Autor: Miguel Tiago

Quem dá mais?!

Até hoje, o BPN, já consumiu mais de 4 mil milhões de euros do trabalho dos portugueses. Esse mesmo BPN foi vendido pelo Estado português por 45 milhões de euros, cerca de um 1% do valor que o Estado aplicou para cobrir os “activos tóxicos” dos criminosos do PSD que roubavam os portugueses nas barbas do Banco de Portugal presidido pelo PS. A dimensão dos crimes cometidos pelos administradores do BPN, bem como a cumplicidade dos accionistas da Sociedade Lusa de Negócios jamais será conhecida num país em que os dois partidos envolvidos dominam o Estado em nome dos grandes grupos económicos que dominam as nossas vidas e a nossa economia. Ler mais

A normalização da pobreza

No outro dia fui a um supermercado e quando estava na fila para pagar, vi que atrás de mim estava um rapaz que trabalha numa oficina onde costumo ir. Reparei que trazia com ele a filha. Pensei: “o rapaz que costumo ver manchado de óleo tem, pelo menos, uma filha e pode ter mais. Evidentemente ele come, tal como os seus filhos, a sua mulher, se existir e, por isso faz compras.” e continuei…”ele não deve ganhar muito na oficina, provavelmente salário mínimo… como pode alimentar a família com um salário mínimo? ou talvez dois se a mulher estiver empregada…” e fiquei a olhar, confesso.

A resposta foi fulgurante quando o rapaz encheu o tabuleiro rolante com pacotes de arroz e latas de atum. Arroz. Atum enlatado. Nada mais.

Há uns anos atrás, antes da nova vaga da crise sistémica do capitalismo, as dificuldades existiam, sem dúvida. O capitalismo nunca teve como objectivo o desenvolvimento humano, mas em alguns momentos, esse desenvolvimento foi um sub-produto do capitalismo. Não pode, no entanto, tal desenvolvimento continuar, pelo simples facto de que o capitalismo aproxima-se aceleradamente dos seus limites materiais e, esperemos, dos seus limites históricos.

Que a um idoso fosse roubada uma parte de uma reforma.
Que a um trabalhador fossem roubados dois salários.
Que aos jovens fosse negado o direito a estudar e a aprender.
Que aos portugueses fosse negado o direito à Cultura.
Que gente morresse às portas dos hospitais porque não tem dinheiro.
Que as crianças tenham fome, cada vez mais fome e cada vez mais crianças com fome.
Que as filas do desemprego se encham de novos e velhos, de cabeça baixa ante a tristeza da inutilidade a que os “mercados” os votaram.
Que famílias inteiras vivam da mendicância.
Que nos orgulhemos de ser um povo que dá muito ao banco alimentar.
Que as fábricas fechem enquanto ficamos sem trabalho.
Que os jovens partam tristes.
Que os pais chorem a partida dos filhos tristes.
Que ter alimento seja “sorte” e ter “saúde” seja graças a deus.
Que gente que trabalha esteja condenada a comer arroz com atum enlatado, por vezes talvez nem isso.

Com tudo isso nos indignaríamos à explosão. Mas fomos neutralizados, os nossos limites da tolerância perante a miséria foram movidos, gradualmente. Fomos delicadamente treinados a aceitar o que antes jamais poderíamos aceitar. Delicadamente mesmo quando à força, porque fomos confrontados com uma técnica de choque e espanto que nos impõe a miséria como facto consumado, mas crescente. E antes do choque e espanto fomos chamados a escolher os nossos próprios carrascos, entre PS e PSD.

Mesmo os que lutam, mesmo os que se indignam, viram movidos os limites da indignação, porque não são imunes. E a sociedade estará em movimento de progresso quando a nossa indignação for mais sensível e não, como agora, se torne cada vez mais um atributo humano em contracção.

A normalização da indignidade faz dela regra. A normalização da indignidade é o fascismo.

Quanto mais indigna é a vida mais dificilmente nos indignamos.

O mito da “unidade das esquerdas”

Há um mito sobre a “unidade da esquerda” ou sobre a “unidade das esquerdas” que me faz uma certa confusão e que julgo prejudicar o debate e o surgimento de soluções políticas que se configurem como alternativas. De certa forma, posso simplificar as minhas apreensões: Ler mais

De avaliação positiva em avaliação positiva, até à destruição total

O Pacto de Agressão assinado por PS, PSD e CDS e pelo FMi, BCE e UE tem sido um tremendo sucesso. Na verdade, os objectivos com que o Partido Socialista enviou o à troika estrangeira as suas disponibilidades e compromissos em Maio de 2011, estão muito claros no texto desse Memorando. Os objectivos eram desde o início os mesmos: assegurar a constituição de novos monopólios e a protecção dos existentes, por um lado; e o aumento da taxa de exploração do Trabalho pelo Capital, por outro. Ler mais

Que ninguém esteja confortável até que todos sejamos felizes.

Que ganhas a mais e trabalhas a menos. Que o dinheiro dos teus impostos deve ir para os bancos porque são os bancos que sabem percepcionar onde se deve investir, que isto é uma economia de mercado, pensas o quê? Que não podes ter serviços públicos, que isso de saúde, educação, cultura, é luxo para países ricos. Que tens de aceitar. Que quanto mais te ajoelhares menos custa. Que outro caminho é impossível. Ler mais

O regresso da Escola Dual

Com particular intensidade desde a reforma curricular de Manuela Ferreira Leite, Ministra da Educação de Cavaco Silva, realizada em 1993 e aplicada a partir de 1994, a Escola Pública tem vindo a ser alvo de um ataque permanente, orientado para a sua desfiguração. Ler mais

o bom, o mau e o socialista

Diz que é um mau socialista, o Manuel Alegre. Ele próprio o escreve, numa espécie de acusação à deriva de direita que supostamente se instalou no PS, como se fosse uma espécie de gripe, quando na verdade, e Manuel Alegre sabe-o, é uma doença genética. De tudo quanto Manuel Alegre afirma, se conclui que os “bons socialistas”, ou seja, os que correspondem à corrente dominante, à norma, são de direita e que os “maus socialistas” são um tipo de grilos falantes ressentidos com o rumo que toma o seu partido de sempre. O uso do “bom socialista” e do “mau socialista” é ardiloso: não porque com esse ardil, Manuel Alegre use ironia, dizendo o contrário do que aparentemente pretende para intensificar o efeito da mensagem; mas porque toda a construção “bom” ou “mau socialista” tem um entorse que está, não no adjectivo, mas no substantivo. É que se são maus ou bons, não sei. Mas que não são socialistas, disso tenho a certeza. Ler mais