Rogeiro, o especialista

Nacional

Nuno Rogeiro apareceu no espaço público no começo das década de 90 do século passado, como especialista em coisas, nomeadamente, várias. Ao longo dos anos, foi passando por vários Órgãos de Comunicação Social, vendendo as suas análises sempre sábias e assertivas, com mais certezas que dúvidas, o que não deixa de ser curioso para quem se debruça sobre Relações Internacionais. Rogeiro tem hoje, com José Milhazes, um programa na SIC, onde debita tantas mentiras e manipulações que há um utilizador, no Twitter, que tem uma thread – uma cadeia de tweets – com mais de 200 desmentidos. Trata-se de Luís Galrão e é verificador de factos, cujo trabalho é de acompanhamento obrigatório, não só sobre este assunto como muitos outros.

O prodígio

Rogeiro foi uma espécie de Sebastião Bugalho dos anos 90. Chegou aos media por ser um jovem brilhante, como todos os que beneficiam da meritocracia hereditária. O facto de o seu pai, Clemente Rogeiro, ter sido Diretor Geral de Informação da Emissora Nacional, entre 1968 e 1973, sob o fascismo, nada tem, com certeza, a ver com a presença do jovem prodígio naquele que era, nos anos 90, um dos dois canais que existia no país. Clemente Rogeiro viria a ser nomeado ministro da Saúde em 1973, numa curta carreira que terminou precocemente, quando se deu o 25 de Abril, no ano seguinte.

Amigos para a vida

Nuno Rogeiro fez o seu caminho passando por vários jornais, de onde se destaca O Diabo, semanário desde sempre com ligações à extrema-direita, onde foi diretor-adjunto até 1994. Terá sido no jornal O Século que se cruzou, profissionalmente, com Jaime Nogueira Pinto, conhecido saudosista de Salazar e admirador dos neofascismos; este era diretor, Rogeiro era jornalista. Não espanta este caminho, a que não será alheia a ascendência. Rogeiro e Nogueira Pinto foram ainda cofundadores da revista Futuro Presente, com José Miguel Júdice, outro ativo da extrema-direita que hoje tem direito a programa de comentário na SIC. Mais tarde, a parceria avançou para a direção, em conjunto, do Instituto Euro-Atlântico.

A SIC e a estrela Rogeiro

Depois de muitos anos com a RTP, Bugalho, perdão, Rogeiro, chegou à SIC e teve o seu programa chamado Sociedade das Nações, entre 2003 e 2015. Voltou à ribalta com a invasão russa da Ucrânia mas tinha já outro programa, chamado Leste Oeste, em que espalha informação truncada, descontextualizada e falsa, não raras a vezes a cobro de supostas fontes que não são mais do que imagens retiradas da internet e de canais de mensagens, como o telegram. Vamos a alguns exemplos deliciosos: a 25 de junho de 2021, Nuno Rogeiro avançava com a imagem de uma militar azeri, membro das forças especiais do Azerbaijão, muito bem maquilhada. Só que a mulher na imagem é a cantora Ceyhun Zeynalov e integrou um vídeo promocional da guarda fronteiriça daquele país. Seguem-se imagens do Irão que são na Palestina, plágios de gráficos, imagens e fontes exclusivas acessíveis a qualquer um, desde que saiba procurá-las.

Carnaxide em roda livre

Não é compreensível que Nuno Rogeiro continue a debitar disparates atrás de disparates, diariamente, num canal de televisão com responsabilidade naquilo que transmite aos seus telespectadores. É mais do que sabido que a maioria dos jornalistas usa o Twitter para aceder a informações em tempo real. Os responsáveis editoriais da SIC e da SIC Notícias conhecem todos estes desmentidos. No entanto, com o começo da guerra na Ucrânia, o que aconteceu foi a promoção de Rogeiro a espaço de destaque na noite informativa, juntamente com Milhazes. Temos, portanto, dois anticomunistas, contadores de histórias que vão difundindo as teorias mais descabidas sem contraditório, como costuma acontecer em espaços de comentário. A SIC entrou numa espiral anticomunista já durante a pandemia, e talvez estas escolhas não sejam inocentes, particularmente depois de a ERC dar razão ao PCP numa queixa apresentada pela manipulação ocorrida durante o comício do Centenário. Esta postura da SIC agradará, certamente, ao dono Pinto Balsemão, mas é trágica para o jornalismo. Não falta, no entanto, quem muito em breve comece a perguntar-se “como chegámos aqui”.

7 Comments

  • Carlos

    2 Agosto, 2023 às

    Nuno Rogeiro e José Milhazes, que falta de nível lá para os lados do Balsemão!…

  • jh

    2 Agosto, 2023 às

    milhazes e rogeiro são apenas mais dois dos muitos sabujos ao serviço do status quo. Os conceitos de mentira ou verdade nem sequer são tidos em consideração. Limitam-se a vomitar a narrativa que os ministérios da verdade preparam a cada dia. Não passam de caixas de ressonância duma comunicação social podre e amoral, totalmente ao serviço do sistema, e assim ganham o pãozinho de cada dia. Nada demais, para seres sem pingo de ética ou moral, para quem vomitar diariamente mentiras e enganar o público faz parte da “profissão”. Mas, acima de tudo, há que culpar um público cada vez mais acrítico e acéfalo, que engole sem qualquer hesitação as maiores barbaridades, imbecilidades e absurdos, sem o mínimo esforço para analisar e ponderar sobre o que ouvem, e menos ainda pesquisar sobre a realidade que os rodeia. Infelizmente, cada sociedade tem os políticos e comunicação social que alimenta, e que assim os merece. E infelizmente, por esses pagam os que ainda vão utilizando os neurónios.

  • Vítor costa

    19 Julho, 2023 às

    Um comunista primário a comentário sobre os comentadores da SIC. Este autor preferia, tal como o PCP, a defesa de Putin e dos seus correligionários

    • Ricardo M Santos

      25 Julho, 2023 às

      Calma, Vítor. Agora lê o texto.

    • Fernando Graca

      29 Julho, 2023 às

      Fogo, o ódio está tão entranhado que
      as resposta é do género tique, calma Costa, convém ouvir todas opiniões, senão tornas-te uma alface do Lidl

  • Joaquim Santos

    19 Julho, 2023 às

    Estão a falar da SIC, nem uma letra repetida com RTP. Será que o Manuel Ferreira Fernandes entregou IRS no ano pasado?

  • Manuel Ferreira Fernandes

    19 Julho, 2023 às

    Só Mercenários como comentadores da RTP. E os portugueses que paguem e alimentem esta escória de mercenários e fascistas.

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