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Nacional

Se as ferramentas e os conceitos marxistas de análise e ciência política, social e histórica vos são distantes, é então fácil crer que os comunistas fazem futurologia da boa: “esta maioria absoluta deixa o PS com condições de levar mais longe o seu compromisso com a política de direita e manter a sua opção de subordinação aos grandes interesses económicos que dominam o país“, alertou o PCP após o resultado das últimas legislativas.

Assim, a turbulência moral, ética e com implicações, alegadamente, jurídicas e criminais do governo, em simultâneo com a promoção da política de empobrecimento geral do país, das famílias e dos trabalhadores, são questões de fundamento ideológico e frequentemente coligidas pelas classes governantes socialistas, mas que não constituem propriamente elementos novos face àquilo que caracteriza a governação burguesa, independentemente da sua proveniência do espectro político.

Convenhamos que face às sucessivas e recorrentes polémicas, transpostas por esta maioria governativa, se podem encontrar inúmeros paralelos, seja no mesmo comprimento de onda de governação maioritária socialista, seja no acrescento democrata à sua nomenclatura, que a bem da verdade e à distância certa, rosa e laranja são promotores de um daltonismo justo, científico e certeiro, e dado tudo pelo mesmo e por igual. Da irrevogabilidade da palavra à mansidão das tias, dos apêndices da cabeça do ministro à pieguice dos trabalhadores, sabemos bem que a tarefa governativa é levada com igual seriedade e compromisso com os portugueses: nenhuma e nenhum; porque se hoje temos aviões, antes tivemos submarinos.

A diferença entre cabritas e limas ou entre relvas e pinhos, são meramente circunstanciais e de forma, porque o compromisso de costas e coelhos com salgados e rendeiros é o mesmo em conteúdo; a corrupção e compadrio não é mais um traço individual de carácter, mas antes uma inerência de determinados projectos políticos que os usam como instrumentos para a manutenção do status quo da democracia burguesa e da sua correlação de forças, que através da subtil alternância de poder garantem a imutabilidade do sistema capitalista e opressor, que vive de e para o lucro da classe dominante. Essa transposição dos moldes da sobrevivência do capitalismo assalta todos os patamares do poder administrativo, do poder central ao poder local, e a sombra da corrupção paira constantemente sobre os municípios geridos por esses partidos, onde a judiciária é convidada de desonra por esse país fora.

Portanto, a oeste nada de novo. O único elemento que traz consigo novidade, mesmo que só quanto baste, é uma quase declarada – tamanhos sãos os rabos de fora -, campanha persecutória para fazer cair por terra o governo PS, em que nem a sua anunciada e prometida estável maioria lhe garantirá vida até ao término do mandato. Claro está, que atirar nozes a porcos facilita em muito a subsistência do animal e, sobretudo, mostra que a constatação da premeditação política do, digamos, ataque e da cadência de polémicas não iliba sobre nenhuma circunstância os perpetradores das mesmas, que em muito comprometem a vitalidade e moralidade da vida democrática; porém, sendo certo que esta mesma constatação, não deixa muito à imaginação quanto à sua procedência.

Não seria possível saber se os trocos gastos por uns para se ensacar esta informação, seriam mais ou menos do que os embolsados por outros na concretização do conteúdo que lhe dá forma, mas com o arreganhar e fender de dentes do fascismo perante a situação, percebe-se quem fez o contracto de crédito. E, se foi com o tarot que se deu mote ao que por aqui vai sendo dito, que ninguém se sinta não avisado de que é assim que se constroem falsas profecias e se soabrem portas a pequenos ditadorzecos que rezam, saber-se-á lá a quem, junto de salvinis e le pens, que berram deuses, pátrias, famílias e trabalhos, ou a equivalentes que se julguem tão honestos que só nascendo duas vezes se lhe podem equiparar: o sibilar é da cobra, mas a banha é dos tão ditos democratas, que se vão empoleirando nos governos.

A futurologia que nos interessa é uma que, perante os sinais analisados à luz de uma ideologia comprometida com a verdade, não nos augura nada de bom se este continuar sendo o caminho: não ficará pedra sobre pedra. A novela da instabilidade governativa capta-nos a atenção, atinge-nos a dignidade e enfurece-nos os sentidos, mas em simultâneo com a concretização de um objectivo político, distrai-nos de um segundo ainda mais preponderante para a vida dos portugueses: a destruição dos serviços públicos e da coesão social.

Em menos de um ano o cenário de descalabro tomou conta de vários sectores do país: o Serviço Nacional de Saúde está em colapso completo, com um caos instalado transversalmente no país; o sistema público de educação é lacunar em recursos humanos e técnicos; as políticas de borlas e desresponsabilização dos sectores energéticos, bancários e de distribuição alimentar comprometem o futuro imediato de milhares de famílias; os projectos de transporte e mobilidade, não dão resposta à necessidade de décadas do país e aprofundarão as desigualdades territoriais; a desregulação do mercado da habitação, e a inexistência da concretização do seu preceito constitucional, faz o mesmo por outros tantos milhares de famílias; a anedótica e subserviente política diplomática e internacional compromete os interesses do país e dos seus valores revolucionários, bem como da independência e liberdade política; a destruição do tecido de produção e industrial do país, atirou o país e o povo para anos-luz da soberania alimentar e económica; as políticas de empobrecimento à custa da acumulação de riqueza nas mãos de uns e a não valorização dos salários e dos direitos laborais, atiram para a pobreza cada vez mais trabalhadores e trabalhadoras, únicos responsáveis pela produção de riqueza.

A submissão do poder político à banca e aos grandes grupos económicos e suas administrações – onde por vezes se confundem -, tornaram os actores governativos meros fantoches, que concebem programas políticos teatralizados e encenados à medida dos interesses e objectivos dos seus donos e amos.

As cartas foram lançadas e não deixam margem à interpretação: unidade e a luta são o caminho de salvação; unidade e luta pela democracia, pelo pão e pela dignidade e justiça na vida.