Que ganhas a mais e trabalhas a menos. Que o dinheiro dos teus impostos deve ir para os bancos porque são os bancos que sabem percepcionar onde se deve investir, que isto é uma economia de mercado, pensas o quê? Que não podes ter serviços públicos, que isso de saúde, educação, cultura, é luxo para países ricos. Que tens de aceitar. Que quanto mais te ajoelhares menos custa. Que outro caminho é impossível.
Ah! e se pensas que isto acaba só porque o memorando de entendimento passa do prazo, estás muito enganado, porque “os mercados” e a troika vão continuar atentos e ninguém vai financiar o país se não se portar bem. De bolinha baixa, bem entendido.
Eis o resumo da intervenção dos cobradores do fraque que visitam a Assembleia da República a cada trimestre para avaliar o desempenho da República na aplicação da cartilha fascizante que dá pelo nome de Memorando de Entendimento. Confortavelmente, numa sala distante do povo, de onde partirão para um hotel distante do mundo, escoltados pelos polícias pagos pelos nossos impostos, os cobradores debitam orientações políticas como ordens.
Confortavelmente não eleitos por ninguém, mandam em países, como o teu. De que põem e dispõem porque, afinal de contas, os bancos é que sabem percepcionar os bons investimentos. Daí que o BCE não financie estados, que não é tolo.
Confortavelmente, estes e recostados na opulência os que neles mandam, vão assim ditando aos captores da tua democracia que façam assim ou façam assado. E os captores, alegres, vão cumprindo as ordens. Cumprem-nas porque podem vir a ser presidentes da comissão europeia, ou porque os grupos que favorecem lhes darão de mamar até ao fim dos dias, porque podem andar hoje e amanhã protegidos pelos corpos especiais da PSP e porque podem usar os carros pagos com o teu dinheiro para fugir de ti. Fazem-no porque com o teu dinheiro, se deus quiser, serão felizes para sempre.
Eles têm os milhões deles a perder. E são muitos. A cada dia que passa, só em Portugal, ganham mais de 21 milhões de euros por dia. Mas nós, os que “trabalham pouco e ganham demais” temos cada vez menos a perder, a não ser os grilhões que nos prendem.
Que eles não estejam confortáveis em Parlamento algum, em rua alguma, que eles caiam da torre em que se protegem, que os eleitos respondam pelo que fazem nas comissões de trabalhadores, nas escolas, nas associações de estudantes, perante os sindicatos, que ninguém esteja confortável até que todos sejamos felizes. Incomodemo-nos todos para os incomodar a eles.