vida.

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A Ferro e Soro

Só aos mais distraídos surpreenderá o cataclismo pelo qual passa o Serviço Nacional de Saúde (SNS), pois é a sua morte anunciada a principal premissa de um compromisso político para a área da saúde da nossa social-democracia, agora de mãos dadas com um liberalismo económico e inorgânico, sedento de lucro nas mãos dos privados.

O SNS remonta a sua fundação ao ano de 1979, onde reunidas as condições políticas e sociais se concretizou então uma das conquistas maiores da revolução: um serviço de saúde universal, geral e gratuito.

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Fronteiras de Abril

O discurso camaleónico, que se alapa mediante a circunstância e pouco sobre a realidade, é já a marca d’água de Marcelo Rebelo de Sousa. Soará familiar a todos, num ou noutro momento de intervenção pública, o Presidente da República exultar o facto de Portugal ser um dos países do mundo com as fronteiras mais antigas e geograficamente estáveis. Não obstante, o que ontem era verdade hoje já não o será necessariamente, ou antes o contrário. Afirmou recentemente, Marcelo Rebelo de Sousa, que as fronteiras portuguesas “já não são o que eram, e hoje passam por África, pelo Golfo da Guiné, pelo Atlântico, pela fronteira de vários países da União Europeia, da NATO com a Ucrânia”. Entendemos então que as fronteiras e outras noções são agora concepções abstractas, subservientes a estados de espíritos e a afectos políticos.

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Comunista não entra

O executivo da Câmara Municipal do Porto, liderado por Rui Moreira, decidiu recusar o pedido da CDU para a cedência do Teatro Municipal Rivoli ao Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), para a realização de um concerto pela paz, sustentando a decisão dizendo que se tratava de uma iniciativa que era “promovida sob a égide de um partido político que tem vindo a branquear o hediondo ataque da Rússia à Ucrânia”. Se poderíamos pensar em algum momento que desvendada estava já a ampla campanha anticomunista que teve lugar nos últimos meses, que muitos empolaram cavalgando no seu saudosismo emocional para alimentar uma nova fase antidemocrática, estávamos profundamente enganados.

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A verdade é uma coisa qualquer

A verdade é uma coisa qualquer.

Só assim se entende que a actual narrativa anticomunista se construa e levante não assente em factos, mas antes se molde à conveniência e a um propósito último.

Não valeu de nada uma única palavra dita pelos comunistas portugueses, que afirmaram, “Putin age com tiques czaristas, a paz é o caminho, que se cesse de imediato a intervenção militar russa”, o que se escreveu e se leu foi, “PCP não condena Putin, nem a guerra”.

Não valeu a posição histórica do PCP em todos os cenários de conflitos internacionais, onde em todos, sem excepção, se apelou à paz e à diplomacia, ao contrário de outros.

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Ucrânia, uma coboiada em três actos

Acto I

Dos mitos às verdades

Da nacionalidade ucraniana há muito que se lhe diga, mais ainda que se lhe escreva. Nenhuma consideração actual está dissociada dos interesses dos interlocutores que lhe dão voz, e, quanto mais se adensa e aprofunda a “tensão” (façamos para já o favor de lhe chamar assim) entre a Rússia e a Ucrânia maior é a manipulação na definição da historicidade do país. Em boa verdade a Ucrânia enquanto nação, de modelo administrativo sólido e de configuração institucional reconhecida pela comunidade internacional data do recente dia de 25 de Dezembro de 1991, nunca antes, em consequência da desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Antes desse momento é certo que se vai definindo de forma esparsa a nacionalidade ucraniana (através sobretudo do desenvolvimento da nacionalidade eslava como um todo), que aliás conta com o contributo soviético nessa matéria; lá iremos.

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