Não, a corrida não é entre Passos e Costa

Nacional

Pára tudo! Há um anúncio na SIC a repetir, ad nauseam, que dentro de semanas, vamos ter eleições para «escolher o próximo primeiro-ministro», acrescentando, depois, que «a escolha é entre António Costa e Pedro Passos Coelho». Eis pois, a perquirição que se impõe aos dignos chefes da estação de Carnaxide: está tudo maluco? É que não só não há eleições «para primeiro-ministro» como, salvo erro, PSD/CDS e PS não são as únicas opções.

Dito de outra forma, o anúncio da SIC configura um crime contra a democracia e uma violação grosseira do princípio de isenção e imparcialidade a que estão obrigadas as televisões. Ou dito ainda de outra forma, se a grei (vulgo “esta merda”) não estivesse por alguns votada a nação de telemarketers e condutores de tuktuk, a brincadeira acabaria com o baque de costados contra grades.

Oiçam, senhores donos da comunicação social, eu percebo que estejam nervosos, que comecem a sentir arrepios na espinha quando se cruzam, nas passadeiras, com os nossos batalhões de pobres; que se vos insinue já uma espuma fria a formar-se-vos na pança quando os da outra classe vos olham com ódio nos olhos… mas nem por isso vale tudo.

Continuem a mascarada do costume: inaugurem uma bandeira gigante numa rotunda qualquer, falem-me da internacionalização do pastel de nata, vendam-me a história do desemprego a baixar e o parlamento, concessionem as escolas e mandem-me fazer oó, mas não me tentem convencer que estas eleições são entre o Costa e o Passos Coelho. Isso, senhores, é a corrupção do vosso próprio sistema corrupto.

E, uma vez mais, compreendo-vos: sei que vos interessa (a vocês banqueiros, magnatas e quejandos) que os partidos pareçam todos iguais e que a única forma de criar essa ilusão é ocultar os que são diferentes.

Porque, afinal, a única forma coerente de achar que a CDU é igual ao PSD é achando também que é igual votar contra ou a favor a venda da TAP, a compra do BPN, os benefícios fiscais ao Novo Banco.

E os donos-disto-tudo, temendo pela pasokização do PS, promovem agora o semblante de esquerda e simpático de Costa para contrapor a direita à outra direita que tem uma face de esquerda. O plano é velho. E cada vez mais, se percebe que a “esquerda do PS” é como aquele botãozinho de baixo no casaco de um bom fato italiano: fica muito bem, mas existe para nunca ser usado.

Mas as diferenças, como o azeite na água, sempre vêm ao de cima. E as mentiras, como a fumaça que o sopro leva, não poder durar para sempre.