Os snipers da Maidan (novos desenvolvimentos)

Internacional

Os disparos de snipers sobre polícias e manifestantes na Praça Maidan, em Kiev, foi um dos elementos mais mediatizados daqueles dias de conflito aberto entre forças policiais e gente que a comunicação social ocidental descreveu de forma insistente como manifestantes “pacíficos” e “desarmados”.

É desde há muito perfeitamente óbvio que nem os manifestantes se encontravam todos desarmados, nem os protestos foram de forma alguma pacíficos. O golpe de estado deu-se de forma violenta e prosseguiu logo depois com a ocupação de sedes e ilegalização da actividade dos partidos tidos como “russofilos”, espancamentos e intimidações, assassinatos de que é exemplo o massacre de Odessa, a 2 de Maio de 2014.

O que permanecia como “mistério” para boa parte daqueles que, à distância, acompanharam os acontecimentos de Kiev, era a origem dos disparos que mataram dezenas de pessoas, e que serviram de pretexto para uma vasta e bem montada operação mediática ao melhor estilo de Stanley Motss, personagem do filme “Wag the Dog” (1997), legitimando uma onda de apoio aos “europeístas” ucranianos, grande parte dos quais escondia suásticas tatuadas na pele por baixo das bandeiras que as mais tristes figuras lá foram distribuir.

O canal russo RT, um dos que mais de perto acompanhou os acontecimentos de Maidan (mas não apenas Maidan), revelou na altura informações fundamentais para a compreensão do episódio dos snipers, sugerindo de forma fundamentada que, muito provavelmente, estes estariam ao serviço da chamada “oposição” ao governo de Viktor Yanukovych. Semanas mais tarde foi divulgada a esclarecedora conversa entre a “baronesa” Ashton e o ministro dos negócios estangeiros da Estónia, Urmas Paet, durante a qual o segundo informava a uma desinteressada responsável pela política externa da Comissão Europeia as suspeitas de que teriam sido gente de forças implicadas nos protestos a disparar sobre a multidão.

A investigação sobre os acontecimentos de Maidan ficou a cargo daqueles que mais beneficiram da acção dos snipers e, tal como aconteceu com o incidente do voo MH17 das linhas aéreas da Malásia, o assunto parece condenado a não conhecer conclusões finais. Dele restará apenas a (ilusória) percepção criada pela torrente de notícias enganadoras divulgadas em cima do acontecimento pelos órgãos de comunicação social alinhados com um dos lados do conflito.

Um ano passou, e a BBC encontrou finalmente um dos snipers da Praça Maidan. As suas declarações são no mínimo embaraçosas para a junta de Kiev, num momento em que os seus batalhões – incluindo aqueles que não hesitam em ostentar divisas e bandeiras nazis (a par de símbolos “ocidentais”, como a bandeira da NATO) – recuam e forçam as autoridades de Kiev a procurar a paz com o povo em armas das regiões de Donetsk e Lugansk.

O segundo acordo de Minsk não será de fácil implementação. É porém importante notar que, ao contrário do que aconteceu na primeira fase, este segundo acordo acontece num momento em que as forças do Donbass revelam supremacia militar e moral relativamente às tropas comandadas pela junta de Kiev. A correlação de forças que enquadra o segundo acordo de Minsk não é uma questão lateral nesse processo, antes o condiciona de forma decisiva.

De resto é hora da comunicação social indígena se libertar da russofobia que a assombra desde 1976, parando de chamar “pró-russos”, “separatistas”, “terroristas” ou mesmo “russos disfarçados” aos homens e mulheres que, após os acontecimentos de Maidan e a tomada do poder pelos descendentes directos dos colaboracionistas ucranianos da guerra 1941-1945, tomaram as armas para exigir autonomia e liberdade para decidir sobre o seu futuro.