Mudança, sim. Mas mudança a sério.

Internacional

A confirmar-se a notícia que faz hoje primeira página no “i”, “Merkel já decidiu a próxima Comissão Europeia, antes das eleições“, Ainda segundo “i”, Merkel não tomou a decisão sozinha: a decisão foi cozinhada pela “grande coligação”, ou seja entre os conservadores e os sociais democratas alemãs, equivalentes aos partidos do arco da desgraça nacionais: PS, PSD e CDS.

A senhora Merkel já não esconde sequer que eleições são mero formalismo sem significado real numa União Europeia cada vez mais configurada para que as grandes decisões sejam tomadas à margem dos povos e independentemente da sua vontade. Basta lembrar que, segundo a própria, o Tratado Orçamental (aprovado em Portugal pelos três do costume) serve para que as políticas nacionais se mantenham independentemente de quem as protagoniza. É precisamente neste cenário que o voto ganha redobrada importância.

Numa União Europeia que nada tem de “unidade”, “convergência” e “solidariedade”, votar pela ruptura com este estado de coisas é muito mais do que um imperativo moral: é da própria sobrevivência dos estados mais pobres e menos poderosos que se trata.

Esta “Europa” – ou seja, esta União Europeia – não tem emenda, não é reformável. E é também por isso que recuperar soberania – mas soberania de facto, para lá da retórica – é fundamental. Portugal precisa de voltar a ter voz e vontade própria, recusando o isolacionismo que esta chamada “integração” nos vem impondo desde há décadas. O João Ferreira tem referido e bem: Portugal tem reduzido consideravelmente, também por via da UE e do “euro”, a sua capacidade de diversificar relações políticas e comerciais. Somos hoje muito mais “orgulhosamente sós” do que fomos entre 1974 e o trágico momento em que PS e PSD nos vestiram o colete de forças da CEE.

Impõe-se votar pela mudança. Mas por uma mudança de facto. De “grandes coligações” estão os povos fartos. A questão passa sobretudo por desmobilizar da abstenção aqueles que, indignados com esta estrada para sítio nenhum, consideram ser mais útil não ter voz do que fazer-se representar por quem dá expressão concreta ao seu descontentamento, lá como cá.

Com a abstenção – ou com o voto branco/nulo – pode Merkel muito bem. Nas eleições de 2009 para o Parlamento da União Europeia, por exemplo, a abstenção na Alemanha foi de 57%. Acham que Merkel e os banqueiros cujos interesses representa perderam o sono?