Botas cardadas com pezinhos de lã

Nacional

Ui, que lá vêm eles com mania da perseguição queixar-se da cobertura mediática. Não é nada disso. Trata-se apenas da constatação de um facto que os últimos dias de incerteza governativa ajudaram a deixar claro. A direita-se pela-se de medo da esquerda e qualquer convergência que envolva o PCP é um ataque à democracia. Se isso se tornou evidente em todos os canais de televisão, jornais e rádios, no mundo complexo dos jornais regionais locais o caso é ainda mais grave. Num caso que não me recordo de alguma vez ter visto, surge o mesmo editorial, letra por letra e linha por linha, em quatro jornais locais: Diário de Coimbra, Diário de Leiria, Diário de Aveiro e Diário de Viseu. A vantagem destes em relação a outros órgãos de informação, neste caso os de carácter nacional, é que estes assumiram abertamente o seu combate à esquerda e ao PCP em particular, com referências tolinhas ao PREC e à desgraça que seria ter os comunistas no poder. Caiu a máscara a tantos e pode ser que isso ajude a clarificar aquilo que acusam de ser uma cassete.

Todos os artigos são assinados por Andriano Callé Lucas, director dos quatro jornais:

“Todos os que vivemos os tempos conturbados do processo revolucionário de 1975 (o PREC de má memória) nos lembramos bem dos desmandos e dos grandes prejuízos causados ao País, quando os comunistas estiveram no poder. Desde logo quando tentaram suprimir as liberdades individuais, a começar pela Liberdade de Imprensa ao tomarem de assalto quase todos os jornais, incluindo o “República”, do próprio Partido Socialista, no intuito de silenciarem os opositores, visando a implantação de uma ditadura ao estilo soviético.
A bem do País, e da confiança dos agentes económicos indispensável ao crescimento e à criação de emprego, esperamos que impere o bom-senso no Partido Socialista, que esta associação perversa com a extrema esquerda não venha a concretizar-se e que não se repita em Portugal o triste exemplo a que assistimos este ano na Grécia com o Syrisa, que agravou o empobrecimento do povo grego.
O Diário de Viseu manter-se-á fiel aos princípios do seu Estatuto Editorial e não deixará de combater este cenário tão negativo para o País se o mesmo vier a concretizar-se. Continuaremos na mesma linha, ao serviço dos nossos leitores, assinantes e anunciantes, que são a nossa única razão de ser, a quem agradecemos a preferência e o apoio que nos têm dado”.

A todos o nosso Bem Haja.

Isto explica, em parte, porque é que dá tanto trabalho ter uma militância activa num Partido como o PCP. Não são só os grandes grupos de media que distorcem, cortam e subvalorizam o que são as posições do PCP. A nível local, conseguir uma notícia em jornais propriedade de gente como esta, é uma tarefa hercúlea. Por isso é que tenho a firme convicção de que eleger um deputado do PCP numa Assembleia de Freguesia, numa Câmara ou numa Assembleia Municipais ou na Assembleia da República, provoca mais receio nos fazedores da opinião dominante do que eleger mais cinco de outro partido qualquer. Porque sabem que não foi através deles que conseguimos, não foi pela sua simpatia ou condescendência, mas sim que cada voto é conquistado através do esclarecimento directo, olhos nos olhos.

Mas, convenhamos, há um gostinho especial em ver vermes como este a espernear:

“(…) defensor de causas que interessam às suas gentes, da Liberdade de Imprensa, da livre iniciativa privada, da economia de mercado e da sã concorrência, do combate aos monopólios, à burocracia, ao centralismo do Estado e a quaisquer ideologias colectivistas, totalitárias, fascistas, comunistas ou outras, que alienam e escravizam os seres humanos. Defendemos a regionalização do País bem como a plena integração e unificação europeia, numa Europa federada, numa Europa das Regiões e dos Cidadãos, dado estarmos convictos que é na Europa e na partilha dos seus valores (de democracia, de liberdade, de economia de mercado, de moeda única, de defesa comum, entre outros) que a grande maioria dos portugueses se revê, como cidadãos europeus de pleno direito que também somos, conforme tem sido expresso nos diversos actos eleitorais”.