Os mencheviques eram os revolucionários russos que, no início do século XX, defendiam que antes de chegar ao poder operário, a revolução devia cumprir obrigatoriamente uma série de etapas políticas e históricas que, à luz de uma concepção economicista do marxismo, não podiam ser saltadas. Para os partidários de Trotsky, uma sociedade agrária em que o proletariado industrial era demográfica e politicamente embrionário, não podia saltar directamente para o socialismo. Era antes necessário que, sob o timão da burguesia, a Rússia se libertasse o desenvolvimento das forças produtivas as grilhetas do feudalismo. Depois, os mencheviques propunham um longo rol de de etapas protagonizadas por graduais transformações de corte nacional, constitucional, republicano e económico e democrático.
Os bolcheviques, à semelhança aliás de todos os comunistas que, ao longo do século, se lançaram na grande epopeia de construir o socialismo, também não rejeitavam as etapas na construção do socialismo. A sua concepção de etapas, contudo, diferenciava-se dos mencheviques pela concepção dialéctica da História. Os mencheviques aferravam-se a etapas estanques, sem comunicação com a vida; já os bolcheviques inventavam e eliminavam etapas conforme o desenvolvimento da luta de classes.
A existência de etapas na construção do socialismo não é etapismo da mesma forma que, só por si, a luta pelas reformas não é reformismo nem a política de alianças é conciliação de classes. O que distingue os bolcheviques, hoje como há um século, é a capacidade de aplicarem em cada momento a dialéctica à estratégia sem submeter os objectivos finais à táctica imediata. É por isso que aos bolcheviques, as conquistas sociais só interessavam na medida em que alavancassem a luta dos trabalhadores, reforçassem o partido e elevassem o nível de consciência «para si» das massas. Da mesma forma, os bolcheviques só admitiam as políticas de alianças de que não ficassem reféns. O binómio da flexibilidade táctica e da intransigência nos objectivos permitia que em cada etapa nunca se perdesse politicamente o fito da revolução social.
Não quer isto dizer que, hoje em dia, os comunistas devam copiar a táctica dos bolcheviques. Aliás, é Lénine quem aconselha: «Não copiem as nossas tácticas, mas analisem as razões para as suas características, as condições que as criaram e os seus resultados; vão para além da letra e apliquem o espírito, a essência e as lições da experiência de 1917-1921.»
Analisemos, pois, as razões pelas quais, ao longo da história em em cada contexto, os comunistas decidiram cada táctica. Estudemos, em cada experiência histórica, os resultados de cada aliança, cada etapa, cada reforma. Procuremos, no marxismo e na vida, compreender e dominar as leis a que cada etapa histórica e política obedece.