Bombing em toda a parte!

Nacional

Quanto maior for a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, contra os portugueses e aqueles que cá vivem, e quanto maior for o desvio de recursos públicos para as mãos dos banqueiros e agiotas, maior será a necessidade de intensificar o carácter repressivo do Estado.

Quando Álvaro Cunhal dizia que a base fundamental dos nossos direitos culturais, sociais e políticos é a economia e os nossos direitos económicos, mostrava com clareza a interpenetração e interdependência entre essas vertentes da vivência colectiva, apontando que no desenvolvimento de uma, se desenvolvem as restantes, como no definhamento de uma definham as outras. A alteração quantitativa no plano da economia provoca alterações qualitativas na vida, nos diversos planos.

A intensificação do papel repressivo do Estado, ainda que à margem da lei escrita, responde no essencial ao desenvolvimento temporal que gera o aumento da expressividade da política de concentração e recuperação monopolista. Não porque essa política seja nova, mas porque a cada dia que passa, maior a sua intensidade e maior a avidez dos monstros que a dominam. A cultura, a expressão livre e criativa, o protesto, são um patamar fundamental da ruptura e da revolta, por sua vez momentos incontornáveis para gerar a organização necessária para definir o programa e concretizar a revolução socialista.

A notícia de que um qualquer director mandou destruir as cópias de uma revista porque um trabalho de investigação do seu instituto teria cometido a ousadia imensa de colocar frases como “nos bolsos deles, os teus sacrifícios”, a perseguição policial e judicial a muitos jovens (principalmente comunistas) que pintam as paredes com as mais diversas frases de protesto ou mero bombing, a tentativa de marginalização da estética urbana independente e a sagração da poluição visual gerada pelo marketing das marcas como uma espécie de indicador de liberdade, a ridicularização do protesto, são apenas sinais das alterações quantitativas e qualitativas que o Estado híbrido (que nem é formalmente fascista, nem na realidade social-democrata) atravessa.

Quanto maior for a tua vontade de lutar, maior serão as várias formas de prisão. Quanto maior for o roubo, maior será a arma para te calar. A chave para a libertação é a expressão, a liberdade, a cultura, a organização, o protesto. Farão tudo para te negar a chave que te liberta dos grilhões deles.

Mas ninguém pode negar aos homens e mulheres essa vontade incontornável de sonhar. “E primeiro veio o sonho, depois a utopia, depois o projecto e a luta revolucionária”. Até que dos sonhos se faça a realidade. Foi assim sempre, assim será.