Ficar em casa mata o amor.

Nacional

O primeiro de maio é um dia de esperança. Claro que vem de longa história marcada pelo sangue dos mártires anarquistas de Chicago, claro que a bandeira vermelha que depois se levantou nas mãos dos operários de todos o mundo representa também o sangue que estes têm sempre de derramar quando lutam, claro que não há história de vitória sem que milhares tenham tombado na soma de derrotas que, por vezes, a compõem.

O primeiro de maio é um dia de luta, não é um dia de protesto. Não é um dia de festa. Mas é de esperança e confiança no futuro. Não é uma celebração como quem assinala que passou mais um ano desde Haymarket, nem um desfile de memorabilia e nostalgia pelos gloriosos anos de avanço operário no sistema socialista mundial. É um dia em que os trabalhadores de todo o mundo assinalam o mundo que pretendem construir.

Haverá sempre os que, como a UGT, pretenderão fazer do primeiro de maio um dia inócuo de concertos e bifanas para a malta vir à capital na camioneta paga pelo “sindicato”. Haverá sempre os que, como os do BE, achem que o primeiro de maio só pode ser assinalado se for para fazer boa figura na comunicação social burguesa. Mas felizmente, por todo o mundo ainda há os que têm um inquebrável compromisso com a libertação daqueles que representam, com os trabalhadores.

O primeiro de maio, por ser o nosso dia de esperança, é o dia da agonia da burguesia. Agonizam as redacções dos seus jornais, das suas rádios e televisões, agonizam os seus dirigentes partidários da esquerda à direita, agonizam os comentadores, os colunistas, os reaccionários, os anticomunistas e os donos disto tudo, mesmo que cada um seja dono de um bocadinho disto tudo.

Em plena pandemia provocada pelo Sars-CoV-2, em que os trabalhadores de todo o mundo estão sujeitos a uma pressão sobre os seus postos de trabalho e mais elementares direitos, os mesmos que sempre gritaram que não havia solução nem alternativa, que tens de baixar a bolinha e que isso de primeiro de maio é demodée e coisa do passado, que o capitalismo é que é modernaço (apesar de o primeiro de maio ser mais novo que o capitalismo) juntamente com outros que sempre acharam que o primeiro de maio é só um desfile de festa para mostrar umas pinturas fixes na cara e umas fatiotas criativas com palavras de ordem tiradas da poesia de 68, vieram dizer-nos que não era o momento de ir para a rua.

O coro da classe dominante juntou-se finalmente e colocou de lado as aparentes divergências entre os partidos burgueses de esquerda e burgueses de direita. Veio tudo chamar aos dirigentes sindicais da Intersindical uns irresponsáveis. Os dirigentes da CGTP passaram a ser “portugueses de primeira” enquanto que os que não podem ir visitar a avó passaram a “portugueses de segunda”. Um coro de escandalizados pôs as mãos à cabeça e escreveu capas inteiras de jornais – porque a falta de espaço mediático é uma cena que não lhes assiste – falou nas tvs e acusou os comunistas de terem abusado. O secretário-geral do PCP passou de velhinho simpático (como ultimamente o vinham caracterizando) a vil e virulento privilegiado do estado comunista que deu livre-trânsito aos dirigentes sindicais para espalharem o caos e a desordem com um vírus chinês.

Inadmissível, dirão. Que numa altura em que nos dizem #ficaemcasa e que #vamosficartodosbem haja quem ouse mostrar que se pode animar o nosso espírito colectivo de forma combativa e igualmente responsável. Quão diferentes seriam as notícias, pelos vistos – essas sim – verdadeiras, se no dia primeiro de maio e seguintes os cabeçalhos fossem “notável organização da CGTP coloca milhares de trabalhadores na rua por um futuro melhor” ou “com os devidos cuidados, a luta da CGTP e dos trabalhadores não para”, ou ainda “obrigado CGTP, por nos mostrares que mesmo nos tempos mais escuros, podemos acender a luz da esperança”. Nenhum destes títulos seria mais propagandístico do que o permanente ataque à CGTP e à luta dos trabalhadores e seria, como agora se comprova, muito mais verdadeiro.

É que os que acusavam a CGTP de estar irresponsavelmente a espalhar o vírus devem olhar agora para os números da pandemia e reconhecer que afinal de contas, a CGTP não colocou em risco nenhum cidadão. Bem pelo contrário, a intersindical fez questão de cumprir os cuidados que nenhum patrão deste país cumpre ao amontoar trabalhadores nos transportes públicos, ao negar-lhes acesso a higiene e segurança no trabalho (não só em época de COVID) e demonstrar que não é o nosso destino acatar um “fica em casa” indiscriminado, um “vai ficar tudo bem” pateta e sorver lixo informativo dias inteiros pela TV.

Mesmo em situação de pandemia, somos seres humanos, seres eminentemente sociais e não estamos em condições de acatar um mundo em que os ricos se refugiam nos seus resorts com todos os luxos do mundo enquanto as máquinas lhes produzem tudo o que querem e nós trabalhamos em computadores através de casa para lhes garantir esses caprichos. Mesmo, ou até mais, nas situações de dificuldade é que a força dos trabalhadores não pode enconchar-se, nem recolher-se. A CGTP deu afinal de contas a prova contrário do que o coro de ofendidos queria mostrar. A CGTP não mostrou irresponsabilidade: mostrou que há outro caminho, um caminho de responsabilidade mas de esperança, de convívio, de sorrisos e de luta.

No momento em que deprimimos em casa diariamente, isolados, já quase nem um arquipélago somos, em que os de sempre e os que aparecem agora a fazer o papel dos de sempre, vêm colocar os que estão em casa contra os que vão à rua, vêm virar negros contra brancos, banhistas contra ciclistas, velhos contra novos, todos contra os ciganos e o mundo contra os chineses.

Ficar em casa mata o amor.

Enquanto perdemos tempo nesses ódios todos, escapa-se-nos quem está a instilar-nos o veneno, os que beneficiam com o nosso ódio entre irmãos: os que estão no iate, no condomínio fechado de luxo, no resort, no golf, nas mansões a puxar os cordelinhos de todos esses capatazes das redacções e dos dirigentes políticos dos partidos da burguesia.

O pânico e o ódio que lançaram, gratuitamente e sem sustentação científica, contra a CGTP, contra os dirigentes sindicais e contra os comunistas, foi baseado exclusivamente na ideia de que a central sindical estava a colocar em risco o controlo da pandemia e na ameaça de que iria causar um novo pico no surto que ainda decorre. Tendo falhado essa ameaça, tendo o terrorismo falhado porque não controlavam a bomba, resta-lhes dizer que foi tudo uma encenação terrorista e que a CGTP fez o que cabe a uma grande organização fazer: representar os seus membros e defender os seus direitos, no quadro social, político e, no caso, sanitário, existente.

Hoje, dia 15 de Maio, foram libertados os dados de novas infecções por COVID no dia 14 de Maio. Ficámos a saber que desde o dia 1 de Maio até hoje não houve qualquer pico e que está finalizado o período de incubação. Sair à rua não mata. O ódio sim.

Eles nunca vão reconhecer, mas o que a CGTP fez foi mostrar-nos que a luta é mais urgente do que nunca e que nenhum contexto, por mais duro que seja, pode impedi-la de continuar, mesmo que adaptada às exigências do momento. O que a CGTP fez foi abrir no horizonte de quem ficou em casa a certeza de que há quem lute pelos seus direitos e de que o futuro é de liberdade e de que o confinamento não pode ser pretexto para o assalto e para o fim dos direitos. O que a CGTP fez foi dizer a todos: “eis-nos dispostos a alterar todas as formas para garantir o conteúdo, para vos defender, para mostrar que o futuro a nós pertence”. A CGTP rasgou um sorriso num país triste num dia de luta.Nós agradecemos-lhe.

*fotografia por João Porfírio

19 Comments

  • Jose

    24 Maio, 2020 às

    Há tempos que não formulavas a tua ameaça não velada!
    Falta-te uma PIDE vermelha que te resolva esse problema?

    • Nunes

      24 Maio, 2020 às

      Eu adoro essas tuas descrições, como «PIDE vermelha».

      De facto, existiu uma «PIDE». Ela existiu, sim. É pena que não a tivesses sentido, como muita gente que tu provocas e atacas nestes teus comentários, sentiu e sofreu.

      A tua faceta cobarde e medrosa ataca por esse lado do imaginário e confuso, quando te sentes encurralado… como essa da «PIDE vermelha».

      Vamos continuar com o teu programa de provocação compulsiva? Vamos.

      Olha para a miséria que escreveste sobre um artigo escrito pelo Nuno Serra, intitulado «O 1.º de Maio de 2020»:

      ««sindicalismo mais forte e renovado»
      Em matéria de sindicalismo sempre leio renovado como 'fazer de novo o que é velho',

      Inovar nunca é proposto; fazer diferente é estranho à mais conservadora forma de organização.

      A memória do século XIX domina o imaginário sindical.»

      De facto, começo a perceber o pequeno mundo confuso ao qual do pertences, mas onde te sentes como um campeão e manipulador. Dessa mente confusa e ruim, só pode sair qualquer coisa tão insólita como a «PIDE vermelha».

    • Nunes

      25 Maio, 2020 às

      Olha para o que escreveste sobre o 25 de Abril no mesmo «Ladrões de Bicicletas»:

      «O 25A opôs-se ao que vinha sendo uma acção política medíocre, hesitante, incapaz de anunciar um futuro para o país.
      Foi uma festa porque se celebrou um futuro que se adivinhava, não porque se libertava dos horrores que propagandeiam os que por esse meio buscam legitimar-se pelo seu passado e não pelas suas acções no presente.
      Agora, que há anos se vive numa confrangedora mediocridade que sempre anuncia um futuro de ameaças, que paralelo existe entre a festa de 1974 e a mascarada de 2020?
      Nenhum!
      Onde havia festa há melancolia, onde havia fé há descrença, onde se adivinhava grandeza há mediocridade em dose que então seria inimaginável.»

      Ou seja, por ti, não houve horrores, nem tortura, nem campos de concentração, nem fome.

      Isso tudo não passou mais do que mera propaganda para que alguns se legitimassem no passado pelas suas acções no presente.

      Por mim, isto só pode vir de um ser confuso e que usa as caixas de comentários destas páginas para provocar aqueles que não se enquadram na sua psicologia miserável e até fascista.

      Quem nega as torturas, os campos de concentração e as mortes? Só elementos da ex-PIDE e os próprios fascistas.

    • Jose

      25 Maio, 2020 às

      Com todo o trafulha pseudo-dialéctico, o primeiro passo para contestar um argumento é retorcê-lo a ponto de ser uma caricatura que acomode as litanias a que chamas argumentos e as inanidades que presumes serem ideias.

    • Nunes

      25 Maio, 2020 às

      Mais um daqueles teus comentários confusos que só na tua cabeça é que tem lógica.

      Pelo que eu já percebi, os teus comentários no blog «Ladrões de Bicicletas» dão pano para mangas a um estudo sobre a teu distúrbio (que não é pouco).

      Temos ali um imenso arquivo para ler e apreciar.

    • Nunes

      25 Maio, 2020 às

      Por outro lado, vais deixar algum comentário dos teus no novo texto do António Santos (sobre aquilo que não consideras ter existido)?

      Desde já um aviso: Se lá fores, prometo responder.

    • Nunes

      26 Maio, 2020 às

      O comentário que acabaste de publicar no texto do António Santos é inacreditável.

      Finges, inventas, confundes, foges, fazes de conta… até onde vais parar?

  • Jose

    21 Maio, 2020 às

    'Pretende continuar?

    Assim eu tenha capacidade de formular uma opinião sobre o que se passa no meu pais.

    • Nunes

      22 Maio, 2020 às

      Como bom canalha e cobarde, praticante de pequenas sevícias literárias ou não, também escreveste isto (e foste logo o primeiro a tecer da opinião):

      «Parece estar em decadência a tolerância ao discurso de meias-verdades de uma esquerda propagandística de parangonas e silenciosa quanto às circunstâncias que deslustram tais alardes de excelência.
      Já era tempo!
      É de direita? É indiferente desde que se respeite a verdade.

      Deu a URSS um contributo importante para a derrota do nazismo? Deu, mas era aliada dos nazis ao tempo em que a Grã-Bretanha suportava todo o peso da guerra.
      Muitos soviéticos morreram a lutar contra os nazis? É verdade, mas também é verdade que fiada no pacto que firmou com os nazis descurou a preparação para a guerra e foi em larga medida resgatada pelos Aliados com ajudas de todo o tipo.

      Merece um destaque especial? Sem dúvida, mas por boas e também por muito más razões.»

      Não te esqueças que quem te lê, te observa e acompanha, na medida dos teus sistemáticos abusos de opinião.

      Tu estás nisto há anos, a fio, desde os tempos do «5 dias» em que (como bom cobarde) aparecias com outro nome.

      Continuo a dizer que te podes esmerar muito pelo campo da literatura, mas o teu caminho está cortado por aqueles que te observam e te esperam para liquidar algumas contas de abuso de opinião.

    • Jose

      23 Maio, 2020 às

      Ó idiota, que só no insulto ganhas alento!
      José ou JgMenos é mais a gosto do blog que escolha minha.
      Que me identifique? Não obrigado, que a cretinagem do teu calibre só visa o mensageiro, à mensagem diz nada… e por boa razão, à verdade respondem com a 'necessidade para um bem maior', 'por algum tempo na merda (os outros) para chegarem ao paraíso' e todo o lixo maniqueísta de quem não é um ser moral.

    • Nunes

      23 Maio, 2020 às

      É caso para dizer: «Ó José, que maus modos os teus!

      Quem entrar por esse tipo de opinião, entra na mira do desespero.

      A aproveitar a deixa do inefável ou inenarrável «JgMenos» e à sua pequena deixa – 'por algum tempo na merda – leia-se o que escreveu no dia 2 de Maio no mesmo blog, «Ladrões de Bicicletas», a propósito do texto «Na linha da frente» sobre as comemorações do 1.º de Maio na Alameda:

      «Confirma-se a excelência da CGTP em exercícios de 'ordem unida'.
      Concluir que sem trabalhadores nada funciona é tão lapidar com concluir que nada de significativo resulta do trabalho sem mobilizar capital.

      À aparte estas formalidades, o que está pela frente é suficientemente grave para requerer de todos bom senso e realismo; clamar pela proibição de despedimentos foi o primeiro sinal da estúpida ortodoxia de sempre!»

      Na verdade, confirma-se a teimosia de não entender nada e de continuar a provocar bons leitores em território alheio.

      De tanto te aturar, um dia te vamos apanhar. Esse grande dia está para breve.

  • Nunes

    19 Maio, 2020 às

    E por falar no tonto do José, atente-se ao comentário que este escreveu no blog «Ladrões de Bicicletas» a propósito da data que marca a vitória contra o nazismo:

    «O dia da Vitória sobre o nazismo, deveria ser o momento de se recordar o mal vencido e não de procurar exaltar o mal que lhe sobreviveu.

    Se contribuir para a derrota do nazismo foi um Bem, o Mal que foi esse regime soviético antes, durante e depois da GG subsiste sem contestação possível.

    Quanto aos crimes desse regime durante a guerra, eles vitimaram indiferentemente os seus compatriotas, aliados e inimigos porque, na guerra como na paz, nenhum meio era negado à sua subsistência.
    Mas a horda de 'lambe-cús soviéticos', é espécie fanática que no seu delírio acredita:
    – que os sacrifícios dos russos na 2ªGG são um tributo ao regime comunista
    – que as acções do Exército Vermelho enobrecem um regime totalitário, assassino e desprovido de qualquer escrúpulo humanitário.»

    Não nos esqueçamos do veneno que este «Jose» significa em todos os comentários e no modo como se tenta impor em algumas páginas conhecidas. O dito «troll» faz isto de propósito e não há caixa de comentários onde não falhe a sua participação.

    • Jose

      21 Maio, 2020 às

      O Nunes!
      'Faz isto de propósito'?
      Haveria de ser sem querer que formo opinião acerca de crenças que entendo recusarem apreender tudo o que a experiência e a razão claramente demonstram?
      Haveria de ser sem querer que me indigno com um reco-reco de uma ortodoxia verbal acrítica em relação à realidade que a originou e ao seu significado no presente?

    • Nunes

      21 Maio, 2020 às

      E a propósito da concentração do 1.º de Maio na Alameda, vamos ver o que escreveste no mesmo «Ladrões de Bicicletas»:

      […]

      «a importância das acções de luta organizadas pela CGTP no 1.º de Maio»

      Acções de luta? Desde quando uma qualquer parada é uma acção de luta? O mesmo seria chamar batalha a um desfile militar.

      Lutar seria ver-se formular e obter algo de realizável na concertação social.
      Lutar seria ver-se algo que não a inútil pretensão de 'proibir despedimentos'.
      Lutar é algo que possa trazer uma probabilidade de sucesso, tudo o mais são parangonas e fogo de vista.

      […]

      Sr. Jose ou «Velhaco Jose», não se esqueça que literatura não é inocente. Convido-o a escrever mais vezes e a transmitir estas suas opiniões de pequeno cobarde e canalha nos mesmos canais tantas quanto for possível.

      Não se esqueça que a direcção que leva esta sua conduta dá para um beco sem saída. Pretende continuar?

    • Lambe cu soviético

      23 Maio, 2020 às

      É preferivel ser "lambe cu soviético" que um paneleirote americanizado que é o que tu és. Um parasita social da cidade que nunca fez na da na vida a não ser chupar pila.
      Portugal precisa mesmo de um Estaline para limpar estes parasitas sociais todos fodasse. A começar pelo papagaio do Marcelo e acabar contigo Nunes

  • Jose

    17 Maio, 2020 às

    Se a 2 de Maio acontecesse alguma coisinha!
    Uma comissão de trabalhadores,
    Uma cooperativa,
    Qualquer coisinha que não fosse treta…

    • Nunes

      18 Maio, 2020 às

      Qualquer coisinha, contigo bem longe do «Manifesto 74»…

    • Jose

      19 Maio, 2020 às

      Ó Nunes, que maus modos os teus!

    • Nunes

      19 Maio, 2020 às

      Já tiveste no blog «O Tempo das Cerejas». És mesmo obcecado e doente, sempre com as tuas piadas infantis e ligeiras provocações. Quando é que isto acaba, José? Quando é que decides ser um homem?

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