Mr. Trocos

Nacional

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.

Carlos Moedas expressou, no passado dia 5 de outubro, a vontade de assinalar o dia 25 de novembro, o dia que consumou a contrarrevolução. O que ele não disse foi que, mais do que assinalar esta data, pretende, sim, menorizar Abril e as suas conquistas, bem como tudo aquilo que para o nosso povo representou. Os objetivos de Moedas são bem mais do que festivos, são políticos e partidários.

Perante um refluxo brutal do maior partido à direita, o PSD, Carlos Moedas apresenta-se como o ponta de lança de uma tentativa de reconciliação com projetos antidemocráticos e antipopulares. Projetos esses que nunca deixaram de estar representados no PSD, mas que, com o derrube do governo da PAF, em 2015, perderam força, liderança e, consequentemente, o rumo. A verdade é que, apesar de profundas contradições, a conjuntura política que saiu de 2015 permitiu afastar até agora a direita, fragmentá-la naqueles que são hoje conhecidos como os seus sucedâneos liberais e de extrema-direita. E importa sublinhar este fenómeno de fragmentação. Estes “novos” partidos, não trouxeram nem trazem nada de novo. São suspiros daquilo que mais de bafiento e reacionário ainda sobrevive do derrube do fascismo. E importa também referir que também não surgiram por obra e graça. Representam uma reorganização da direita que estava representada no PSD e no CDS-PP.

Justiça seja feita, as mudanças superficiais que houve na vida política e partidária à direita deram muito jeito ao PSD. Abriram um espaço, no campo mediático e social, que permitirá, mais tarde ou mais cedo, ao PSD, regressar, de forma mais aberta, alinhado com a sua verdadeira matriz. Por outro lado, pôde ir contando com a bancada do Partido Socialista e com o governo, com o qual conta ainda para ir encetando a mesma política de direita em aspetos fundamentais da economia, do alinhamento com o grande capital nacional e transnacional, do ataque ao SNS e do agravamento das condições de vida dos portugueses. Basta ver o alinhamento em termos de votações para ficarmos com uma ideia mais concreta, em termos numéricos, do que falo.

Nada disto é ingénuo. E Carlos Moedas sabe-o bem, pois é bem mandatado, veja-se o seu percurso pela Goldman Sachs e o Deutsche Bank. É a “camisola amarela” desta campanha, que começa agora e representa um projeto a médio/longo prazo. Projeto esse, de encavar os poucos avanços de reabilitação do parque habitacional camarário, ao passo que inaugura alegremente residências estudantis com rendas exorbitantes; de projetos de milhões nas mãos dos privados; de aumento das pessoas em situação de sem-abrigo sem que nada seja feito; de precariedade na CML; de desgraça das descentralizações de competências na Educação, Higiene Urbana e em tantas outras áreas, com o qual é conivente… Certamente que muito mais haveria para acrescentar a esta lista.

Quem era Carlos Moedas aqui há uns anos? Provavelmente, nem mesmo o seu partido acreditava nele enquanto projeto, quando o atirou para Lisboa; ninguém se esquece dos seus discursos, que mais pareciam delírios do que propriamente de uma alternativa política a Medina e ao PS. Moedas é fruto da política de descaracterização social de Medina/PS na cidade de Lisboa. 2 anos volvidos, com o campo mediático a dar terreno a Moedas, sem o qual ele de outra forma não conseguiria, lança o mote a 5 de outubro. Nesta plena reunião de tropas ele faz o chamamento de todos aqueles que têm contas a ajustar com Abril e a sua Revolução.

A par da política de destruição e fragmentação social da cidade que leva a cabo, Moedas enceta golpes brutais no campo ideológico e, por isso, não é um incómodo para os mais reacionários, mas sim o seu maior aliado. Ele não o expressa ainda abertamente, mas o seu maior desconforto é com o Documento que se inicia com as frases que cito no início deste texto, a Constituição da República Portuguesa – é com aquilo que Abril significa, com a sua chama viva e com o seu horizonte de esperança.

1 Comment

  • Abdel Saad

    27 Outubro, 2023 às

    Tudo dito.
    Subscrevo na integra

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