Comunistas? Mudinhos é que eles são bons!

Nacional

Em 2011 um conjunto de pessoas dos mais variados sectores sociais e profissionais, lançou o “Apelo em defesa de um Portugal soberano e desenvolvido”. Desde essa altura tem vindo a realizar várias iniciativas políticas com diferentes moldes e temas mas sempre com dois denominadores comuns: a luta contra as políticas de acentuamento da exploração e a total ausência da comunicação social.

Ontem, no Auditório da Faculdade de Ciências – e com zero imprensa -, realizou-se uma sessão comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, e basta fazer um pequeno passeio pelo sítio do Apelo, para perceber que desde 2011 até à sessão de ontem, o número de subscritores tem aumentado. Lendo com atenção a lista dos promotores do evento, percebemos que tem peso político e até algumas pessoas que, quando falam noutros locais e plataformas, têm o tempo de antena correspondente à qualidade do seu discurso.

Mas porque é que o Apelo tem sido silenciado?

A resposta é simples: tem muitos comunistas, militantes do PCP ou pessoas próximas do PCP. E não adianta que o consenso em volta deste Apelo se vá alastrando e vá chegando a pessoas de outros partidos e espectros políticos mas que compartilham com os comunistas o objectivo primeiro de derrubar este governo e as suas políticas e, depois de dado esse passo, inverter o caminho de empobrecimento do país e das pessoas e criar um Estado tão mais próximo dos seus cidadãos quanto maior forem as suas necessidades e dificuldades.

Não adianta que tenham promovido o encontro de ontem o tantas vezes reconhecido e promovido pela comunicação social, Siza Vieira; o tantas vezes auscultado pela comunicação social sobre a justiça, António Cluny; o tantas vezes fazedor de manchetes e de ovações em pé noutros círculos mais mediáticos, Sampaio da Nóvoa; o capitão de Abril, Duran Clemente; a que através do seu discurso sobre os espelhos que teremos de partir com a Alice conseguiu partir durante alguns dias o espelho sonoro que silencia este Apelo, Joana Manuel; um dos profissionais da comunicação social que mais respeito merece pelo seu profissionalismo e inteligência, José Goulão; o seu colega jornalista que quando é para falar sobre o Que Se Lixe a Troika tem tempo de antena – agora já nem tanto -, Nuno Ramos de Almeida; um outro militar de Abril que desde pequeno me lembro de ver e ouvir na televisão várias vezes, Pezarat Correia; um dos homens mais ouvidos pela comunicação social quando se trata de escrutinar o ministro Crato e o estado da educação, Santana Castilho. E muito mais gente que nos seus círculos profissionais e sociais merece a admiração dos seus pares.

Nada disto interessa, porque na raíz de tudo terão estado “os comunistas”, esses perigosos terroristas que querem trocar dívida por pão, reality shows por livros e inevitabilidade por democracia. Nada disto interessa a uma comunicação social que procura e repete ad nauseam o “consenso”, e que quando tem um movimento que mesmo sem holofotes e braços protectores invisíveis tem vindo a alargar o número de envolvidos, ou seja, tem vindo a alargar o consenso em torno das suas ideias. Nada disto interessa porque “há lá demasiados comunistas, e se os comunistas quiserem que metam os pés ao caminho que de nós não levam abébias.”

E basta ligarmos a televisão e a rádio ou abrir um jornal para percebermos que este silenciamento não tenta disfarçar-se, mais, à medida que em eleições e sondagens os comunistas se vão cimentando, ele aumenta.

Nos programas de opinião e debate a coisa é tão absurda que chega a ser risível. Lá se vai ouvindo o Octávio Teixeira ou o Carlos Carvalhas, mas sempre com contenção, lá se entrevista um ou outro deputado comunista, e lá se vão fazendo uns directos de manifestações sindicais, mas é só porque eles usam megafones e cores e é impossível dizer que não andaram na rua, mas se tivessem porrada e desorganização melhor seria.

Mas deixar um comunista falar no Eixo do Mal? Um comunista a “desquadrar” o círculo? Uma comunista a ter um lugar na mesa principal do Prós e Contras? Uma marxista-leninista no Governo Sombra a mostrar que os comunistas também sabem “humorar” a política? Uma opinião semanal, com uma assinatura digitalizada, de um antigo deputado ou secretário-geral do PCP? ‘Tá queto! E até se podia pensar que isto eram vícios antigos das 3 grandes televisões e das suas máquinas e que com o aparecimento de outros canais pequenos no cabo a coisa melhorava, mas depois passamos pelo Canal Q, que – e sem ironias – tenta trazer algumas novidades à televisão através dos seus conteúdos e da sua tentativa de inovação, e percebemos que nos seu programa de comentário político semanal, o “Sem Moderação” temos um deputado do PS, um ex-deputado do PSD, um militante do CDS e o Daniel Oliveira, ex-PCP, ex-BE, e é extraordinariamente difícil ligar a televisão e não dar de caras com ele.

Calculo até que se os comunistas deixassem de realizar iniciativas com a intervenção do seu secretário-geral, que têm de ser cobertas para também não parecer muito mal, a comunicação social não mexeria uma palha para saber o que os comunistas têm a dizer sobre a actualidade política.

Mas não adianta vestir a casca do Calimero. Só adianta reforçar ainda mais o empenho na transmissão das ideias, das propostas, das dúvidas e das certezas que os comunistas, a par de outros e outras, têm vindo a apresentar. Aproveitemos este período de campanha eleitoral para tirar o melhor proveito do tempo de antena que obrigatoriamente nos terá de ser dado. Sabemos que a luta não é igual, que todas as semanas os cabeças de lista do PS e do PSD/CDS tratam de tirar a limpo a “Prova dos 9” à demagogia e ao jogo da falsa democracia.

Mas é nas ruas que estão os nossos interlocutores, nos mais informados e nos menos informados, em quem vive do seu trabalho. Enquanto uns gastam a pele com os quilos de maquilhagem diária que os protegem dos projectores dos estúdios de televisão e lhes alindam as feições, cabe-nos gastar a sola dos sapatos e percorrermos as ruas que eles têm vergonha e medo de pisar.

“Atenção câmara 5, vai falar o Jerónimo de Sousa…entra a mira técnica. Fim de emissão.”

P.S. – para as formiguinhas das redes sociais, aqui fica o link para a página de Facebook do Apelo, partilhem que não custa nada.

* Autor Convidado
André Albuquerque