“Negação”, ou o Expresso “a fazer (a) opinião” que mais lhe interessa.

Nacional

Sobre o que se passou antes e durante o dia 4 de Outubro já aqui escrevemos abundantemente. O que agora se coloca é perspectivar o futuro, tendo em conta aquilo que sempre afirmámos como o fundamental: a composição da nova Assembleia da República.

Nesse futuro em construção o Expresso quer ter um papel tão activo como aquele que desempenhou durante os meses anteriores à campanha eleitoral. Como? Criando por exemplo a ideia de que a CDU saiu derrotada das eleições. Sobre a avaliação dos resultados eleitorais de ontem, o Expresso escreveu que por exemplo que a CDU se encontrava “em negação” por afirmar o óbvio: a direita perdeu uma enormidade de votos (bem mais de meio milhão) e a sua maioria absoluta (a festa do Marquês foi-se juntamente com ela); pelo contrário, a CDU subiu em votos, em percentagem e em mandatos. Onde pára a “negação” a que se referia o Expresso às 21h36 de ontem?

É lugar comum acusar-se a CDU e o PCP que adoptarem invariavelmente um discurso de vitória independentemente dos resultados obtidos. A acusação poderia ter razão de ser não fosse dar-se o caso de existir uma correspondência real e objectiva entre aquilo que afirmamos e os resultados apurados: desde 2002 até 2015 a CDU obteve sempre um aumento do número dos seus deputados (dos 12 de 2002 para os 17 de 2015) e de percentagem (6,94% em 2002 para 8,27% em 2015). Obteve também, com excepção de ligeira variação negativa entre 2009 e 2011, significativo aumento de votação (379870 votos em 2002 para 444319 votos em 2015)

Para os comunistas esta “contabilidade” é apenas mais um elemento da sua intervenção, não esgotando de forma alguma a sua luta pelos valores de Abril no futuro de Portugal. Reforçar o grupo parlamentar é relevante, mas não é o alfa nem o ómega da intervenção comunista sobre uma realidade que se apresenta desafiante e complexa, sobretudo porque a fome, o desemprego, os salários em atraso, as penhoras e os despejos que afectam número crescente de famílias em Portugal não desapareceram por artes mágicas. Com mais deputados estamos em melhores condições para dar expressão institucional à luta das populações. Afirmar que é derrota e “negação” o que é de facto consolidação e avanço não é jornalismo: é propaganda.

Bem pode o Expresso anunciar o estado “de negação” da CDU, procurando alterar a percepção que as pessoas têm da realidade. O Expresso pode muitas coisas, já o sabemos. O que de forma alguma consegue é alterar a própria realidade do país, resultados eleitorais incluídos. Temos pena.