Olá Avante, estás bom? Olha, vou direito ao assunto: temos de falar. Se calhar até era melhor pessoalmente, porque estas coisas por mensagem… Epá, Avante, ouve: esta cena da longa distância não é para mim. Estamos juntos há quase 20 anos e continuamos a vermo-nos só três dias por ano. Não é isso que estou a dizer. Claro que ainda és o meu tipo, mas esta merda dos amores proibidos não pode durar para sempre, não é?
Todos os anos há uma campanha contra a nossa relação. Ainda vamos em Agosto e já começaram. Andam a dizer que tu só me dás prejuízo (quase um milhão não é?), que o melhor para mim era não estar mais contigo. Mas nós sempre nos rimos na cara dos prejuízos e das continhas deles, não é? Todos os anos é a mesma coisa: se não for a covid é o apoio e se não for o apoio são as FARC e se não forem as FARC é a máscara, ou as cadeiras, ou o IVA, ou o IMI ou qualquer coisa. Por mais que lhes expliquemos eles nunca nos vão entender. Não ligues a isso, Avante. Deixa-os lá calcular quantos prejuízos dão as viagens que fazemos e os bilhetes do cinema que compramos e o livros que oferecemos e as festas que fazemos e os sonhos de que não abdicamos. A gente ri-se na cara deles, Avante.
Mas não é nada disso. A verdade é que isto não me está a fazer bem e já toda a gente repara: mesmo ontem na jornada… eu a emocionar-me por tudo e por nada, só por causa da Dina, a trabalhar sob o sol de Agosto a tratar toda a gente por «querido», ou só porque, já passava das duas horas e já não vendiam mais café, e houve alguém que em protesto começou a cantar o Coro da Primavera (Avante, eu juro que isto é verdade, pá) “Ergue-te ó sol de Verão! Somos nós os teus cantores!” e juntaram-se uma, duas, cinco vozes, “Da mantinal canção, erguem-se já os rumores”, nove, dez, vinte vozes (quem lá estava não me deixa mentir) “Ouvem-se já os clamores. Ouvem-se já os tambores”, trinta vozes tantas, cinquenta vozes muitas, afinadas, espantadas, a celebrar (assim, se vê!) terem cedido os camaradas do bar e baterem já as borras dos cachimbos da máquina de café a acompanhar o coro. Somos nós os teus cantores. E eu, a comover-me a toda a hora, só porque o Figueiredo estava a contar-nos como no Fascismo se pintavam frases nas paredes com nitrato de prata, tinta invisível e prodígio de alquimista, que se a polícia passasse, olé, não via nada, mas que, no dia seguinte, ergue-te ó sol de Verão, quando se lhe dava a luz, as letras saíam pretas da parede, ouvem-se já os clamores. Não, Avante, não é realismo mágico porra nenhuma: é uma reacção química, procura na net se quiseres, ou pergunta ao Figueiredo.
Olha Avante, no fundo é só isto: vai ficando na altura de viver contigo todo o ano. Talvez daqui a mais cinquenta, cem anos, já possamos. Não sei, que nós marxistas somos pouco dados à futurologia, mas era bom que fosse rápido, porque lá fora, Avante… há homens a cair de aviões no Afeganistão. Lá fora, nunca se param de contar os cadáveres das crianças palestinas. Fora da Atalaia, o PSD do Seixal vandaliza “placas toponímicas comunistas” porque diziam Luís de Camões ou Júlio Dinis. Lá fora, os patrões dos centros comerciais vão processar as mulheres que insistem em gozar os direitos de maternidade. Lá fora, andam a vandalizar os centros de vacinação. Mas é com a nossa relação que eles vão estar preocupados. Erguem-se já os rumores.
E enquanto não vivermos juntos? Até lá, existe nas Antilhas uma flor chamada rainha-da-noite (cestrum nocturnum). É um cacto espinhoso e bruto que só desabrocha uma noite por ano e apenas durante algumas horas, mesmo que esteja mau tempo e tenha chovido pouco. Porque é que passamos meses a construir-te, a pintar-te, a embelezar-te, para depois, como a rainha-da-noite, mesmo que tenha chovido pouco e dês prejuízos, só te vermos durante umas horas, uma vez por ano? De repente no bar de apoio ergueu-se implacável o sol de Verão, que ressalta nas chapas e bate em frente na empena branca e, para generalizada estupefacção dos construtores, começam a aparecer letras pretas, escritas a nitrato de prata, sabe-se lá há quantos anos, sabe-se lá por quem, se por mim ou por qualquer um de nós que lá nisso somos iguais: e fica o bar de apoio, a olhar espantado para a parede onde se lia “Avante, eu acho que gosto de ti”.
25 Agosto, 2021 às
Fantástico
24 Agosto, 2021 às
Pronto. Não é preciso de mais nada. Foi a gota que transbordou o copo.
Estarei, melhor, estaremos no Avante, porque acreditamos que outro mundo é possível. Impossível seria o contrario.
Obrigado e Ate já.
Mário
23 Agosto, 2021 às
A criatividade é infinita.
As letras de Zeca Afonso como se comprova, ainda vão perdurar por muito, e muito tempo.
Se a comunicação social que o deveria ser, fosse portadora de vontade na pesquisa transmitisse toda a vontade de um povo, certamente, que hoje, seria um dia de gritar bem alto. Viva Abril, a Luta Continua!
22 Agosto, 2021 às
Eu não estou com o Avante uma vez por ano, eu estou com o AVANTE todas as semanas do ano, incluindo aqueles 3 dias espectaculares.
22 Agosto, 2021 às
Parabéns, magnifico e até comovente texto. Adoerei! Viva a Festa do Avante! Viva o Partido Comunista Português!
22 Agosto, 2021 às
Deixa que digam, que pensem, que ladrem, a “Atalaia” é linda e o Avante é do Povo!
19 Agosto, 2021 às
É isto ❤️
Emocionei me!
Avante eu gosto de ti!!!!
18 Agosto, 2021 às
Oh, camaradas o AVANTE é como o sol que se levanta todas as manhãs radioso para nos aquecer a alma, mesmo que as nuvens por momentos o tapem, ele continua lá e reaparece mais forte!!!! São poucos dias, pois são, mas aquece-nos a alma e da-nos força para que no ano seguinte nós o abracemos saudosos!!!! E….até lá nós lutamos para construir na sociedade tudo o que ele representa!!! ATÉ SEMPRE AVANTE!!!!
18 Agosto, 2021 às
Texto magnífico, mas muito triste por ser a realidade com que nos debatemos todos os anos
18 Agosto, 2021 às
Lido na Foz do Amigo, emocionado. No próximo fim de semana te abraçamos, Avante!
18 Agosto, 2021 às
Maravilhoso texto! Um abraço com o sol do verão/avante a erguer-se e com ou sem nitrato de prata vamos gritar-lhes que Á Festa ninguém a derruba nem os “talibans” desta pobre democracia!
18 Agosto, 2021 às
Vemo-nos por lá, Avante! Não faltaremos ao encontro!
18 Agosto, 2021 às
Um amor que não se explica… Sente-se! Vive-se! Mesmo que sejam só 3 dias por ano! ♥️
17 Agosto, 2021 às
Muito bom
17 Agosto, 2021 às
Parabéns pelo excelente texto!
Festa do Avante é cultura para todos! 🤍
17 Agosto, 2021 às
Palavras para quê!
17 Agosto, 2021 às
Deliciosa essa r”a”lação.
17 Agosto, 2021 às
Tb passo o ano a morrer de saudades pelos 3 dias d’ Avante… ✊, mas compensam de alegria o resto duro do ano. VIVA a Festa do Avante❤️
17 Agosto, 2021 às
Emocionei
17 Agosto, 2021 às
Magnifico.
17 Agosto, 2021 às
Lindo…
Adorei.✊✊✊♥️
17 Agosto, 2021 às
Maravilhoso!❤️
17 Agosto, 2021 às
Que maravilha,…..