O Observador e a luta de classes

Nacional

Já o referi e reafirmo: o debate para o qual a direita nos convida – em torno do marxismo-leninismo, da história dos comunistas e das suas relações internacionais – é terreno minado, uma armadilha que visa desviar a atenção dos portugueses daquilo que hoje é essencial – afastar do governo de Portugal uma coligação de direita que conduziu o país a níveis de pobreza sem paralelo desde o 25 de Abril. Importa por isso resistir ao impulso e, por essa forma, evitar a armadilha.

Coisa diferente é calar a nossa indignação face ao ataque mediático continuado que desde 5 de Outubro passado tem sido dirigido ao PCP, aos seus dirigentes e militantes. O último exemplo dessa ataque cerrado vem hoje do diário online e pop de direita “Observador”.

Uma das notícias que hoje têm destaque no “Observador” diz respeito ao PCP e a “alguns dos camaradas do PCP no resto da Europa”. Trata-se de uma peça carregada de erros e deturpações, mistificações e meias-verdades, que visa apresentar o PCP como um exemplar exótico numa Europa onde não restam outros partidos comunistas verdadeiramente relevantes. Acontece que a coisa é tão mal feita que nem as questões factuais simples batem com a realidade.

O artigo foi entretanto alterado (depois de observação dirigida ao jornalista que o assina), mas mantêm-se erros factuais simples que lhe ilustram toda a falta de credibilidade. Na primeira versão podia ler-seque “em toda a União Europeia, o partido liderado por Jerónimo Sousa é aquele que tem a votação mais alta entre os seus homólogos”; a formulação foi alterada, depois do envio ao “Observador” da informação sobre o facto de existir na República Checa um Partido Comunista (da Boémia e Morávia) que obteve nas últimas eleições legislativas quase 15% e mais de 700 mil votos, mas mantém-se incorrecta já que também “na zona euro” existe por exemplo um fortíssimo Partido Comunista, declaradamente marxista-leninista, com votações próximas dos 30% (o AKEL cipriota).

Pode descansar o “Observador”. O PCP não se encontra isolado nem no plano nacional, nem no plano internacional. O movimento comunista reergue-se – com ou sem transposição para a contabilidade eleitoral -, sobretudo nos locais onde a sua identidade se mantém firme e fortalecida. Não haverá descontextualização da história do DKP, referências à STASI e deturpação das declarações de Christel Wegner capazes de esconder o óbvio: o “Observador” é parte activa na campanha mediática montada contra a participação do PCP em eventual solução governativa. É triste mas não admira: o “Observador” tem o seu lugar perfeitamente definido e assumido na luta de classes. Essa mesma que continuamente afirmam não existir.