Há 14 dias, escrevia-se aqui que Paulo Macedo continuava sem se demitir, após duas mortes em salas de espera de hospitais. Hoje, o número chegou a oito e continua a não haver notícias de demissão. Nem notícias do ministro, que apareceu há cerca de uma semana a dar umas desculpas esfarrapadas, em jeito de “vamos apurar” e “vamos investigar”. Esta espécie de país está assim. A morrer aos bocadinhos, à espera, ao abandono, às mãos de criminosos, às vontades que já não são obscuras – são clarinhas como água – de um bando. Não é um gangue porque a intimidação é mais subtil e surge através de taxas moderadoras que de moderadas têm quase nada.
Estávamos todos ocupados a ser o Charlie que nunca fomos nem seremos enquanto estas pessoas foram morrendo aqui ao lado. Mais os outros milhares na Nigéria, que surgem em fotografias como retratos da nossa hipocrisia.
Dias antes do início desta vaga de mortes, que a imprensa, púdica e pouco charlieana apresenta como “alegadamente provocadas por falta de assistência”, o governo esteve na inauguração de mais um hospital privado, desta vez em Vila do Conde.
Pelo meio, foram surgindo notícias de médicos que emigram, a juntar aos enfermeiros que lhes seguem os passos à procura de uma vida que os sucessivos governos lhes negam. A morte nas salas de espera deve ser das coisas mais indignas que este governo provocou. E o rol de indignidades é bastante grande. Isto não sucede por acaso. São demasiados acasos para o serem.
Vivem-se dias de caos nas urgências hospitalares e não há um responsável político que seja capaz de assumir que o caminho traçado está errado. Que as pessoas não são os mercados e menos ainda mercadorias. É o expoente máximo daquela frase que é todo um programa e, simultaneamente, um resumo do programa do governo: as pessoas não estão melhores mas o país está. E quando o país já não tiver pessoas será o paraíso; pagam os mortos, acharão eles.
Este bando de criminosos que está à frente dos destinos das nossas vidas – por muito que nos custe e a mim custa muito – é dos mais incapazes da história da nossa curta democracia. Ou não. Este é exactamente no caminho que interessa seguir. Acabar com o Serviço Nacional de Saúde e encaminhar tudo para os privados, aumentando os lucros de empresas como a extinta Espírito Santo Saúde, por exemplo. E sabemos todos como acabou esta história, não sabemos?
À hora a que acabo este post, Macedo continua ministro.