Indignação e tal

Internacional

A Coca-Cola vai despedir 750 trabalhadores e recolocar cerca de 500, numa reestruturação – nome que agora se dá aos despedimentos – que fechará quatro das 11 fábricas da empresa em Espanha.

A empresa beneficia naquele país, com um nível de desemprego comparável ao nosso, de benefícios do Estado que rondam os 900.000 de euros. Já estamos tão habituados a ouvir falar de milhares de milhões que quando falamos só de milhões parece coisa pouca.

Há uns tempos, levantou-se uma indignação quase total porque a Pepsi, eterna concorrente da Coca-Cola, fez um anúncio onde gozava com Cristiano Ronaldo. Grande erro. Afinal, a Coca-Cola é conhecida pelos anúncios de Natal fofinhos e pelas campanhas queridas, que culminaram na reinventação do Pai Natal que todos os anos vemos, desesperados, a tentar trepar varandas e janelas por esse país fora, agora sob o olhar atento do Menino Jesus.

Apelava-se então a um boicote geral, que o nosso orgulho nacional foi ferido em forma de jogador de futebol, depois da criação de páginas no Facebook que tiveram a adesão de milhares e milhares de indignados. O caso resolveu-se, a Pepsi chegou a um acordo com o jogador e até deu uns dinheiros para uma obra de apoio a jovens futebolistas.

Ora, cada um indigna-se com o que quer. Confesso que a mim causa mais preocupação a vida destes 1.250 trabalhadores que serão afectados pelos despedimentos. Confesso também que não percebo o que nos leva a indignar tanto com um suposto insulto a alguém que ganha num mês aquilo a esmagadora maioria de nós não ganhará numa vida e a ficar indiferentes aos dramas que vivemos e  que vivem os nossos vizinhos. Sejam vizinhos do lado ou vizinhos mais distantes. Vizinhos da mesma classe que nós, portanto.

Por patriotismo não é, que de pátria já só temos o nome – a bandeira também já lá vai, com os pagodes e outras coisas.

Nesta semana, um miúdo percorreu meio país de ambulância e helicóptero porque não tem no local onde vive o equipamento adequado para ser tratado. Nem o encontrou nos hospitais mais próximos, se calhar porque saía caro. Ficámos todos indignados. Mas, sem o Ronaldo, isto não tem piada.