José Luís Sachs

Nacional

O José Luís prestou relevantes serviços “ao mercado”: enquanto ministro, enquanto vice-presidente do PSD, enquanto homem da finança junto do governo e como elo chave no triângulo Governo – Sociedades de Advogados – Grupos Financeiros, no processo de privatizações em curso.

Os relevantes serviços prestados pelo José Luís foram sempre recompensados nas formas que “o mercado” domina. O tal “elevador social” vai funcionando, em sentido ascendente enquanto o ocupante for útil à banca. A recente nomeação para uma relevante posição na estrutura do banco Goldman Sachs, uma entidade cuja reputação se encontra ao nível do personagem, é apenas mais um episódio (não certamente o último) do filme de série C que nos toma como meros figurantes…

O José Luís acrescenta a este seu percurso – que me absterei de qualificar – uma outra actividade paralela: ele comenta na têvê. O seu comentário é invariavelmente o mesmo: defesa dos interesses dos grandes grupos económicos/financeiros através de uma protecção mediática-canina das medidas com que o actual governo vai promovendo os tais interesses. O José Luis acha (ou diz que acha) que os reformados terão que viver pior para o banco viver melhor. É uma questão de opção de classe. O José Luis tem a sua.

O José Luís é um dos elementos activos no sistema de porta-rotativa na relação entre os grandes grupos financeiros e os seus braços políticos no seio do sistema.

Esta perspectiva, que exprimi nos parágrafos anteriores, parece-me inequívoca e partilhada pela generalidade do povo.

O problema é que uma parte de nós acredita que esta face asquerosa do sistema termina em pessoas como o José Luís. Mas não termina, longe disso. O José Luís é um elo mais entre vários na cadeia. E por muito útil que seja o seu desempenho nas funções de pivot na tal triangulação que referi em cima, o José Luís está na 3ª divisão dos interesses alapados à estrumeira em que se foi tornando ao longo dos anos a administração do Estado e do seu sector empresarial.

Uma coisa é a relevância do papel (a sua utilidade concreta) do José Luís na ligação entre o Estado e os grupos financeiros que gravitam em seu torno. Coisa bem distinta é achar que o José Luís e os amigos da mesma “divisão” são os destinatários últimos do sistema da porta-rotativa. Cautela.

post-scriptum: ouvir alguém do PS vir a terreiro alertar para as relações promíscuas entre grupos económicos/financeiros e “política” (lançando assim lama sobre a própria ideia de política e sujando todos por igual, sem distinguir o trigo do joio) é apenas mais uma demonstração da falta de seriedade daqueles que se autodenominam “socialistas”, também neste debate. É que o PS está carregado de telhados de vidro nesta matéria.