Há 30 anos sem Santi Brouard e Pablo González

Internacional

Há 30 anos, neste mesmo dia, dois pistoleiros dos GAL entraram no consultório de Santi Brouard e abriram fogo sobre o dirigente comunista basco.  A comoção e a revolta espalham-se como pólvora. A polícia tenta impedir que os independentistas bascos levem o corpo do presidente do partido HASI. O Estado espanhol, através dos seus grupos paramilitares, acabava de assassinar um representante eleito do Senado Espanhol, do parlamento basco, vereador da Câmara Municipal de Bilbau e figura histórica da esquerda independentista basca.

A cidade, já inflamada pela heróica luta dos operários que mantinham as instalações dos estaleiros Euskalduna ocupadas contra o encerramento da empresa, lançou-se para as ruas disposta a tudo. Enquanto milhares de pessoas cercavam o consultório de Santi Brouard, Txomin Zuluaga, secretário-geral do HASI, deixava claro às forças de segurança que já o tinham assassinado mas que, de forma alguma, iam sequestrar o seu corpo. Custodiado pelas forças independentistas, o velório e o funeral de Santi Brouard foram um grito de guerra. As vozes de quase cem mil pessoas diziam o mesmo: «Santi, o povo não vai perdoar».

Perante mais um assassinato brutal por parte do Estado espanhol, as forças sociais e políticas decretaram um dia de greve geral. Três dias depois, na data marcada, batalhas campais sucederam-se um pouco por todo o País Basco. As forças policiais invadiram os estaleiros utilizando fogo real. Nesse dia, um trabalhador caiu fulminado por um ataque cardíaco e acabou por morrer na ambulância que fora impedida de sair pela polícia. As imagens de dezenas de operários saindo das barricadas com barras de ferro, correntes e com tudo o que apanhavam à mão provocando a fuga das autoridades correu os telejornais.

A morte de Pablo González, somente três dias depois de Santi Brouard, mostrava a brutalidade de um regime que, principalmente, no País Basco, fazia correr tanto sangue como durante o franquismo. Cinco anos depois, no mesmo dia do assassinato de Santi Brouard, o Estado espanhol através dos seus mercenários metralhou vários deputados bascos em Madrid. Josu Muguruza caiu assassinado e Iñaki Esnaola ficou em estado grave.

Há três anos, o jornal i dava destaque às revelações feitas por Rogério Carvalho da Silva. Depois de ter sido preso como membro das FP-25, foi contratado para segurança da embaixada dos Estados Unidos. A seguir, um colaborador dos serviços secretos portugueses recruta-o para matar independentistas bascos. É o próprio que afirma ao diário que foi “acusado da morte de etarras em França num processo que também envolveu o comandante e o vice-comandante dos serviços secretos militares, o então chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general Lemos Ferreira, e o primeiro-ministro nessa altura, Aníbal Cavaco Silva”.

Essas acusações são graves não só porque se referem à actual primeira figura do Estado português. São graves porque, a ser verdade, tiveram, certamente, a colaboração de várias figuras do espectro político e económico. Os GAL foram esquadrões da morte montados pelo governo espanhol de Felipe González que feriram e mataram mais de 60 pessoas.