Produtividade

Nacional

Não há guru da gestão, comentador de assuntos económicos ou especialista em generalidades que não apresente ciclicamente o argumento da produtividade na hora de discutir aumentos salariais no país com mais baixos rendimentos da europa ocidental. Aumentos sim, mas apenas em tese, género de difusa intenção agendada para o dia do tal santo – o de “São Nunca à tarde” – que não chega.

A recente mexida no valor do salário mínimo em ridícula quantia, que deveria encher de vergonha aqueles que subscreveram um acordo que mete os trabalhadores a pagarem boa parte do “aumento” que vigorará até final de 2015, vem colocar a nu a treta da produtividade. Recordo as palavras de Mota Soares no início de Outubro: “Qualquer aumento do salário mínimo é um aumento que está para ficar. Fundamental é ligarmos sempre actualizações futuras do salário mínimo à produtividade do país“. Pois bem, não foram precisos muitos dias para que o mesmíssimo governo viesse afirmar publicamente, em resposta “à troika”, que a subida do SMN não é assim tão significativa, e que além do mais o “salário mínimo subiu abaixo da produtividade“. Devem estar radiantes, a UGT e restantes organizações patronais. A produtividade é retórica, não é argumento real. Sobretudo num país onde produtivos são fundamentalmente os de baixo: os operários mais indiferenciados e sobretudo aqueles mais especializados, trabalhadores administrativos que não raras vezes desenvolvem trabalho muito para além do que é suposto, os técnicos superiores pagos miseravelmente, os quadros intermédios que não raras vezes transportam às costas o peso e a pressão de empresas que jamais lhes reconhecerão méritos.