“Quem em Portugal não confiava no Dr. Ricardo Salgado?”

Nacional

Vale o que vale, que é muito pouco, mas é revelador de como a comunicação não hesita em inventar e mentir para criar uma imagem de encomenda.

Em determinado momento da reunião da Comissão de Inquérito do BES de ontem à tarde, com José Manuel Espírito Santo, o Deputado do PSD Carlos Abreu Amorim pergunta-lhe se está arrependido de ter confiado em Ricardo Salgado e o banqueiro responde que “(…) quem é que em Portugal não confiava no Dr. Ricardo Salgado?”.

O deputado comunista Bruno Dias levantou de imediato a mão. Rebenta uma gargalhada na sala. Eu, Miguel Tiago, sigo o Bruno e levanto também a mão. Todos os restantes deputados ficaram imóveis. O depoente diz: “Há aqui duas pessoas. São poucos. Eu também conheço alguns.”

Este é o retrato mais factual que consigo fazer de uma situação cujo valor político é muito, muito reduzido.

Mas o valor político da forma como a comunicação social descreveu o momento não é tão reduzido quanto isso porque mostra como são capazes de tudo para: a) não deixar o PCP passar por partido desempoeirado, com deputados capazes de ter uma atitude simultaneamente engraçada e denunciadora ou b) atribuir esse tipo de papel a outros, ou c) diminuir a relevância do momento.

O público diz que o banqueiro soltou uma gargalhada. O vídeo não mostra isso.
O ionline diz que “todos os deputados levantaram o braço“. No vídeo só Miguel Tiago e Bruno Dias o fazem e o banqueiro confirma que só duas pessoas o fizeram.
O jornal de negócios troca o nome de um dos comunistas por um nome parecido. Troca Miguel Tiago por Mariana Mortágua, que é um erro compreensível.
O notícias ao minuto faz sentar-se à mesa da comissão uma deputada que nem estava lá.
E há quem vá mais longe, como o económico, que apaga duas pessoas presentes e fala de uma ausente, indo muito além do que se diz ter feito Estaline no que toca a retocar fotografias.

Como digo, não me parece importante que o PCP tenha louros de coisas com tão pouco relevo. O que me parece importante, no caso, é a forma evidente como a informação sobre coisas tão simples quanto estas é manipulada, através da invenção e da mentira para alimentar a imagem que a Comunicação Social tem encomendada nesta comissão como em outras: apagar o papel do PCP e fabricar o de outros, mesmo quando não existe e tem de ser construído à base da imaginação de jornalistas e editores.