Quem poligrafar o Polígrafo, bom poligrafadigador será

Nacional

O Polígrafo continua, como sempre tem feito até aqui, a efetuar uma verificação de factos que, a meu ver, deixa muito a desejar quando comparada com outros sites internacionais com o mesmo objetivo. Primeiro, porque, não raras vezes, aposta no “clickbait”, ou seja, faz uma pergunta no título sem dar a resposta, mesmo sabendo que a maioria das pessoas não vai clicar e ler a notícia, mas antes responder-lhe de acordo com a sua convicção. Isso traria menos cliques ao Polígrafo, é certo, mas serviria o propósito que diz ter. E quando é o Polígrafo, ou o seu diretor, Fernando Esteves, que necessitam de ser poligrafados, fazemos o quê?

No passado dia 11, a revista sábado publica uma notícia com o título “Diretor do Polígrafo apanhado no caso Máfia do Sangue“. No caso, é referido que “Fernando Esteves acumulou a função de jornalista e editor de política na Sábado com uma quota numa empresa que, entre outras matérias, tinha no seu objeto social a ‘consultoria em comunicação’, uma actividade incompatível com a profissão de jornalista. A revelação consta da acusação do Ministério Público no processo “Máfia do Sangue”, na qual se adianta ainda que a empresa em causa, a ‘Alter Ego’, chegou a trabalhar para a Octapharma e para Lalanda e Castro, o principal arguido do processo. Fernando Esteves foi jornalista da SÁBADO entre 2005 e abril de 2017″.

Na sequência do sucedido, enviei uma mensagem ao Polígrafo, questionando se Fernando Esteves poderia confirmar a veracidade do que foi publicado. Se o fizesse, e em caso de confirmação, como avaliava o facto de ser jornalista e fazer assessoria à luz da lei e do código deontológico dos jornalistas.

Como resposta do Polígrafo, e após uma insistência, recebi, no dia seguinte, uma mensagem que me remetia para uma publicação, pública mas fechada a comentários, no Facebook de Fernando Esteves. Da “explicação”, chamemos-lhe assim, retive este parágrafo: “Essa empresa, de que não era gerente, teve alguma actividade inicial mas passados uns anos, com a crise, praticamente deixou de funcionar. Os sócios foram saindo – eu próprio acabei também por abandoná-la. Um deles, o meu amigo de faculdade Pedro Coelho dos Santos (actual dono da empresa), uma pessoa e um profissional de excepção, perguntou-me um dia, ainda antes de eu sair, se podia facturar as actividades privadas dele através da empresa, uma vez que lhe era benéfico em termos fiscais. Eu, que não tinha qualquer responsabilidade na organização e que basicamente só aparecia nos locais (escolas e universidades, normalmente) quando, muito raramente, havia um curso para ministrar, disse-lhe que sim, sem lhe perguntar o que quer que fosse, nomeadamente quem eram os seus clientes.Era a vida dele. Nunca soube qualquer detalhe sobre os contratos que fazia ou deixava de fazer porque simplesmente não participava da vida de uma empresa que nem instalações possuía (a sede era, e julgo qua ainda é, a morada do Pedro Coelho do Santos). Escusado será dizer que nunca ganhei um tostão relacionado com os clientes que ele legitimamente mantinha”.

Como é evidente, sendo que Fernando Esteves era um dos sócios da empresa, se se desligou informalmente ou não, pouco importa. Os factos, que o Polígrafo não quis, até agora, verificar, são que, como jornalista, Fernando Esteves continuou sócio de uma empresa que fez assessoria. E isso é ilegal. Hoje, continuo à espera que o Polígrafo responda se vai verificar e confirmar a notícia, como é devido a um site de verificação de factos, ainda mais quando o visado numa notícia é o seu diretor, acusado de ter cometido uma ilegalidade. Esperarei por segunda-feira, para verificar se o Polígrafo está a guardar-se para o programa que tem na SIC. Até lá, continuamos à espera da investigação do Polígrafo relativa aos Panama Papers e à lista de jornalistas avençados do BES. Mas sentados.