Colômbia

Internacional

A concretização do acordo de paz entre o estado colombiano e as FARC-EP é um acontecimento de ímpar importância na história da Colômbia, da América Latina e do continente Americano.

Se a paz se concretizar efectivamente, se as palavras escritas em papéis corresponderem à efectiva acção das partes, o conflito colombiano – que teve início em meados dos anos 60 – poderá reorientar-se para formas de luta não armada, o que de forma alguma significará a rendição popular perante o narco-Estado colombiano, assente sobre três pilares fundamentais: as oligarquias pós-feudais, em parte ligadas ao narcotráfico; os grupos armados paramilitares, responsáveis pela perseguição, tortura e execução de milhares de militantes de partidos de esquerda e estruturas sindicais e de camponeses; a fortíssima ligação ao imperialismo norte-americano, que encontra nas elites colombianas um dos mais fiéis aliados na região.

É triste e esclarecedor o silêncio da imprensa portuguesa acerca do momento histórico que vive a nação colombiana. Não me parece disparatado associá-lo ao constrangimento e embaraço que causará aos escribas do regime ter de reconhecer o papel absolutamente decisivo que neste processo desempenharam Cuba, que recebeu no seu território as negociações entre o governo colombiano e as FARC-EP, e a Venezuela, talvez o país mais ofendido e caricaturado do momento presente, logo depois da República Popular Democrática da Coreia, mais conhecida como “Coreia do Norte”. Tivesse o Prémio Nobel da Paz o prestígio que a imprensa insiste em lhe atribuir (apesar de já o terem recebido chefes de Estado implicados em guerras de agressão e ocupação ilegais bem como no assassinato extra-judicial de milhares de pessoas em várias partes do mundo) e seriam candidatos destacados a recebê-lo aqueles que em Cuba e na Venezuela mais empenhados se mostraram na paz colombiana.

Naturalmente que os desafios que daqui em diante se colocam aos colombianos não são menos complexos do que aqueles que existiram durante o período da guerra. Responsáveis das FARC e do PCC recordam nestes dias o massacre que no início da década de 90 se abateu sobre a União Patriótica, com o assassinato ao longo de vários meses de milhares (sublinho: milhares) de militantes e dirigentes daquela força política. Não o fazem por acaso: os sinais que chegam do exército colombiano parecem denunciar a falta de vontade dos seus sectores mais reaccionários para cessar a guerra. O receio de que os guerrilheiros das FARC-EP desmobilizados possam ser perseguidos e assassinados pelos grupos paramilitares que gravitam em torno das oligarquias colombianas é não apenas real como justificado.

O futuro da Colômbia é provavelmente mais incerto hoje do que foi no passado recente, durante as fases mais agudas da guerra. É por isso fundamental que também do lado de cá do Atlântico falemos sobre o assunto com quem o ignora ou desconhece nos seus aspectos essenciais. O povo colombiano precisa uma vez mais de toda a solidariedade e atenção que lhe possamos dispensar.