OTHON é uma curta metragem que mostra uma grande realidade. Filmado com a distância do documentário de observação, os realizadores passam um mês no antigo e luxuoso Othon Palace Hotel, em São Paulo, captando o quotidiano de um microcosmos de famílias que ocuparam o edifício há muito abandonado.
A ocupação é protagonizada por um movimento de ocupas denominado por Movimento dos Trabalhadores Sem Tecto que pretende organizar várias famílias a reclamarem um espaço para habitar. De diversas zonas do Brasil, as famílias que encontram um quarto no Othon são todas da classe trabalhadora. Pouco qualificados, queixam-se do salário ser apenas uma escolha entre um tecto ou a fome. Muitos conhecem a rua onde habitaram vários anos, outros de melhor sorte encontraram no desemprego o fim da sobrevivência precária que levavam antes.
Cidadãos sem escolhas que se deparam com a gentrificação da cidade onde vivem, cuja especulação imobiliária os empurra para cada vez mais longe. Sem escola vêem mais longe do que muitos que a frequentaram e nunca tiveram de pensar onde passarão a próxima noite. Sentem o investimento na bola como um atentado às suas prioridades, questionando o que o dinheiro poderia fazer por quem não tem casa, saúde e educação.
Ali encontram uma pequena sociedade que os abriga. Debaixo do mesmo tecto falam de passados diferentes. “Todo o mundo ajuda o outro”. Em comum têm o sonho de levar uma vida “normal”, com casa, comida e hipótese de dar aos filhos a educação que não tiveram. Cada minuto é uma provação entre a necessidade de carregar água pelas escadas acima e a ansiedade do despejo eminente.
Othon é uma lição de direito à habitação falada na primeira pessoa. De fotografia cuidada e edição magnífica é uma das curtas a não perder no IndieLisboa (próxima exibição a 1 de Maio às 21:30, Competição Nacional de Curtas, Cinema São Jorge).
* Autor Convidado
Tiago Domingues