Para que não haja dúvidas, este texto é sobre o Pedro Passos Coelho ter sido desobrigado pelo arquitecto Saraiva

Nacional

Um arquitecto Saraiva que é jornalista, que escreve livros e que escreve crónicas sobre pêlos, elevadores e outros elementos do seu dia-a-dia cosmopolita. Um ex-primeiro ministro e ora líder da oposição Pedro Passos Coelho que é político, que é quase africano e que prevê a chegada do diabo à Terra para breve. Um livro badalhoco chamado “Eu e os Políticos”, escrito pelo arquitecto Saraiva, e uma apresentação de livro aceite pelo PPC, que entretanto foi desobrigada e que entretanto até já nem se vai realizar por motivos de segurança. Uma editora chamada Gradiva que ainda deve estar a pensar porque raio é que editou este livro. Seja liberal se lhes compro mais algum…

Pois é. O PPC aceitou apresentar o livro do Saraiva sem ler o que ele tinha escrito. Ele escreveu o que costuma escrever. Palermice, irrelevância e linhas de ressabiamento por não ser Niemeyer ou Saramago. Mas nem percamos mais tempo com a dita obra que não merece mais publicidade. Centremo-nos no Pedro. O Passos Coelho.

Diz que não sabia o conteúdo do livro quando aceitou o convite porque tem grande estima pelo Saraiva. Começa mal…

Diz que agora sabe o conteúdo e que não quer ficar associado a ele. Vá, todos temos direito ao erro seguido de perdão.

Diz que como é um homem de palavra (hum…) pediu ao Saraiva para o desobrigar de apresentar o livro. Pedro, uma poça cheia com a tua pata. Pedro, o que farias se o Saraiva não te tivesse desobrigado? Pois é. Tentaste, e bem, compor a asneirola mas como se diz em Massamá, saiu-te pior a emenda que o soneto.

Pedro, a coisa certa a fazer era: “Quero aqui anunciar que não estarei presente na apresentação do livro do Saraiva, que muito estimo e estimarei já que me ajudou sempre em horas de aperto, porque não quero ficar ligado ao conteúdo do livro que desconhecia, confesso, no momento em que aceitei o convite para o apresentar. Telefonei já ao Saraiva, que muito estimo e estimarei não só como jornalista mas também como arquitecto, dando-lhe conta da minha decisão e desejando os melhores sucessos para as férias que fará com as receitas deste livro. Não ficaria de bem com a minha consciência se estivesse presente na apresentação do livro do Saraiva, que muito estimo e estimarei não só como escritor mas também como sobrinho do Prof. José Hermano Saraiva, já que o conteúdo do livro é mesmo daqueles que não interessam nem ao menino jesus e tenta expor ao ridículo figuras políticas que também estimo, umas mais do que as outras. Já enviei um sms ao Ângelo Correia e ele respondeu a dizer que me apoia. Muit’brigado.”

Assim tinha sido bonito, e escusava de dizer que era um homem de palavra, que para se ter palavra é preciso não mentir. Não mentir sobre os impostos que se promete não aumentar e que rapidamente se aumenta, sobre os défices que estão controlados e que afinal não, sobre a solidez de bancos que afinal são tipo gelatina a desfazer-se na goela, e p’ia fora, como se diz em Massamá.

E depois é um tipo de fé, ou de fezadas, vá. Tanto aceitou apresentar livros sem saber o seu conteúdo como aceitou pôr em prática medidas que nem deve ter lido. É pelo menos um homem amigo do seu amigo, e isso tem o seu valor.

Mas se calhar não gosta mesmo é de ler e ponho aqui as mãos no fogo em como não leu o Orçamento do Estado para 2016 nem lerá o documento para 2017. Será que é por isso que o PSD nem se deu ao trabalho de apresentar medidas de alteração ao OE de 2016 e já anunciou que não apresentará para o de 2017? Certamente que é por isso, porque em nenhum momento se pode acredita que o façam por birra ou por falta de cultura democrática… E depois, o OE tem tantas páginas…

Bem, já vou longo. Fica o recado, se assim o quiseres aceitar, Pedro: por mim, e creio que muitos e muitas de nós, estás desobrigado de continuar a abrir boca. Até mai’logo, como se diz em Massamá.

P.S. – não comprem o livro do Saraiva, e se virem algum exemplar, deitem-lhe a mão e enfiem-no num marco do correio com destino à Nova Zelândia, pode ser que faça sucesso por lá e o queiram importar.

* Autor Convidado
André Albuquerque