o bom, o mau e o socialista

Nacional

Diz que é um mau socialista, o Manuel Alegre. Ele próprio o escreve, numa espécie de acusação à deriva de direita que supostamente se instalou no PS, como se fosse uma espécie de gripe, quando na verdade, e Manuel Alegre sabe-o, é uma doença genética. De tudo quanto Manuel Alegre afirma, se conclui que os “bons socialistas”, ou seja, os que correspondem à corrente dominante, à norma, são de direita e que os “maus socialistas” são um tipo de grilos falantes ressentidos com o rumo que toma o seu partido de sempre. O uso do “bom socialista” e do “mau socialista” é ardiloso: não porque com esse ardil, Manuel Alegre use ironia, dizendo o contrário do que aparentemente pretende para intensificar o efeito da mensagem; mas porque toda a construção “bom” ou “mau socialista” tem um entorse que está, não no adjectivo, mas no substantivo. É que se são maus ou bons, não sei. Mas que não são socialistas, disso tenho a certeza.

No essencial, Manuel Alegre continua a cumprir o seu papel: alimentar a ilusão de que é no PS que se encontra a esquerda socialista, que existe no PS uma força de esquerda. Com tantos anos de política, de Manuel Alegre não creio em qualquer espécie de ingenuidade. Pelo contrário, Manuel Alegre cumpre desde sempre o papel do costume: aproveitar-se da ingenuidade de muitos.

A forma como Alegre critica, muitas vezes com dureza e quase sempre com justeza e acerto, as políticas e as opções do seu Partido e dos Governos do PS é a maneira que tem de defender o PS. Os eleitores, os portugueses que se identificam com os valores do humanismo, da democracia, mesmo do socialismo são assim levados a crer que ali reside a “esquerda moderada”, a “esquerda alegrista”, sedutora e equilibrada. Quando na verdade, o que ali existe é quem use camuflagem de esquerda para disfarçar a direita.

É que bem pode agitar a consciência socialista que reprime quando não convém agitá-la, porque no momento da verdade, no momento da escolha, Alegre não escolhe pelos valores do “mau socialista” escolhe sempre pelo partido dos “bons socialistas”.

E assim garante que a escolha, entre o bom ou o mau, nunca seja de facto, pelo socialista.